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5.8.12

FMM Sines 2012 – Dia 7: Sábado, 28 de Julho

De onde vem esta música? De Júpiter?

Jupiter & The Okwess International, por Mário Pires

Orquestra Todos

O último dia de Sines começou no castelo com o concerto da Orquestra Todos. Uma multidão em palco munida de instrumentos bem bizarros, que pareceram surpreender até o mais experienciado festivaleiro de Sines. Foi com um som mestiço que se inaugurou o última dia de festival. A Orquestra Todos é um projecto financiado pela Câmara Municipal de Lisboa e pela Fundação Calouste Gulbenkian que surgiu em 2011, baseando-se numa outra orquestra fundada em Itália em 2002 no bairro romano de Esquilino (habitado essencialmente por imigrantes) de seu nome "Orchestra di Piazza Vittorio". Pretende, acima de tudo, uma integração dentro da comunidade, mas vai muito para alem desse carácter social. Em Sines mostraram que musicalmente são também muito valiosos. É uma fusão surpreendente dos patrimónios musicais de várias culturas, pelo que num momento estamos a ouvir o solo desenfreado de um trompete vindo de Leste e no seguinte surge uma Sanfona, uma sítara ou mesmo - pasme-se o leitor - uma caixa de percussão inédita movimentada por uma roldana (qual caixinha de música em tamanho real). Foi um concerto ajustado para um final de tarde muito agradável e que, embora tenha sido disfrutado maioritariamente por um público sentado na caruma da plateia, teve momentos altos que obrigaram a levantar o traseiro e dançar.

Socalled

Antes de ouvir Hugh Masekela - provavelmente o homem mais aguardado da noite - foi altura de rumar ao Pontal para ouvir SOCALLED, músico que vinha rotulado como "uma das aves mais raras, e por isso mais preciosas deste FMM". Senhor dos mil ofícios, ele é "Mestre de Cerimónias", pianista, mágico, DJ, entertainer, ventríloquo (!) e cantor, tendo provado todas estas artes em palco. A sua música tem claramente base no Hip-hop, com recurso a samples um pouco diferentes do habitual, pois utiliza musica tradicional judaica como o Klezmer ou ainda excertos de uma qualquer fanfarra de Leste. É um mundo neo-hebreu-urbano este que SOCALLED constroi com a sua música. Surpreende e diverte a plateia, chegando ao ponto de pedir aos "frustrated rappers" da audiência que fossem mostrar a sua arte. Para espanto de todos houve mesmo alguém que arriscou, munido de garrafão de vinho numa mão e copo na outra e foi o delírio da multidão pela forma confiante como - de braços abertos e com uma espécie de lenço/capa de super-herói pelas costas - pegou na pandeireta e ensaiou alguns ritmos, com SOCALLED em êxtase trocando rimas com o novo membro, enquanto bebericava, a espaços, a vinhaça portuguesa. Já sem o seu "frustrated rapper", ainda houve tempo para ouvir alguns temas de grande groove em que se destacou o saxofonista da banda. Já a encerrar o concerto,houve tempo para um pequeno espaço de magia ... uma folha de jornal passou de despedaçada a inteira em alguns minutos, mesmo nas barbas do público que, certamente, rumou ao castelo de sorriso na cara.

Hugh Masekela

Homem mais aguardado da noite, Masekela entrou já com a banda a debitar um jazz com sabor africano, cedendo a sua voz ao trompete e arrancando um solo que deixou os mais desprevenidos em riste. O trompete não tem segredos para Masekela. Impondo as melodias e o ritmo avassalador da música africana, foi grande na hora de cantar, dançar, disparatar com o público (algo bruto quando mandou calar alguns membros das filas dianteiras ou quando ordenou à fila da frente que não mandasse o fumo para o palco), gritar palavras de ordem contra a alienação do mundo moderno com a tecnologia ("..write this in your ipads!") e elogiar a plateia, que dançava e cantava sem parar em resposta às suas frases em língua Afrikaans ("are you sure you are not from Soweto?"). Foi uma festa imensa. Tocou os seus temas mais míticos como "Grazing in the grass", "Stimela/Coal Train" (com uma introdução feroz em defesa dos emigrantes, já habitual noutros concertos mas que ao vivo impressiona realmente quando vai buscar todas as suas forças para gritar o refrão a plenos pulmões) e - já no encore - "Bring Him Back Home" provavelmente a canção que mais pessoas conheciam. É incrível a frescura dos seus 73 anos, a sua imensa consciência política e o seu poder musical. Juntou o Jazz, o Funk, a música tradicional africana e mesmo o Afrobeat, homenageando Fela Kuti com uma versão estonteante do clássico "Lady". É um dos símbolos da África do Sul, tendo sido um privilégio para todos sentir a aura desta figura incontornável da música africana e, porque não, do século XX.

Tony Allen's "Black Series" feat. Amp Fiddler

Tony Allen, inventor do Afrobeat, homem de enorme peso no panorama da música africana e, por extensão, da mundial, é capaz de criar as expectativas mais altas em qualquer fã. A figura de Tony Allen, que ecoa na identidade da proposta que apresentou em Sines e que tinha tudo para ser, pelo menos do ponto de vista teórico, uma das mais interessantes de todo o festival, fez-nos pensar intensamente sobre o diálogo entre duas grandes escolas musicais - a de Detroit e a de Lagos. Se a escola de Lagos estava representada por Tony Allen e por alguns dos seus músicos, seria o multi-facetado e importantíssimo teclista, Amp Fiddler, a representar a escola de Detroit e a trazer uma nova alma ao projecto "Black Series". A secção de metais que os acompanharia chegaria de bem perto: da escola de artes de Sines. A dinâmica entre os músicos começou bem suave e por assim continuou durante quase todo o concerto. Teimavámos (talvez por defeito de fabrico) em antecipar momentos explosivos que jamais chegariam. As músicas sucediam-se e Tony Allen, já de idade avançada (há homens que não deviam envelhecer...), limitava-se a gerir o esforço para assegurar a continuidade dos acompanhamentos que, apesar de geniais a espaços, não passavam disso mesmo. A dinâmica era de acalmia e de controle. Que diferente está Tony Allen! Não parece o mesmo que vimos em dois grandes concertos, num passado recente: no Festival de Músicas do Mar na Póvoa do Varzim e no mítico concerto com Seun Kuti, em Sines. A vida é isto mesmo. É feita de ciclos e de renovações. Que venha o próximo (felizmente, há muitos pretendentes ao trono...).

Jupiter & Okwess International

A República Democrática do Congo é um dos países mais ricos de África. Muito para além das riquezas naturais está a riqueza cultural de um dos países que mais projectou a música africana no panorama internacional, nomeadamente nos anos sessenta e setenta, quando apareceram, na antiga república belga, alguns dos melhores músicos africanos de sempre. A essa geração de ouro, que nunca lerá esta crónica, temos a obrigação de dizer que a música congolesa continua em excelentes mãos. Jupiter e os seus músicos são a prova viva disso mesmo. Que grande concerto! Um dos melhores da XIV edição do FMM! A energia contangiante do rock e do soukous que emanava das guitarras, da linha de baixo e da percussão contagiou as várias gerações e até mesmo aquele público que não viu e ouviu o concerto (permitam-nos um pequeno devaneio). Todos se renderam, não só a Jupiter, mas também aos grandes músicos que o rodeavam (não nos sai da cabeça o baixista que, para além de um quase absoluto domínio do instrumento, tinha uma excelente voz). Cenicamente exemplar, articulado de forma perfeita com o tempo de entrada do fogo de artifício, resta-nos vergar perante este concerto. Um final de castelo perfeito! Perfeito!

Lirinha

Lirinha é muito mais do que um músico. É um excelente conversador e declamador, que tivémos a sorte de ouvir, à conversa, no Centro de Artes de Sines. O que disse ao público foi uma lição de história da música (e não só) do estado de Pernambuco e da música brasileira em geral. Foi com todas as antenas (e mais algumas) que absorvemos a sua sabedoria. Embalados por essa conversa, chegámos ao concerto com as expectativas em alta. Comprova-se a sábia teoria de que é mais fácil gostar do que sabemos contextualizar. O concerto, de base poética quase exemplar - perde qualidade quando se afasta das origens tradicionais pernambucas e se aproxima da decadência urbana -, roçou a genialidade, mas, estranhamente, também a banalidade. O que marcou essa oscilação foi a forma como a guitarra e o sintetizador eram usados: incríveis na abordagem circular e fracos quando se tratava de experimentar. A performance de Lirinha, adequadadíssima ao tipo de público e à hora avançada do concerto, marcou pontos. O ex-vocalista de Cordel do Fogo Encantado sabe conquistar o público e atacar um palco. Pena que tivesse havido tantas variações ...

Texto de José Bernardo Monteiro e José Manuel Amorim

FMM Sines 2012 – Dia 6: Sexta, 27 de Julho

Do melhor ao pior na mesma noite...

Dhafer Youssef Quartet, por Mário Pires

Diabo a sete

O dia começou com uma das melhores propostas de folk portuguesa dos últimos anos. Não o dizemos por simpatia barata, nem pelos músicos serem de Coimbra. Os diabo a sete animaram o fim de tarde do castelo, recorrendo a um repertório familiar que muito ajudou a conquistar o público. O ambiente descontraído e a presença de Carlos Guerreiro, dos Gateiros de Lisboa, ajudou a servir um final (muito!) feliz. Fez-se a transição perfeita para o palco do Pontal.

Kouyate - Neerman

Ouvir um grande disco de fusão acontece mais ou menos com a mesma frequência com que se vê um raio cair duas vezes no mesmo sítio. O balafonista Lansiné Kouyaté (há muitos Kouyatés e, por isso, torna-se importante escrever o primeiro nome do Maliano) e Neerman, francês que domina as artes do vibrafone, encontraram-se, de forma brilhante - tanto em disco como ao vivo -, no melhor dueto de vibrafrone/balafon que conhecemos. Algures a meio caminho entre o jazz, o rock alternativo e a música tradicional coabitam dois músicos que se sabem ouvir e que trabalham muito bem em campos que estão fora do seu universo natural. Em palco, ainda que o timbre de cada um dos instrumentos seja semelhante, é sempre fácil dizer qual deles se destaca, porque a abordagem estilística é bem diferente. O momento da nossa chegada ao concerto foi marcado pela melhor interpretação do fim de tarde: a versão de "Requiem pour un Con", de Serge Gainsbourg. Este sólido duo merecia melhor hora e local para o concerto. O palco do Pontal soube a pouco, sobretudo se pensarmos que a noite foi muito irregular...

Dhafer Youssef Quartet

É fácil encontrar músicos que sejam melhores intérpretes de alaúde do que Dhafer Youssef. É difícil encontrar músicos que dominem tão bem o instrumento e que a isso juntem uma voz tão poderosa e que seja, ao mesmo tempo, meditativa. A somar a tudo isso não podemos esquecer a qualidade do quarteto de músicos que esteve em palco. A naturalidade da alternância entre momentos mais intimistas (em que se destacava a voz de Dhafer) e momentos mais explosivos, mostra bem a forma como o quarteto se entende nos diálogos constantes que executa. A perfeita ligação entre o jazz europeu e as raízes arábes (há muitos intérpretes árabes de grande qualidade a fazê-la...seria injusto não destacar também Anouar Brahem) deu-se, também, no palco de Sines. Sorte para os que a testemunharam...

Mari Boine

Os géneros ocidentais continuaram a marcar presença na noite do castelo. O concerto que se seguiria, continuaria a ter influências jazz, às quais se juntariam as do rock. Mari Boine, cantora Sami que trabalha a forma tradicional da música do seu povo - o yoik, que Bjork também explora - invoca o xamanismo, que dois anos depois regressa a Sines e nos faz relembrar o grande concerto de Vime. Foi essa invocação que contribuiu para a intensa ligação com o público, que pareceu surpreender até os músicos (há que destacar o pianista, que, arriscamos nós, tem formação clássica e veio até Sines fazer uma "perninha" ... a bem do povo Sami e do público do castelo).

Zita Swoon Group

A moda pegou mesmo. Há cada vez mais músicos ocidentais que vão para África, na esperança de encontrar (quais exploradores do séc. XIX), pepitas musicais. Desta vez, foi um punhado de cidadãos belgas, que copiaram alguns conterrâneos e decidiram fazer a viagem. Zita Swoon Group, liderado por Stef Camil Carlens (ex-elemento dos dEUS, que tiveram um estranho sucesso em Portugal), tentou fugir aos desígnios da pop ocidental, incorporando elementos da música da África Ocidental - mais concretamente do antigo Alto Volta. O projecto, um falhanço total em disco (alertamos, mais uma vez, que a boa fusão não nasce das árvores), foi também um dos piores momentos deste festival. Que triste fim para esta noite de castelo!

Juju

Justin Adams e Juldeh Camarah (JuJu) já tinham dado, num passado muito recente, em Sines e Loulé, grandes concertos. A noite de Sexta-feira terminou com mais um grande concerto!

Texto de José Bernardo Monteiro e José Manuel Amorim

29.7.12

FMM Sines 2012 – Dia 5: Quinta, 26 de Julho

Tango africano!

Staff Benda Bilili, por Mário Pires

Dubioza Kolektiv

É incrível perceber que ainda há, em dois mil e doze, tanto público que gosta de bandas que não têm qualquer mensagem ou  interesse musical , que se formaram para ser incluídas na prateleira "World Music" e que apenas têm pretensões "festivaleiras". A guerra e as privações podem desculpar muita coisa (não esqueçamos que a banda é Bósnia), mas a velha história da salvação através da música não desculpa tudo. Não há toque de Midas que valha a esta banda. Pobre. Muito pobre.

Astillero

Uma das banda de Buenos Aires mais quentes do novo tango novo trouxe consigo uma energia incrível, que exponenciou a tremenda emotividade associada a este género musical. A ousadia de criação de uma visão própria de tango é uma imagem de marca de Astillero. Os sons recriados são os da Buenos Aires actual. As letras frescas da voz áspera, que ao mesmo tempo puxa à lágrima, são parte fundamental de um conceito que vai muito para além da música. Um dos toques que marca a diferença é dado pelas imagens de vídeo, tanto poéticas como políticas, que são projectadas ao vivo e que ajudam a reforçar o dilúvio sonoro. O que vimos foi um tango mais ousado e experimental do que a maioria das orquestras de tango. Dado curioso : o violonista dos Astillero é fisicamente muito parecido com o violinista de Kronos Quartet. Tendo em conta a similitude do som, a coincidência ganha uma dimensão ainda maior. Os Astillero estiveram em Sines e fizeram-se notar!

Fatoumata Diawara

O Mali, riquíssimo país africano que atravessa uma profunda crise que tem sido ignorada pela comunidade internacional, lançou (mais uma!!!!) estrela no circuito "World Music". Ainda que saibamos que Fatoumata tem perfil de estrela,temos de admitir que o concerto era por nós aguardado com algumas reservas, muito por culpa da decepção que tivemos depois da audição de um dos discos que mais sensação causou no ano passado. A perfomance de Fatomauta, um misto de funk, jazz e, claro está, da música da região de Wassoulou - zona do Mali de onde é originária - foi tão eclética quanto excitante. O concerto ao vivo desmentiu tudo o que o disco nos tinha dito e provou que Fatoumata pode mesmo ter a força de outras grandes cantoras do Mali (não é demasiado dizer que a sua presença em palco se pode comparar à da sua mentora Oumou Sangaré). A tudo isso, juntou-se um intenso brilho visual - suportado pela beleza de Fatoumata e pela excelente escolha das vestes que a cobriam - e a complementariedade da guitarra eléctrica que toca (ao jeito "finger picking"), articulada com a fortíssima secção rítmica e com o baixo.

Staff Benda Bilili

Numa altura em que ainda aguardamos para ouvir o novo álbum de Staff Benda Bilili,relembramos Trés Trés Fort, um dos grandes álbuns de música africana dos últimos anos. Na música do Congo e na editora Crammed há muito mais do que a percussão minimal proeminente dos primeiros volumes da série Congotronics. Há - sobretudo - rumba congolesa, influenciada por grandes mestres dos anos setenta como Franco ou Tabu Ley Rochereau, bem mais próxima da lógica afro-cubana do que de uns Konono Nº1, a que se acrescenta a invenção de um incrível instrumento artesanal formado a partir de uma lata de leite, onde foi anexada uma corda e de onde saem sons genialmente vibrantes. Ao vivo, o concerto foi, tal como em 2010, arrebatador. Podia temer-se que, depois da passagem dos congoleses pelo palco do Castelo em 2010, se esgotassem alguns dos principais trunfos e que o concerto pudesse ser menos interessante. A grande verdade é que foi muito consistente do princípio ao fim e teve muita energia e muita festa em palco. Para quem julga que é o factor pena que provoca a aclamação unânime da crítica deste projecto de Kinshasa, fica a resposta através de um cliché: “Todos diferentes, Todos iguais”. Os Staff Benda Bilili são musicalmente brilhantes e voltaram a prová-lo num dos grandes concerto do festival.

Texto:José Bernardo Monteiro e José Amorim

FMM Sines 2012 - Dia 3: Sábado, 21 de Julho

"Magia banjoístico-guitarrístico-vocal"!

Oumou Sangaré, por Mário Pires


Dead Combo feat  Marc Ribot

As expectativas para o concerto de Dead Combo, em mais um fim de tarde soalheiro de Sines, eram altas. Abertas as portas do castelo, uma autêntica multidão encheu a plateia, dividindo-se entre quem vinha directamente da praia e quem chegava asseadinho, todos juntos para ouvir esta parceria do grupo português com Marc Ribot, registada em disco em “Lisboa Mulata” de 2011. Fruto de uma colaboração à distância, juntaram-se fisicamente pela primeira vez para este concerto, no mínimo intenso. Tó Trips e Pedro Gonçalves começaram sozinhos mas rapidamente tiveram a companhia de um enorme Alexandre Frazão, que não deu descanso ao “apanhador de baquetas” oficial do FMM (foram  várias as vezes que as ditas cujas saíram disparadas pelo ar). O seu trabalho na bateria e percussão, feito de detalhes, faz todo o sentido neste grupo virado ultimamente para as sonoridades africanas. Marc Ribot juntou-se a este trio e tornou ainda mais rica a viagem que os Dead Combo proporcionam a cada audição da sua música. No seu último album exploraram os ritmos e melodias africanos e neste concerto trouxeram tudo isso à tona. O público agradeceu e sorridente saiu do castelo para jantar, orgulhoso destes Dead Combo que continuam em ascensão e que resultaram quase perfeitos neste FMM que estava a arrancar definitivamente para uma noite fortíssima.

Oumou Sangaré & Bela Fleck

Por volta das 22h começou aquele que foi por muitos considerado o melhor concerto do festival. Oumou Sangaré e Bela Fleck, apoiados por uma banda genial em que se destacou o baterista Will Calhoun e o baixista Alioune Wade, deram um concerto vibrante, pleno de africanismo, tal como o público de Sines bem gosta. Dona de uma voz superior, a já consagrada Oumou Sangaré - que se estreou neste festival em 2007, continua em grande forma e surpreendeu pelo seu entrosamento com Bela Fleck. Considerado o melhor banjoísta da actualidade, integrou-se perfeitamente nas melodias da banda de Sangaré, arrancando também alguns solos brilhantes de um instrumento que não estamos habituados a ouvir por estas paragens mas que, curiosamente, é oriundo de África. No final da quase hora e meia imparável de concerto, pediu-se um encore e os músicos regressaram ao palco enchendo definitivamente as medidas. Cada um teve direito ao seu solo de despedida, inclusivé a cantora suporte de Sangaré - que aí decidiu mostrar a todos os presentes o que é a dança africana em todo o seu esplendor. Brilhante!

Marc Ribot y los cubanos postizos

Se nos dissessem que, em Sines e na mesma noite, podíamos ver Marc Ribot tocar duas vezes -  ainda por cima em contextos completamente diferentes -, responderíamos que só podia ser uma brincadeira. Como a realidade ultrapassa (quase) sempre a ficção, tivémos de nos render à evidência do acontecimento. A dupla aparição deu-se num sábado mítico, numa das melhores noites de sempre da história do FMM. Marc Ribot, o homem das colaborações e dos projectos quase infinitos, o guitarrista genial  (“o Ronaldo das guitarras”, nas palavras de Tó Trips), pisou novamente o palco do Castelo, depois de por cá ter andado com outro dos seus outros projectos: The Young Philadelphians. Agora com os Cubanos Postizos, sete anos depois, voltou para arrasar! É sufocante ver a maneira como Marc Ribot toca. São tanto os pormenores de magia (é mesmo possível fazer magia com uma guitarra!), que nem há tempo suficiente para os absorver: são os tempos perfeitos das entradas, é a facilidade com que muda de ritmo, a forma como improvisa e volta ao concerto, a técnica com que toca ou as notas que nunca falha. A diáspora Cubana para os Estados Unidos, tão bem transposta para pauta por Ribot e pelos seus músicos (trabalhadores incansáveis, tocadores incríveis com formação de jazz e muitas vivência nova iorquinas), tem por base os estudos que Ribot fez sobre Arsenio Rodriguez “El Ciego Maravilloso”, o maior herói da composição cubana juntamente com Benny Moré - um daqueles seres humanos que merece um biopic épica, tal a vida intricadamente interessante que viveu (deixamos a sugestão para quem o queira fazer...). O que se ouviu no castelo foi uma coisa séria. Foi música da mais fina, curada nos melhores fumeiros “postizos” de Nova Iorque.  É música que não se esquece...

Imperial Tiger Orchestra e Hamelmal Abate

Foi por culpa da Série Ethiopiques, uma das mais míticas colecções de sempre da música africana (que incorpora vários singles e álbuns que a Amha Records, a Kaifa Records e a Philips-Etiópia editaram durante os anos sessenta e setenta na Etiópia e que destaca cantores e músicos como Alemayehu Eshete, Mahmoud Ahmed, Mulatu Astatke ou Tilahun Gessesse), que um grupo de músicos Suíços (!!!) começou a interpretar música Etíope. Para a tocar ao vivo, precisavam de alguém que desse a cara e um cunho de autenticidade à sua música. Foi assim que Hamelmal Abate, que não tem o nome dos grandes músicos dos anos setenta mas que vimos como uma excelente presença em palco, foi chamada para incorporar esse papel. É bizarro ouvir (e ver) uma cultura tão própria ser recriada por quem, à partida, parece estar nos antípodas culturais da fonte de que bebe. Conseguir deixar de lado as marcas culturais definidoras da identidade é uma tarefa difícil. Ser suíço pode efectivamente atrapalhar quando se tenta fazer música Etíope. É um facto.  É também um facto que tocar a seguir ao concerto de Marc Ribot y los Cubanos Postizos é muito ingrato. Apesar de tudo, os Suíços conseguiram dar um bom concerto, melhor sempre que foram recriadas versões de clássicos da colecção Ethiopiques. O groove, por vezes excessivo, ajudou a conquistar o público, mas prejudicou a qualidade musical. Fez-se a mudança de planos necessária para o que viria a fechar a noite: a eletrónica bizarra das 180 batidas por minutos de Shangaan Electro.   José Bernardo Monteiro e José Manuel Amorim

FMM Sines, dia 2 (20 de Julho)

Morninho, morninho!


Al Madar, por Mário Pires

A RU( chega ao FMM só no segundo dia de festival e depara-se com um castelo relativamente despido de público. É certo que a ideia do primeiro fim-de-semana não será ter o recinto a abarrotar de gente, que a ausência do palco gratuito da praia afasta muito público destes primeiros dias e que há a concorrência do Milhões de Festa, mas parece que, nas mesmas condições, a afluência era maior no ano passado.

A marca portuguesa do dia surgiu ao final da tarde (uma regra desta edição do festival), com os Osso Vaidoso, o novo projecto conjunto de Ana Deus e Alexandre Soares dos Três Tristes Tigres (TTT). Apenas com guitarra e voz, explorando o ruído das cordas e a poesia de nomes como Regina Guimarães ou valter hugo mãe, soou a concerto descontextualizado para o espaço e para um final de tarde a exigir outro calor. É tudo muito minimal e exige atenção nos detalhes e na minúcia das palavras, o que torna este som apropriado para um espaço mais pequeno e fechado. Com melhoria nos temas com guitarra acústica (com um outro balanço) e com passagens pelo repertório dos TTT, foi um concerto frio, tanto quanto o gerado pelo vento de final de tarde no litoral alentejano.

O primeiro round do cruzamento oriente-ocidente teve um resultado agradável. Al-Madar é a fusão entre o multi-instrumentista libanês Bassam Saba (desde o alaúde até à flauta transversal) e um conjunto de músicos americanos com referências cosmopolitas muito diversas, desde um jazz mais emotivo e menos técnico até um som mais abrasivo e descomprometido, como o demonstram os Secret Chiefs 3, grupo que integra dois elementos desta orquestra e que deu um concerto bem caricato no FMM 2011. Com um repertório eclético guiado pelo virtuosismo de Saba, baixo e bateria lentos e quentinhos e momentos mais ritmados a cargo do trompete, cumpriu com distinção o papel de concerto de início de noite.

Depois da calma de Al-Madar, coube aos L'Enfance Rouge o esforço de incendiar as hostes com um rock cheio de distorção, contornos noisy e pequenos resquícios étnicos orientais. Pena que não da melhor forma... não ficámos convencidos com o concerto do projecto há 3 anos em Sines ("a suposta fusão aparenta ser nesta performance dos L'Enfance Rouge um profundo acto falhado", dissemos na altura)  e a opinião manteve-se, embora de forma um pouco diferente. Os aspectos étnicos, que praticamente não identificámos em 2009, têm agora uma incidência maior por via da voz do grande músico tunisino Lotfi Bouchnak. As vocalizações são magníficas, herdeiras de um registo oriental recheado de espiritualidade, mas ampliam ainda mais o divórcio com a componente instrumental. Apetece por vezes retirar electricidade ao som de fundo ou desligar mesmo alguns instrumentos. Assim, soa a desperdício.

Seguiu-se o projecto Frigg e, com ele, uma fusão entre linguagens irlandesas, bluegrass e uma folk nórdica pouco detectável. Os músicos são simpáticos e fazem um esforço consistente para empolgar a plateia, mas, numa altura da noite já avançada, a combinação acelerada dos vários violinos e dos restantes instrumentos de cordas acaba por se tornar algo monocórdica e esmorecer algum público menos devoto a este registo. Não há nada de errado nos músicos finlandeses e ouve-se com agrado a sua música, mas falta aqui um pormenor, uma desconstrução ou um instrumento capaz de criar abalos rítmicos: seja alguma percussão, um metal ou uma gaita, que era suposto ter sido interpretada em palco, mas que não chegou a comparecer e a dar o impulso sónico que tanto se desejava.

Com uma tuba a fazer as vezes de um baixo, num ritmo quase sempre infernal alimentado por dois trompetes e um trombone seriamente afiados, Los Mezcaleros de La Sierra e Clorofila (Jorge Verdin, natural de Tijuana) trouxeram ao FMM uma mistura contagiante de música electrónica com os ritmos e melodias tradicionais do Norte do México, numa fusão recente apelidada de "Nortec". Apoiados por uma projecção de imagens e frases de contestação - por exemplo ao narcotráfico - estes mexicanos puseram o castelo de Sines a dançar freneticamente. Estava já tudo embalado pelos ritmos de Frigg (seja em que sentido for), mas foi com esta mistura que se inventaram novas danças para novos sons. Uma noite claramente em crescendo, num FMM ainda morno, mas com expectativas de aquecer bastante nos próximos dias.

Texto: João Torgal e José Amorim

23.7.12

Super Mama Djombo no B’leza

Super Mama Djombo, retirado de http://muzikifan.com

São poucas as bandas que se podem orgulhar de ter ajudado a construir um país. Os Super Mama Djombo trilharam caminhos na construção da identidade cultural da Guiné-Bissau, sem nunca terem vergado à comodidade que a pós-independência lhes podia ter oferecido como banda oficial do regime: o espírito crítico nunca abandonou as tendências da música que fazem - sobretudo depois da morte de Amílcar Cabral, que marcou o início do caos político na Guiné. Na noite quente de 19 de Julho, no B’Leza, ouviram-se os principais hinos dessa(s) luta(s).
O início da primeira parte do concerto foi morno, com uma balada introdutória que ajudou as pessoas a acomodarem-se. À medida que o tempo foi passando, soltaram-se os músicos e rejubilou o público – a energia da música foi construída à base do diálogo constante com o público. O B’leza oferece condições sonoras excepcionais, espaço suficiente para dançar e tem, ao mesmo tempo, um ambiente familiar (as relações de amizade entre os espectadores era evidente): são os velhos conhecidos que ajudaram a construir a mística de um sítio que fazia muita falta a Lisboa e que pode ajudar a que a cidade finalmente se afirme, a nível mundial, como mestiça. As quatro guitarras eram constantemente espicaçadas ao jeito soukous. O poderoso baixo, o saxofone, as congas, a bateria e o sintetizador foram-se fundindo naturalmente até formarem uma parafernália sonora à qual se juntaram dois jovens vocalistas, prova viva de que a banda é constituída por músicos de várias gerações. O Parabéns a você cantando a uma menina do público confirmou as desconfianças iniciais e mostrou-nos que estávamos mesmo em família. Os momentos altos da noite haveriam de se dividir pelas duas partes do concerto (que foi muito longo e teve intervalo para descanso): “Vicente da Silva” e “Dissan Na m’Bera”, que contou a incrível voz da maior estrela internacional da música Guineense - juntamente com Manecas Costa - Eneida Marta.
Ao vivo, a banda que ”queria mostrar ao mundo que o som mais alto que se ouve na Guiné é o da música e não dos tiros de metralhadoras”, mostrou que o projecto inicial está entregue em boas mãos e que os músicos mais novos são fieis depositários do brutal legado que carregam. O presente continua, como o passado recente em que alguns líderes decidiram que a identidade cultural dos países da África Ocidental a que presidiam passava pela formação de bandas que modernizariam repertórios da música tradicional, a fazer-nos ver que não é preciso sair do mundo lusófono para ouvir a melhor música africana. Em que é que os Super Mama Djombo ficam a dever à Rail Band ou a outros colossos da música africana do passado recente? Nada! Absolutamente nada! E a lusofonia aqui tão perto…

17.7.12

Al Madar na Galeria Zé dos Bois, Lisboa

Antes de passar por Sines, os Al Madar vão à galeria Zé dos Bois, no dia 18 de Julho às 22h. Um concerto a não perder!

“Al-Madar é a circunferência que une a música árabe à vivência cultural nova-iorquina. Um projeto da New York Arabic Orchestra, liderado por Bassam Saba.Mesmo depois do 11 de Setembro, a New York Arabic Orchestra, uma orquestra árabe em Nova Iorque, não é um oximoro, é uma alegoria da sanidade multicultural que é a força desta grande metrópole. A orquestra é dirigida pelo libanês Bassam Saba, multi-instrumentista virtuoso (no oud, no nay, no saz, na flauta ocidental e no violino) e um dos mais respeitados professores das músicas árabes. Na ZDB, tê-lo-emos com o ensemble Al-Madar (“circunferência” em árabe”), formado no seio da orquestra. Acompanham-no quatro músicos: dois deles, April Centrone (bateria e percussões) e Timba Harris (violino e trompete), estiveram no Aquário em 2011 com os Secret Chiefs 3 e Master Musicians of Bukkake, e os outros dois são Gyan Riley (guitarras) e Brian Holtz (baixo elétrico). Trazem-nos música árabe fundada em 3 mil anos de tradição mas moldada pela experiência rítmica nova-iorquina (funk, soul, rock, afro-latinidade). No plano de viagem há um mapa – o disco “Wonderful Land” (2010), de Saba – mas espaço à aventura, através da arte árabe do improviso, o “taqsim”, e da liberdade de músicos que falam todas as línguas.” FMM Sines

Entrada: 8 € | Bilhetes em venda antecipada nas lojas de discos Matéria Prima e Flur e na bilheteira da ZDB de quarta a sexta das 18h às 23h, sábados das 15h às 23h.

15.7.12

14.07.2012


Entre novidades e clássicos, assim se fez a última emissão do Artesanato Sonoro da Grelha Regular da RUC...



1 - Bola - ITAL´s Bola Megamix - Bola Remixes (ATFA003)
2 - Tito Puente - Tito on Timbales - Puente in Percussion
3 - Juaneco Y Su Combo - Ya Se Ha Muerto Mi Abuelo - Ya Se Ha Muerto Mi Abuelo
4 - Los Miticos Del Ritmo - La Libanesa - Los Miticos del Ritmo




5 - Curramberos De Gamero - Destápame La Botella - Jende Ri Palenge
6 - Son Palenque - Tungalala (El Sapo) - Palenque Palenque: Champeta Criolla & Afro Roots in Colombia 1975-91
7 -  Tidiane Kone & Orchestre Poly Rythmo - Djanfa Magni - African Scream Contest : Raw & Psychedelic Afro Sounds from Bénin & Togo 70s
8 - The Funkees - Breakthrough - The World Ends: Afro Rock & Psychedelia In 1970s Nigeria
9 - Cacique 97 - Come from Nigeria - Cacique 97
10 - Mamukueno - Rei do Palhetinho - Angola Soundtrack – The Unique Sound of Luanda 1968-1976 




11 - Batida - Tirei o Chapéu feat. Ikonoklasta - Batida
12 - Throes + The Shine - Batida - Rockuduro


Podcast

4.7.12

IX Edição do festival MED Loulé : Este festival (também) é para velhos…


Loulé encheu a casa durante a nona edição do MED. A beleza da cidade e do recinto onde se realiza o festival merece, por si só, que a ele nos desloquemos. Se se acrescentar a isso bastante variedade musical, um grande número de palcos e diversidade de oferta (não é apenas de música que trata o festival), estamos perante um produto bem pensado e concretizado. Infelizmente, por culpa da crise, a janela espaço-tempo foi bem mais curta : apenas dois dias. Há que louvar a inteligência da organização que decidiu cortar na duração, mas não na qualidade...

1º dia - 29 de Junho - música ousada.

Que relação possível existe entre bandas como os PAUS e Throes + The Shine e as “músicas do mundo”? A resposta é simples: a percussão explosiva, que atravessa a música africana e a que foi levada para outras partes do mundo pelos escravos (sobretudo as tribos Yoruba) que dali saíram e que é também comum às duas bandas portuguesas. Esperemos que a força das batidas contagiantes de PAUS (21:45, Palco Cerca) e, mais tarde (23:30, Palco Castelo), do “Rockuduro” dos Throes + The Shine tenha apenas sido um aperitivo para o público jovem que tão ferozmente acorreu aos dois palcos. Seria a prova que o Festival MED teria aberto horizontes musicais …

Cheikh Lô (22:45, Palco da Matriz) regressou a Portugal para um concerto em tudo parecido com o que deu na edição do ano passado do FMM de Sines. Quando dava a entender que o concerto ia seguir uma faceta mais animada e festiva, aparentemente mais adequada à música que habitualmente toca, seguiam-se longas quebras rítmicas! Quase parecia propositado para adormecer as crianças que por ali andavam ao colo dos pais. A força da mistura das referências musicais que fazem parte da sua música parece anular-se ao vivo, talvez porque se espere sempre por algo que não chega. Por mais que tente, ainda não consegui perceber qual é a noção de espectáculo do senegalês…

A Curva da Cintura, projecto musical saído da cabeça de Arnaldo Antunes (ex-tribalistas) e Edgar Scandurra (ex-Ira!), faria a sua estreia mundial no palco da Cerca do MED, às 00:00. Toumani Diabaté, uns dos maiores músicos africanos vivos, que tanto fez pela kora, aceitou (não sei em que condições…) participar num projecto que tem tanto de inesperado como de pouco trabalhado. A genialidade do mestre maliano atenua um pouco a ideia que transparece em disco e que se confirma ao vivo: não há uma linguagem base minimamente comum que permita que a fusão possa fluir. Os músicos envolvidos no projecto têm duas hipóteses: ou criam essa linguagem (o que ainda não aconteceu, talvez porque o projecto tenha pouco tempo de vida), ou partem para a escolha de novas bases musicais que lhes permita comunicar de forma mais fluida. Em palco, houve duelos constantes entre a faceta rock de pai e filho Scandurra (pai na guitarra modelada, filho no baixo) e de pai e filho Diabaté (os dois na kora, sendo que Toumani interpreta um repertório mais tradicional e Sidiki - herdou o nome do avô-, um repertório mais moderno). A voz de Arnalado Antunes - grave, límpida, com grande alcance - nada acrescenta à base musical, independentemente do momento: quer esteja a tender mais para o lado brasileiro ou mais para o africano. A percussão da poderosa baterista lá ia equilibrando as tendências. Era ela a única capaz de jogar dos dois lados do campo: ora em oscilações rock, ora em acalmias de base africana. Este bolo musical ainda não está pronto para ser deglutido … o quilo ainda não é quimo. Alguma vez será? Só o tempo poderá dizer…


Boubacar Traoré, retirado de calabash.typepad.com

2º dia - 30 de Junho - música sólida.

A noite iniciou-se com o experimentalismo folk da música de Norberto Lobo (21:30, Palco do Castelo). O músico português, que teve a aceitação global dos críticos portugueses de A a Z, não sabe fazer nada mal. Enquanto Norberto tocava, subia a palco “A Caruma” (21:45, Palco Cerca), (mais) uma daquelas bandas portuguesas formada para ser especificamente colocada na prateleira “world music”. Apesar de competentes no que fazem (sobretudo ao vivo), a amálgama final soa a uma falsidade pop-étnico-qualquer coisa. A escolha de You can’t Win Charlie Brown (Palco Castelo, 23:30) para um festival de matriz “Músicas do Mundo” é dúbia. Mas podemos sempre pensar que é a bem da variedade…

Para os amantes do reggae, há poucas formas melhores de celebrar os cinquenta anos de independência da Jamaica do que juntar grandes músicos da pequena ilha das caraíbas e pô-los a navegar, pelo mundo, ao sabor do vento da filosofia Rastafari: Ernest Ranglin – genial guitarrista -, Sly e Robbie – lendários músicos e produtores/duo dinâmico do baixo e bateria - e Tyrone Downie - virtuoso pianista e teclista de tantas bandas importantes do género- foram os primeiros (mas não os únicos) a provar que a experiência pode ser uma arma mais poderosa do que dez toneladas de sangue na guelra. Será que foi Jah (Deus), que desceu dos céus e ofereceu a calma, segurança e tranquilidade rítmica ao concerto? Os mais espirituais dirão que é possível que sim… os mais terrenos, que a experiência e avançada idade dos músicos fez a diferença. Afinal, são os homens que fazem a música.

Foi muito engraçado perceber que dois concertos tão diferentes: o de Jamaican Legends e o de Boubacar Traoré, podem ter pontes comuns. A mais óbvia e que aqui interessa construir é a da experiência. Foi um grande prazer poder ouvir - noutras ocasiões tínhamos falhado os concertos do músico que é considerado, erradamente, como o maior bluesman vivo doMali (é muito mais do que isso!) - Boubacar Traoré, quer pelo peso histórico (Boubacar foi um importante escritor de canções que, depois de um período de reconhecimento na luta pela independência do Mali caiu no esquecimento e voltou à ribalta nos anos noventa), quer pela qualidade da música, que vai muito para além do blues: é impossível ouvi-lo e não beber goladas da água da vida da música da África Ocidental. O concerto de Boubacar foi o momento mais alto de todo o festival: pela coerência e qualidade da música, pela atmosfesta de intimidade (é mesmo possível fazer uma festa em intimidade, num palco…) e pelas constantes travessias entre o delta do Missisipi e o delta do Níger. Foram os arranjos que asseguraram a estabilidade das viagens! Vida longa ao senhor da harmónica, que levou o barco em segurança para os Estados Unidos e ao jovem do tambor que o devolveu, tranquilamente, ao Mali.

Parabéns!

José Bernardo Monteiro

7.5.12

Emissão de 5 de Maio



A primeira parte do programa foi totalmente dedicada ao concerto "Le Mystère des voix Bulgares" que se realizou no dia 28 de Abril no grande auditório do Centro Cultural de Belém. Destaque musical para os quatro volumes (com o mesmo nome do coro que substituiu o antigo coro da Rádio e Televisão Búlgara) e que foram editados pela 4AD : "Le Mystère des voix Bulgares". A segunda parte do programa teve José Afonso como protagonista, a propósito da reedição dos seus dois primeiros álbuns na Orfeu : "Cantares do Andarilho" e "Contos Velhos, Rumos Novos". A emissão pode ser ouvida em http://artesanatosonoro.podomatic.com/.

30.4.12

Crítica ao concerto "Le mystère des voix Bulgares", no CCB a 28 de Abril

Vestidas com fatos tradicionais de uma grande beleza, elemento visual essencial que marca a função das mulheres no coro, as vinte e três coristas actuaram em frente à cortina de palco, bem junto do público. Começaram por cantar sozinhas, sem a ajuda da maestrina Dora Hristova, que apenas apareceu na segunda composição. De tão exigente, a técnica vocal obrigou algumas cantoras a abandonar o palco (por culpa da tosse). Com a terceira composição chegou a primeira mudança de disposição em palco - o semi-círculo perfeito transformou-se num pequeno círculo com elementos no centro do palco: as solistas. Assistiu-se, ao longo de todo o concerto, a trocas constantes de elementos em palco, o que trouxe grande dinamismo ao espetáculo (quer no número de solistas, quer no tipo de técnicas utilizadas). A quarta composição foi supreendente: não esperávamos ver as vinte e três mulheres sair de palco e ser substituídas por dois homens. Um dos grande momentos da noite pertenceu a duas irmãs gémea, que fizeram um solo empolgante para o auditório. A grande interpretação da noite, “Pilentze pee”, parecia ter fechado o espectáculo, mas deu apenas o mote para o que foi uma mistura de todas as técnicas de canto ouvidas durante o concerto. A enorme beleza dos arranjos suaves, delicados e transparentes (que tão bem fazem a ponte entre tradição e modernidade) fechou-se num grande êxtase de virtuosismo. Vida longa às intérpretes e aos grandes composítores búlgaros!

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25.4.12

"Le mystère des voix bulgares" : 28 e 29 de Abril no grande auditório do CCB

Os sons dissonantes das tradições vocais búlgaras, agrupados por tons e decorados por gritos, vibratos e glissandos fazem parte de eventos sociais ,os sedyanki, nos quais as mulheres solteiras se juntam para coser, bordar, falar sobre a vida da comunidade e sobre os noivos. A técnica usada, apesar de muito prejudicial para as cordas vocais das mulheres, é uma das maiores maravilhas do canto mundial. As composições e os arranjos corais, complexos e sofisticados - sobretudo os solos altamente ornamentados - nasceram por causa da falta de contacto que a Bulgária teve com o resto da Europa, o que fez com que a técnica vocal (agora própria), em tempos dispersa pela Europa, se tivesse apenas aí fixado. O repertório Ocidental, que mais tarde se juntou aos elementos históricos da liturgia Bizantina (no século XX depois da queda do império Otomano), deu origem ao que mais tarde seria uma das grandes descobertas do circuito de “World Music”. A transformação do sagrado em pop, essencial para a difusão em massa, tornou possível apreciar a arte que o CCB irá receber nos dias 28 e 29 de Abril (incluído no festival Dias da Música, este ano dedicado à voz humana): “Le Mystère des Voix Bulgares”. As recolhas de Marcel Cellier, suíço que viveu quinze anos na Bulgária, chegaram às mãos de Ivo Watts Russell (co-fundador da 4AD, editora pouco dada a estas sonoridades), que as lançou em quatro volumes (com o título Le Mystère des Voix Bulgares), depois de com elas ter tido contacto através de uma cassete que Peter Murphy lhe emprestou, deram a conhecer as vozes das solistas Nadka Karadzhova, Yanka Rupkina e Konya Stojanova - e muitas outras - que aguardamos ansiosamente para ver...

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7.1.12

7 de Janeiro de 2012


Kalanga-Torgal-Monteiro reúnem-se em estúdio para celebrar um dos seus que, sempre seguidor dos bons conselhos do nosso primeiro-ministro, vai partir para a emigração no Burkina-Faso. Uma hora de nostalgia dos velhos tempos.

- Les Aiglons de Basse Terre - Chambo meringue - Tumbélé!
- Makina del Karibe - Radio Gozambike - Afritanga The Sound of AfroColombia
- Lito Barrientos - Cumbia en do menor - Afro Tropical Soundz
- Susana Baca - De tras de la puerta - Afrodiaspora
- Chavela Vargas - Paloma negra - Frida OST
- Tété Alhinho - Desabafo - Andante
- Mário Lúcio & Cesária Évora - Mar azul - Kreol
- Cesária Évora - Petit pays - Petit Pays
- Vieux Farka Touré - Aigna - The Secret
- Antoine Dougbé - Honton soukpo gnon - Legends of Benin
- Maitre Gazonga - Les jaloux sabouteurs

Podcast

12.11.11

emissão de 12 de Novembro de 2011

Uma hora viajando pela Turquia, Gana, Magrebe, Serra Leoa, Nigéria, Colômbia, Chade e Quénia. Destaque para a compilação AfriTanga: The Sound of AfroColombia, testemunho dos cruzamentos afro-caribenhos sofisticados, clássicos ou simplesmente delirantes que vão saindo actualmente das ruas de Bogotá e alhures.

- Okay Temiz - Dokuz sekiz - Turkish Freakout Psych-Folk Singles 1969-1980
- Justin Adams & Juldeh Camarah - Kele kele - The Afrobilly Sessions
- Tinariwen - Walla illa - Tassili
- Geraldo Pino - Heavy heavy heavy - Heavy Heavy Heavy
- Seun Kuti - African soldier - From Africa with Fury: Rise

--- Destaque a Afritanga The Sound of AfroColombia ---
- Quantic Presents the Flowering Inferno - Cumbia sobre el mar
- Grupo Bahia - Te vengo a cantar
- Makina del Karibe - Radio gozambike



- Maitre Gazonga - Les jaloux sabouteurs - Les Jaloux Sabouteurs
- Sven Kacirek - Dear Anastasia - The Kenya Sessions

Podcast

29.10.11

Emissão de 29 de Outubro de 2011

Começamos a nossa viagem na Indonésia , passamos pelas garagens de São Paulo para escutar as Mercenárias e terminamos nas ruas de Brooklyn com as ESG

1- Dara Puspita - See My Little Sister - Dara Puspita 1966-1968
2- Dara Puspita - Pinnochio - Dara Puspita 1966-1968
3- Ros Sereysothea - I Will Starve Myself to Death - Collection Volume II
4- Ros Sereysothea - Jum Brum Kia Theit - Collection Volume II
5- Thai Thanh - Bung Sáng (Dawn) - Saigon Rock & Soul - Vietnamese Classic Tracks 1968-1974
6- Mai Lê Huyen - Duyên Phân Con Gái (A Girl´s Destiny) - Saigon Rock & Soul - Vietnamese Classic Tracks 1968-1974
7- Buppah Saichol - Roob Lor Thom (There are Many Handsome Men Out There) - Thai Pop Spectacular 1960s-1980s
8- Linda Yong and the Silvertones - Happy Lunar New Year - Singapore A Go Go

9- Sodsri Rungsang - Uay Porn Tahan Chaydan - The Sound of Siam - Leftfield Luk Thung, Jazz & Molam from Thailand 1964-75
10- Waldjinah - Walang Kekek - Krocong - Kroncong: Early Indonesian Pop Music Vol. 1
11- Selda - Ince Ince Bir Kar Yagar - Love, Peace & Poetry: Turkish Psychedelic Music
12- Selda - Bundan Sonratma Bizi - Love, Peace & Poetry: Turkish Psychedelic Music
13- Aguaturbia - Carmesi Y Trébol - Aguaturbia
14- As Mercenária - Pânico - Cadê as armas?
15- ESG - Moody (Spaced Out) - Come Away With ESG


Miguel Marques

Nova grelha, vida nova

Para a nova grelha 2011/2012, Artesanato Sonoro regressa ao ar com equipa renovada.
A trazer-vos a melhor música do mundo para a nova temporada, as vozes de Diogo Carneiro, Guilherme Queiroz e Miguel Marques juntam-se à já estabelecida equipa de João Torgal, Emília Salta, José Bernardo Monteiro, José Reis e o regressado Alexandre Lemos.
Sábados às 17h, juntem-se a nós aos saltos pela música do mundo.

28.5.11

emissão de 28 de Maio de 2011

Uma hora saltitando psicadelicamente por Cuba, Panamá, Brasil e Indonésia, passando pela Nigéria (novo álbum de Seun Kuti, a explorar em futuras emissões), terminando mais calmamente no cruzamento Cuba-Mali.

- Mantega - Abacua - Cuban Funk Experience! Funky sounds from Cuba & Miami 1973-1988
- Los Van Van - Pero a mi manera - Cuban Funk Experience!
- Los Van Van - Llegué llegué - Cuban Funk Experience!
- Ceferino Nieto - Pajaro zum-zum - Panama! 3 Calypso Panameño, Guajira Jazz & Cumbia Tipica on the Isthmus 1960-1975
- Little Francisco Greaves - Mooving-grooving - Panama! 3
- Los Silvertones - Up tight! - Panama! 3
- Célio Balona - Tema de Batman - Brazilian Guitar Fuzz Bananas
- The Youngsters - I wanna be your man - Brazilian Guitar Fuzz Bananas
- Com os Falcões Reais - Ele século XX - Brazilian Guitar Fuzz Bananas
- Brims - Anti gandja - Those Shocking Shaking Days
- Rollies - Bad news - Those Shocking Shaking Days
- Ivos Grou - That shocking shaking day - Those Shocking Shaking Days
- Ariesta Birawa Group - Didunia yang lain - Those Shocking Shaking Days
- Seun Kuti - African soldier - From Africa with Fury: Rise
- Afrocubism - Al viaven de mi carreta - Afrocubism



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14.5.11

emissão de 14 de Maio de 2011

- Hedzoleh - Rekpete - Hedzoleh Soundz
- Hedzoleh - Omusu la fe m'susu - Hedzoleh Soundz
- Wrinkar Experience - Soundway - The World Ends: Afro-Rock & Psychedelia in 1970s Nigeria
- Colomoch - Ottoto shamoleda - The World Ends
- The Identicals - Akwa kayi ji bia nuwa - The World Ends
- Antoine Dougbé - Honton soupko gnon - Legends of Benin
- Tidiani Koné & Orchestre Poly-Rhythmo de Cotonou - Djanfa magni - African Scream Contest
- Group Inerane - Telalit - Guitars from Agadez Vol. 3
- Troupe Majidi - Essiniya - Ecstatic Music of Djeema-El-Fna
- Tinariwen - Tenhert - Imidiwan
- Trovante - Balada das sete saias - Baile no Bosque
- Trovante - Lisboa - Baile no Bosque
- José Afonso - Era um redondo vocábulo - Venham mais 5

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7.5.11

Emissão de 7 de Maio 2011

Saing Saing Maw - Than Shin Ley Ye Khan
Lashio Thein Aung - Mistake of a Small Bird


[«Guitars of the Golden Triangle: Folk and Pop Music of Myanmar, Vol.2»]

Reverend Billy M. Grady - Holy Rock
The Bible Aires Spiritual Singers - You Better Get Ready
Lula Collins - Help Me


[«Fire in my Bones: Raw, Rare & Otherwordly African-American Gospel, 1944-2007»]

Lucille Bogan - Coffee Grindin' Blues - Oh, Run Into Me, But Don't Hurt Me! Female Blues Singers, Rarities 1923-1930
Harry E. Quashie - Anadwofa
West African Instrumental Quintet - Adersu, pt.2


[«Living is Hard: West African Music in Britain 1927-1929»]

YT - England Story
Ty & Roots Manuva - So U Want More (Refix)
Jah Screechy - Walk and Skank
Warrior Queen & The Heatwave - Things Change


[«An England Story: The Culture of the Mc in the UK 1983-2008»]

Tenor Saw - Ring the Alarm (Hip Hop Mix)- Nice Up The Dance, Two Worlds Clash
Dawn Penn - No No No - Nice Up The Dance, Two Worlds Clash
Omar Souleyman - Leh Jani - Highway to Hassake: Folk and Pop Sounds of Syria

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30.4.11

emissão de 30 Abril de 2011

Passagem psicadélica pela Nigéria, Turquia, Índia, Síria, Brazil e Panamá.

- Pastor Mbhobho - Ayobaness - Ayobaness! The Sound of South African House
- The Ify Jerry Krusade - Nwantinti/Die die - The World Ends: Afro-Rock & Psychedelia in 1970s Nigeria
- The Hykkers - Deiyo deiyo - The Word Ends
- Lijadu Sisters - Life's gone down low - The World Ends
- Okay Temiz - Dokuz sekiz - Turkish Freakout: Psych-Folk Singles 1969-1980
- Apaslar - Gilgamis - Turkish Freakout
- Asha Bhosle & Kishore Kumar - Roz roz roz - Kings & Queens of Bollywood
- Lata Mangeshkar - Mehfil soti - Kings & Queens of Bollywood
- Omar Souleyman - Kell il banat inkhatban (All the girls are engaged) - Jazeera Nights
- Ely - As turbinas estão ligadas - Brazilian Guitar Fuzz Bananas
- Loyce e os Gnomes - Que é isso? - Brazilian Guitar Fuzz Bananas
- Piry - Heroi moderno - Brazilian Guitar Fuzz Bananas
- Papi Brandao y sus Ejecutivos - Bilongo - Panama 3! Calypso Panameño, Guajira Jazz & Cumbia Tipica on the Isthmus 1960-1975
- Ceferino Nieto - El pajaro zum zum - Panama 3!
- Little Francisco Greaves - Mooving-grooving - Panama 3!

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16.4.11

Emissão de 16 de Abril 2011

Los Jaivas - Foto de Primera Comunión
Embrujo - Canto Sin Nombre


[«Love, Peace & Poetry: Chilean Psychedelic Music», Qdk Media]

J. P. Nyangira - Hongo Owiti
Owombo Wa Agola - Ahenda


[«Something is Wrong, Vintage Recordings from East Africa», Honest Jon's]

Musicians of the Nile - Sir Bîna Qîtar - Down By The River
Syamsudin - Sigumendar


[«Folk & Pop Sounds of Sumatra, Vol.2», Sublime Frequencies]

Kwanjai Kalasin Yuk Patana - Chiwit Sao Molam


[«Molam: Thai Country Groove from Isan», Sublime Frequencies]

Memphis Jug Band - Doctor Medicine
Abrew´s Portuguese Instrumental Trio - Cabo Verdianos Peça Nove


[«Folks, He Sure Do Pull Some Bow! Vintage Fiddle Music, 1927-1935», Old Hat]

Toquinho e Vinicius - Tarde em Itapoã - Para Viver um Grande Amor
Yann Tiersen - La Crise - Tout Est Calme
José Mário Branco - Remendos e Côdeas - Ao Vivo em 1997
Dadawah - Run Come Rally - Peace and Love

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9.4.11

Emissão de 9 de Abril 2011

Chaweewan Dumnern - Lam Toey Chaweewan
Ream Daranoi - Fai Yen
The Petch Phin Thong Band - Soul Lam Plearn
Waipod Phetsuphan - Ding Ding Dong


[«The Sound of Siam: Leftfield Luk Thung, Jazz and Molam from Thailand 1964 -1975», Soundway]

Nafi Bey - Derdime Vakif Degilim
Kanuni Artaki Efendi - Sehnaz Taksim
Yozgatli Hafiz Suleyman Bey - Ben Nasil Ah Etmeyeyim


[«To Scratch Your Heart, Early Recordings From Istanbul», Honest Jon's]

Getatchew Mekuria & The Ex - Sethed Sekeletat - Moa Ambessa
Balla Et Ses Balladins - Yo Te Contres Maria
Balla Et Ses Balladins - Sakhodougou


[Balla Et Ses Balladins, «The Syliphone Years», Stern's]

Gnonnas Pedro - Yiri Yiri Boum
Mighty Sparrow - Dat Soca Boat
El Timba - Descarga Bontempi


[«Sofrito: Tropical Discotheque», Strut]

Melotone Sisters with Amaqola - I Sivenoe - Next Stop...Soweto Vol.1 - Township Sounds From The Golden Age Of Mbaqangwa

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26.3.11

Emissão de 26 de Março 2011

Kimi Djabaté - Djalia - Karam
Kimi Djabaté - Banhané - Karam
The Ify Jerry Krusade - Nwantinti
The Funkees - Breakthrough
Tony Grey Super 7 - Yem Efe
The Thermometers - Babalawo
Colomach - Ottoto Shamoleda
Tony Grey & The Magnificent Zeinians - Ugbo Ndoma


[«The World Ends: Afro Rock & Psychedelia in 1970s Nigeria», Soundway]

The Psychedelic Alliens - We're Laughing
The Psychedelic Alliens - Gbomei Adesai


[The Psychedelic Alliens, «Psycho African Beat», Academy]

The Monks - Blockhead
The Mgbaba Queens - Akulawa Esoweto


[«Next Stop ... Soweto Vol. 2: Soultown. R&B, Funk & Psych Sounds from the Townships 1969-1976», Strut]

Doris Ebong - Boogie Trip
Pago Ltd. - Don't Put Me Down


[«Lagos Disco Inferno», Academy]

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12.3.11

Emissão de 12 de Março 2011

Gabi Luncă - Hora Lautareasca
Gabi Luncă - Omul Bun N-Are Noroc
Gabi Luncă - Hora
Gabi Luncă - Azi E Nor, Mâine-I Senin


[Gabi Luncă, «Sounds From a Bygone Age, Vol.5», Asphalt Tango]

Abdel Hadi Halo & El Gusto Orchestra of Algiers - Win Saadi - Abdel Hadi Halo & El Gusto Orchestra of Algiers
Group Inerane - Kuni Mayagani - Group Inerane: Guitars from Agadez (Music of Niger)
Mansour Seck - Almany Bocoum - N`Der Fouta Tooro
Orchestra Baobab - Bul Ma Min - Specialist in All Styles
Rail Band - Mady Guindo


[Rail Band, «Belle Epoque, Vol.3: Dioba», Stern's Africa]

Radio Zumbido - El Hampa - Los Ultimos Dias del Am
Radio Zumbido - Livingston Buzz - Los Ultimos Dias del Am
Radio Zumbido - 8 Hermanos - Los Ultimos Dias del Am
Sound Dimension - Heavy Beat - Jamaica Soul Shake, Vol.1
Cyro Baptista - Cyrandeiro - Beat The Donkey
AfroCubism - Bensema - AfroCubism
AfroCubism - Mariama - AfroCubism

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5.3.11

emissão de 5 de Março de 2011 - entre áfricas e américas

Emissão entre os dois lados do atlântico. Congo, Angola, África do Sul, Brasil, Panamá, Benim e Cuba/Mali são as paragens.

- Tabu Ley Rochereau - Kelia - The Voice of Lightness
- Tabu Ley Rochereau - Aon aon - The Voice of Lightness
- Teta Lando e Maurício Pacheco - Angolé - Comfusões 1: From Angola to Brasil
- Killamu - Intro/Dança e yoyo - A Minha Face
- Os Lambas - Sapo - Somos Nós
- Tshetsha Boys - Nwampfundla - Shangaan Electro: New Wave Dance Music From South Africa
- Pastor Mbhobho - Ayobaness - Ayobaness! The Sound of South African House
- Célio Balona - Tema de Batman - Brazilian Guitar Fuzz Bananas
- Loyce e os Gnomes - Era uma nota de - Brazilian Guitar Fuzz Bananas
- Ceferino Nieto - El pajaro zum zum - Panama! 3 Calypso Panameño, Guajira Jazz & Cumbia Típica on the Isthmus 1960-75
- Little Francisco Greaves - Mooving grooving - Panama! 3
- Los Silvertones - Up tight! - Panama! 3
- Orchestre Poly-Rythmo de Cotonou - Gbeti mdajro - African Scream Contest
- Afrocubism - A la luna yo me voy - Afrocubism

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26.2.11

Emissão de 26 de Fevereiro 2011

Llunga Patrice - Mama Josefina
Josiah Nkomo - Itaula Bava Yami


[«Origins of Guitar Music in Southern Congo & Northern
Zambia 1950, '51, '52, '57, '58»
, Sharp Wood]

Amadou & Mariam - À Chacun Son Problème - Sou Ni Tile
Ali Farka Tourè - Allah Uya - Niafunké
Foster Manganyi - Ndzi Teke Riendzo
Foster Manganyi - Amen-Amen
Foster Manganyi - Tintsumi


[Foster Manganyi, «Ndzi Teke Riendzo», Honest Jon's]

Dona Dumitru Siminica - De Trei Ani Nu Dau Pe Acasa


[Dona Dumitru Siminica, «Sounds From
a Bygone Age, Vol.3»
, Asphalt Tango]

Daniel Melingo - Lo Magdalena - Maldito Tango
Daniel Melingo - Julepe En La Tierra - Maldito Tango
Kékélé - Tapale - Kinavana
Kékélé - Consequence - Kinavana

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12.2.11

emissão de 12 de Fevereiro de 2011 - Egipto e mais destaques 2010

Breve homenagem ao Egipto, seguida de uma viagem por compilações e reedições que se destacaram em 2010.



- Les Mangalepa - Embakasi - Endurance
- Omar Khorshid - Rakset el fadaa - Psych Funk 101
- Asmahan - - Les archives Tabbouche
- Okay Temez - Dokuz sekiz - Turkish Freakout: Psych-Folk Singles 1969-1980
- Cem Karaka - Uryan geldim - Turkish Freakout: Psych-Folk Singles 1969-1980
- Mubar Bey & Ibrahim Bey - Hiazkar pesrev - To Scratch your Heart: Early Recordings from Istambul
- Amal Saha - Daouini (Lemchaeb) - Ecstatic Music of the Jemaa El Fna
- Troupe Majidi - Essinya - Ecstatic Music of the Jemaa El Fna
- Bitch Loan & CBC Band - Tinh yeutuyet voi (The greatest love) - Saigon Rock and Soul
- Kurmonjiang Zaccharia - Babulao - Ethnic Minority Music of Northwest Xinjiang
- Charanjit Singh - Raga Bhairav - Ten Raggas to a Disco Beat

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5.2.11

Emissão de 5 de Fevereiro de 2011 - latino-europeu


Emissão dividida entre as sonoridades latinas e o Norte da Europa. Alinhamento:

1. Tito Puente - Oye Como Va (NU Yorica Roots, 2000);
2. Los Zafiros - La Luna en tu Mirada (La Bossa Cubana, 1999);
3. Mighty Sparrow - Sweet Loving (Tropical Funk Experience, 2009);
4. Chicha Libre - Primavera em la Selva (Sonido Amazonico, 2009);
5. Lito Barrientos y su Orquestra - Cumbia en Do Menor (Colombia!, 2007);
6. Los Silvertones - Tamborito Swing (Panama 2, 2009);
7. Ry Cooder & The Chieftains - Finale (San Patricio, 2010);
8. Martin Tourish & Luke Ward - Tripin' (Clan Rannald, 2005);
9. Unthanks - Betsy Bell (Here's the Tender Coming, 2009);

DESTAQUE: WIMME - MUN


10 - Don Leat
11 - Lottit
12 - Sohka

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29.1.11

emissão de 29 de Janeiro de 2010 - destaques 2010

Uma emissão onde passámos em revista alguma (pouca!) da música em diversas listas dos melhores de 2010. A prosseguir em próxima emissão.

- Célio Balona - Tema de Batman - Brazilian Guitar Fuzz Bananas
- The Pops - Som imaginário de Jimi Hendrix - Brazilian Guitar Fuzz Bananas
- Banda de 7 Léguas - Dia de chuva - Brazilian Guitar Fuzz Bananas
- The Anansa Professionals - Enwan - Nigeria Afrobeat Special
- Fubura Sebiko - Psychedelic baby - Nigeria Special Vol. 2
- The Big Four - Wenzani umoya - Next Stop... Soweto
- Pastor Mbhobho - Ayobaness - Ayobaness! The Sound of South African House
- Tshetsha Boys - Nwampfundla - Shangaan Electro New Wave Dnace Music from South Africa
- Omar Souleyman - Hafer gabrak bibi (I will dig your grave with my hands) - Jazeera Nights
- Konono No. 1 - Wumbanzanga - Assume Crash Position
- Omar Khorshid - Guitar el chark - Guitar El Chark
- Afrocubism - A la luna yo me voy - Afrocubism
- Ali Farka Touré & Toumani Diabaté - Kala djula - Ali & Toumani

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18.12.10

emissão de 19 de Dezembro de 2010


Uma emissão por paragens mais calorosas que a gélida Coimbra de Dezembro. Congo, Nigéria, Quénia, África do Sul, Síria, Turquia e Brasil, numa digressão por edições deste ano.

- Artistas desconhecidos - faixa 1 - Brion Gysin: One Night at the 1001 (2006)
- Konono No. 1 - Wumbanazanga - Assume Crash Position (2010)
- Tony Allen - Asiko - Black Voices Revisited (2010)
- Godwin Omabuwa & his Casanova Dandies - Do the Afro Shuffle - Nigeria Afrobeat Special (2010)
- Les Mangalepa - Mimba - Endurance. Music on the March Across Africa (2006)
- The Big Four - Wenzani umoya - Next Stop... Soweto (2010)
- Mancingelani - Vana vasesi - Shangaan Electro (2010)
- Omar Souleyman - Ala il hanash madgouga - Jazeera Nights (2010)
- Okay Temiz - Dokuz sekiz - Turkish Freakout (2010)
- Célio Balona - Tema de Batman - Brazilian Guitar Fuzz Bananas (2010)

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13.12.10

Emissão de 11 de Dezembro de 2010

Didier Lockwood - Les Valseuses

Richard Galliano:
- Libertango
- Javanaise
- Laurita

Serge Gainsbourg - Lola Rastaquouère
Seu Jorge & Almaz - Tempo de Amor
Ebo Taylor - Love and Death
Tony Allen - Secret Agent
Lever brothers Gay Flamingoes - Egbi Mi O
Andrew Bird vs Konono nº1 & Sobanza Mimaniza - Ohnono/Kiwembo
AfroCubism - A La Luna Yo Me Voy
AfroCubism - Al Vaivén De Mi Carreta

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9.12.10

Herbie Hancock, Campo Pequeno, 7 de Dezembro


Na flor dos seus 70 anos de idade e com uma frescura física invejável, passou por Lisboa, na última 3ª feira, a grande lenda do jazz, Herbie Hancock. Num percurso com derivações por outras áreas sonoras, nomeadamente pelo funk, o músico veio ao Campo Pequeno apresentar o seu último trabalho, Imagine. Em memória do mítico tema pacifista de John Lennon, o álbum conta com convidados muito diversos, desde grandes nomes da world como Konono nº1, Toumani Diabaté ou os Chieftains, até aos terrenos da pop descartável, onde se encontram Pink ou James Morrison.

Herbie Hancock e a sua banda entraram em palco com uma tema marcado por um improviso jazz muito técnico, um mau prenúncio para os pouco apreciadores de free jazz e derivados. De seguida, iniciou uma longa comunicação ao público, em que apresentou os músicos que o acompanham na digressão (segundo o próprio, meio perigosos e imprevisíveis), destacou a mensagem de Imagine em torno da paz, da comunhão e da partilha na era da globalização e referiu que os inúmeros convidados que o acompanham no disco não iriam estar naturalmente em palco (tecendo particulares elogios ao minimalismo percussionista dos Konono nº1 e à grande diva maliana Oumou Sangare), sendo as vozes substituídas e pelos músicos da sua banda e por Christina Train, com um timbre folky, algures entre Cat Power (não tão quente), Janis Joplin (não tão potente) ou Norah Jones (não tão melosa). Foi precisamente esta cantora da Georgia que interpretou de seguida a cover de “Imagine”, num início apenas com voz e piano e com uma linha melódica completamente adulterada, antes de entrar o resto da banda e a voz gravada de Oumou Sangaré.

Seguiu-se o lado mais funky da obra de Hancock, com o longuíssimo “Watermelon”, muito marcado pela cadência do teclado-guitarra do músico e pelas suas autênticas desgarradas, primeiro com o baixista e depois com o guitarrista, e com a versão de “Exodus”, com as vocalizações arrastadas do baixista a fazer lembrar as vozes tuaregues (não é por acaso que, em disco, o tema é interpretado pelos Tinariwen), antes da euforia do refrão. Em absoluto contraste, teve lugar, pouco depois, um extensíssimo medley jazz (de cerca de meia hora), que começou com os músicos todos em palco, passou por um longo solo de piano, teve direito a uns breves momentos de violino e terminou com a banda de novo em palco, com o grande clássico de Hancock, “Cantaloupe Island”. Este foi alias um concerto de contrastes, alternando um lado jazz mais acomodado, direccionado para um público de “casino” pouco exigente, grandes momentos de virtuosismo instrumental, mas cuja expressividade é sempre uma incógnita e de que se torna fácil “desligar” se não se for fã do género, cadência funk irresistível e alguns pormenores surpreendentes e muito interessantes, como os jogos vocais em “Don’t Give Up”, no meio de uma certa estrutura épica algo duvidosa, ou o momento vocal sem amplificação do teclista, em "Change is Gonna Come".

Na parte final, altura para o elogio aos grandes músicos irlandeses Chieftains (co-autores, juntamente com Ry Cooder e diversos músicos mexicanos, de San Patricio, um dos grandes discos deste ano), a propósito do tema que partilham no disco, o grande clássico de Bob Dylan, “The Times They Are A Changing”. Pretexto para mais uma mensagem de apelo à mudança e a um sentido humanista, a que se seguiu a interpretação do tema, que incluiu violino e a recriação, através do órgão, dos sopros tradicionais irlandeses (tal como as anteriores, mais uma versão completamente transfigurada em relação ao original). Pouco depois, a banda abandonava o palco, recebendo uma grande ovação de pé e regressando para um encore com mais um forte momento de groove funk em “Chameleon”, fechando duas horas de espectáculo com a banda a dançar ao som de um pulsante baixo sintetizado.

Tendo havido momentos de grande contraste e como acompanho pouco os territórios do jazz, tenho dificuldade em fazer um balanço do concerto, mesmo tendo em atenção que este se expandiu para outras áreas musicais. Talvez a resposta esteja algures entre o chato e insosso e o inspirado e cativante. Ou, como discutia um casal por quem passei à saída, entre a música de elevador (bem longe) e o talento enorme de grandes músicos.

7.12.10

Concerto Richard Galliano e Tangaria Quartet



Richard Galliano e Tangaria Quartet. CCB, 7 de Dezembro de 2010.


Richard Galliano gosta de grandes desafios. O maior da sua carreira, tentar incorporar o acordeão em géneros musicais que nem sequer se lembram que o instrumento existe, ainda está a decorrer. Para o conseguir, estuda alguns dos melhores acordeonistas do mundo (o acordeão é um dos instrumentos que mais viajou e que, por isso, penetrou com grande força em variados estilos musicais tradicionais) e trabalha para criar um estilo próprio, influenciado por várias correntes musicais. Foi um dos músicos que conseguiu dar nova alma à música tradicional francesa. O reconhecimento internacional veio logo depois.

A enorme experiência de Galliano, músico com uma longa carreira iniciada na década de setenta, torna-o um líder natural em palco. Ao vê-lo actuar, percebe-se imediatamente que é um músico marcante, dos que ajudam a melhorar o instrumento que tocam. O concerto foi uma viagem pela carreira de Galliano. Os grandes músicos que o acompanharam (Sebastien Surel no Violino, Phillipe Aerts no Contrabaixo e Rafael Mejias na percussão) tocam com uma naturalidade impressionante, qualquer que seja o género musical. São músicos de formação clássica, trabalhados para seguir as influências do músico francês. A admiração que Galliano tem por vários estilos musicais, ficou bem clara na forma como estruturou o concerto. Até os mais desatentos conseguiram distinguir bases de tango, de jazz, de música nordestina brasileira, de música francesa e de música clássica. É muito difícil criar um conceito válido a partir de tantas referências. O resultado final é muito coerente. Só grandes músicos conseguem trabalhar tão bem as suas influências, a ponto de criar um estilo próprio.
Se estivesse vivo, Astor Piazolla teria adorado. Quim Barreiros (pareceu-me vê-lo bem ao fundo, na última fila) é capaz de ter estranhado.

1.12.10

Richard Galliano

Richard Galliano no CCB

7 de Dezembro é o dia que marca o regresso de Richard Galliano aos palcos portugueses. O acordeonista Francês, grande admirador de Astor Piazzola, vem a Portugal com o seu quarteto - o Tangaria Quartet - juntar as raízes do tango à música clássica. A não perder! No Grande Auditório do Centro Cultural de Belém às 21:00. Uma produção da Incubadora d'Artes.

6.11.10

Emissão de 6 de Novembro de 2010



Orchestre Kiam - Kamiki
Tinariwen - Amassakoul`n`Ténéré
Taj Mahal & Toumani Diabaté - Queen Bee
Konono nº 1 - Guiyome
Conga de Los Hoyos - Un Solo Golpe
Cordas do Sol - Comped Joaquim
Les Loups Noirs D`Haiti - Jet Biguine
The Roots (feat. Joanna Newsom & STS) - Right On
Brenda & The Tabulations - California Soul
Brazilian Groove Band - Groove in The Head
Augustus Pablo - Rockers Rock
Cibelle - Hate

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3.10.10

Emissão de 2 de Outubro de 2010



U.
Dahmane El Harrachi - Kifèche Rah (Argélia - 1960)
Lounis Ait Menguellet - Rouh Adhqimagh (Argélia - 1979)
Mohamed Abdelwahab - Hirtou (Egipto - 1949)
Mohamed Mounir - El Leyla Ya Smar (Egipto - 1981)
Ahmed Hamza - Jari Ya Hamouda (Tunísia - 1968)
Mohamed Bajdoub - Chems el Aâchia (Marrocos - 1998)
Amadou & Mariam - Baara (Mali - 1998)
Oumou Sangaré - Ah Ndija (Mali - 1990)
Djelimady Tounkara - Fanta Bourana (Mali - 2005)
Ali Farka Touré - Dofana (Mali - 1992)
Victor Démé - Djon Maya (Burkina Faso - 2008)

2.
Youssou N´Dour - Immigrés (Senegal - 1984)
Bembeya Jazz - Armée Guinéenne (Guiné - 1969)
Docteur Nico - Tu m`as Deçu Chouchou (RDC - 1968)
Franco - Mario (RDC - 1985)
Konono nº1 - Paradiso (RDC - 2004)
Pierre Akendengue - Africa Obota (Gabão - 1976)
Alemayehu Eshete - Feqer Feqer New (Etiópia - 1969)
Orchestra Makassy - Mambo Bado (Quénia - 1982)
Matano Juma - Dada (Tanzânia - 1965)
Soul Brothers - Abantu (África do Sul - 1992)
Olivier Mutukudzi - Ziwere (Zimbabwe - 1991)
The Very Best - The Warm Heart of Africa (Malawi - 2010)

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7.8.10

emissão de 7 de Agosto de 2010

Passagem em revista dos dois últimos dias concertos no FMM Sines. Na 2ª hora, os sons mais antigos e mais recentes saídos das townships sul-africanas, das ruas do Gana e Benim, das dunas do Mali.

--- 1ª hora ---
Rachel Unthank & the Winterset - Sea song - The Bairns
Justin Adams & Juldeh Camarah - Sanakubay - Soul Science
Las Rubias del Norte - Ziguala - Ziguala
Tinariwen - Imidiwan afrik tendam/Lulla - Imidiwan:Companions
Staff Benda Bilili - Moziki/Sala Mosala - Très Très Fort
U Roy - Natty Dread
Batida - Bazuka
Os Lambas - Dança zema - Somos Nós

--- 2ª hora ---
Mahotalla Queens - Zwe kumusha - Next Stop Soweto
JK Mayengani & the Shingwedzi Sisters - Khubani - Next Stop Soweto Vol. 2
Mgbaba Queens - Akulalwo soweto - Next Stop Soweto Vol. 2
Philip Malela & the Movers - Intandana - Next Stop Soweto Vol. 2
Gibson Kente - Saduva - Next Stop Soweto Vol. 2
Mercury Dance Band - Envy no good - Afro Rock Vol. 1
Orchestra Lissanga - Okuzua - Afro Rock Vol. 1
BBC - Ngunyuta dance - Shangaan Electro: New wave dance music from South Africa
Tshetsha Boys - Nwampfundla - Shangaan Electro
Tiyiselani Vomaseve - Vanghoma - Shangaan Electro
Orchestre Poly-Rhythmo de Cotonou - Se ba ho - Échos Hypnothiques
3rd Generation Band - Obyie saa wui - Afrobeat Airways (Ghana & Togo 1972-1979)
Apagya Show Band - Ma nserew me - Afrobeat Airways
Ali Farka Touré & Toumani Diabaté - Kala djula - Ali & Toumani

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1.8.10

FMM Sines 2010, dia 4

Sábado, 31 de Julho: a apoteose dúbia da despedida



Guadi Galego

Coube à cantora Guadi Galego a abertura do último dia de festival. Apresentando o seu espectáculo como um encontro entre culturas especial para o FMM, por si intitulado como o Festival de World Music mais importante da Península Ibérica, o concerto começou morno e aparentemente com aproximações maiores à música ligeira ou a terrenos jazzísticos do que à vertente tradicional. Para este facto, muito contribuiu uma formação instrumental algo limitada, apenas com piano, contrabaixo e percussões. Contudo, com a simpatia na voz e na comunicação com o público de Guadi, com o aumento da intensidade do piano e com alguns momentos de quase catarse na bateria, o concerto acabaria por funcionar em crescendo, melhorando significativamente a partir da sua metade. Passando por uma homenagem a alguns nomes emblemáticos da música galega, o resultado final pode não ter sido soberbo, mas proporcionou pelo menos um agradável final de tarde.

Galaxy

Desconhecíamos a música deste quinteto, apresentado como grupo o mais idolatrado e importante da música moderna timorense, praticando uma fusão ente reggae, rap, funk, rock, clássicos da resistência e os ritmos tradicionais do povo Fatakulu. Na nossa ignorância confessa destes ritmos Fatakulu, temos de observar que naquele final de tarde no palco da praia, estes ou não saíram da resenha de apresentação, ou são virtualmente indistintos dos ritmos do rock, tendo este aqui um precursor pouco conhecido. Um som inicialmente mais jamaicano, posteriormente rock por inteiro, descendo aos meandros mais duvidosos do hard-rock, com direito a solos proeminentes que Richie Sambora não desdenharia. De étnico, o cantar em Tetúm e pouco mais. Considerava a resenha de apresentação estes jovens como nem sempre compreendidos pelos mais velhos, mas idolatrados pela nova geração. Até ver, alinhamos com os primeiros.

Lole Montoya

Flamengo, rasgo de alma, balanço mestiço, festa cigana… e popular na sua generalidade. Lole Montoya é uma das grandes intérpretes do género, tendo-o conjugado com outros estilos, como a música árabe, mas, ao invés de outros músicos de fusão mais recentes, como Pitingo, sem nunca o descaracterizar. Com quase 40 anos de carreira, divididos entre o percurso na dupla Lole y Manuel e a solo, a andaluza mostrou na abertura nocturna do castelo que, apesar da veterania, preserva todas as suas capacidades vocais e, acima de tudo, uma enorme alma e genuinidade em palco. Como tal, perdoa-se quando, numa fase intermédia do concerto, se esquece do título da música que apresenta (“son muchas canciones”, justifica Lole). Com o acompanhamento tradicional das guitarras, das percussões e, claro, das habituais palmas tão características, um concerto para aquecer corações… antes destes explodirem com as propostas africanas.

Cheick Tidiane Seck feat. Mamani Keita

Nestas coisas das músicas com os pés mais ou menos enterrados na respectiva tradição étnica já há muito vimos aceitando o facto de a República do Mali ser uma super potência. Não que se trate de uma só, coesa e poderosa cultura, pois do Mali recebemos sobretudo os frutos da localização charneira deste país entre a África Sahariana e sub-sahariana. Tudo isto para dizer que o concerto encabeçado por Cheick Tidiane e Mamani Keita dava ares de um "República do Mali vs. Resto do Mundo", tal é o cartel de Cheick Tidiane (Teclista, compositor e responsável pelos arranjos) e da cantora Mamani Keita. E em que resultou, afinal, este encontro entre uma velha raposa da música Maliana com uma das suas vozes emergentes? Num concerto de franco entretenimento, concerteza, e pouco mais. Destaque para a competência evidente de todos os músicos colocados à ordem de Cheick Tidiane Seck, num aglomerado que nitidamente dependia em todos os seus movimentos do que ordenasse o órgão mágico deste, ao ponto de Mamani Keita ter parecido apenas mais um em palco (embora com uma presença e uma voz que não enganam!). De resto, não assistimos a nenhuma revelação musical, decorrendo todos os temas com as doses certas de emoção e vibração - imaculados - permitindo demonstrações várias de que estes músicos não nasceram ontem mas que terão guardado os seus melhores truques para os concertos em nome próprio.

Staff Benda Bilili

Comecemos pelo início. E o início é que Trés Trés Fort, disco de 2009 dos Staff Benda Bilili é um dos grandes álbuns de música africana dos últimos anos. E que na música do Congo e mesmo especificamente na editora Cramned há muito mais do que a percussão minimal proeminente nos primeiros volumes da série Congotronics. Há também, como aqui, rumba congolesa, influenciada por grandes mestres como Franco ou Tabu Ley Rochereau e bem mais próxima da lógica afro-cubana de uma Orchestra Baobab que de uns Konono Nº1. A que se acrescenta a invenção de um incrível instrumento artesanal, formado a partir de uma lata de leite, de onde foi anexada uma corda e de onde saem sons absolutamente vibrantes. Ao vivo, o concerto do FMM começa logo de forma arrebatadora com dois dos temas mais fortes do disco, “Moziki” e “Moto Moindo”, o segundo dos quais com o belíssimo efeito do fogo de artifício, com menos imponência que em anos anteriores, provavelmente em nome da contenção de fundos. Podia-se temer que, esgotando alguns trunfos principais logo a abrir, o concerto pudesse decair, mas isso não aconteceu. Percorrendo quase todo o disco (faltou “Sala Mosala” e pouco mais), a que se acrescentou um óptimo tema novo, o concerto foi consistente do princípio ao fim (dois encores incluídos), contando apenas e só com o lado musical propriamente dito (vozes, guitarras, percussão e o tal instrumento peculiar), sem contar com grandes artifícios de interacção com o público ou de dança, até porque quase toda a banda sofre de deficiências físicas graves. Aliás, para quem julga que é o factor pena que provocou a aclamação generalizada da crítica em relação a este projecto de Kinshasa, fica a resposta através de um cliché: “Todos diferentes, Todos iguais”. Os Staff Benda Bilili são apenas e só MUSICALMENTE brilhantes e deram, neste último dia, previsivelmente o grande concerto do festival.

U-Roy & Batida


A tremenda enchente no palco do Castelo trasladou-se sem perdas visíveis para o palco da praia. A passagem das horas, das forças disponíveis, a gratuitidade do acesso, já se sabe no que resulta: Palco da Praia em fim de noite é uma marabunta mais inclinada para o hedonismo musicado que para audição atenta, o que está muito bem e compreende-se perfeitamente. Portanto, boas vibrações e/ou ritmos acelerados é o que a malta quer, e os nomes escalonados trouxeram ambos em sequência. U-Roy, nome grande da música jamaicana, trouxe o toasting relaxado sobre base reggae/dub, sua invenção nos idos de 60-70s, com profissionalismo e assinalável genica vocal e física para os 67 anos. O projecto Batida, que se seguiu, trouxe uma mistura de kuduro com música angolana dos 60s-70s repescada nos arquivos da Valentim de Carvalho, uma mina de ouro ainda pouco conhecida. Receita conseguida, pelo menos na fase inicial, com o mérito de temperar a vitalidade do kuduro com a dignidade vetusta do semba, sem cair na chungaria pura-e-simples que amiúde afecta o primeiro. A este propósito da justa medida bom/mau, sagrado/profano, erudito/chunga, receita mais saborosa que a de Bailarico Sofisticado com Selecta Alice na noite anterior, e mais efusivamente saudada pelo público, com direito a invasões de palco. Pelo menos na fase inicial, dizíamos, pois com o avanço das operações não havia aparentemente mais truques na manga, e algum fulgor decaiu em alguma monotonia tum-tum-tum. Ou então sucumbiu o cronista ao seu cansaço (nota: temperar a subjectividade destes juízos com as condicionantes do início do parágrafo).

Textos de Daniel Marques Pinto, João Torgal, José Reis.

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