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29.7.12

FMM Sines 2012 - Dia 3: Sábado, 21 de Julho

"Magia banjoístico-guitarrístico-vocal"!

Oumou Sangaré, por Mário Pires


Dead Combo feat  Marc Ribot

As expectativas para o concerto de Dead Combo, em mais um fim de tarde soalheiro de Sines, eram altas. Abertas as portas do castelo, uma autêntica multidão encheu a plateia, dividindo-se entre quem vinha directamente da praia e quem chegava asseadinho, todos juntos para ouvir esta parceria do grupo português com Marc Ribot, registada em disco em “Lisboa Mulata” de 2011. Fruto de uma colaboração à distância, juntaram-se fisicamente pela primeira vez para este concerto, no mínimo intenso. Tó Trips e Pedro Gonçalves começaram sozinhos mas rapidamente tiveram a companhia de um enorme Alexandre Frazão, que não deu descanso ao “apanhador de baquetas” oficial do FMM (foram  várias as vezes que as ditas cujas saíram disparadas pelo ar). O seu trabalho na bateria e percussão, feito de detalhes, faz todo o sentido neste grupo virado ultimamente para as sonoridades africanas. Marc Ribot juntou-se a este trio e tornou ainda mais rica a viagem que os Dead Combo proporcionam a cada audição da sua música. No seu último album exploraram os ritmos e melodias africanos e neste concerto trouxeram tudo isso à tona. O público agradeceu e sorridente saiu do castelo para jantar, orgulhoso destes Dead Combo que continuam em ascensão e que resultaram quase perfeitos neste FMM que estava a arrancar definitivamente para uma noite fortíssima.

Oumou Sangaré & Bela Fleck

Por volta das 22h começou aquele que foi por muitos considerado o melhor concerto do festival. Oumou Sangaré e Bela Fleck, apoiados por uma banda genial em que se destacou o baterista Will Calhoun e o baixista Alioune Wade, deram um concerto vibrante, pleno de africanismo, tal como o público de Sines bem gosta. Dona de uma voz superior, a já consagrada Oumou Sangaré - que se estreou neste festival em 2007, continua em grande forma e surpreendeu pelo seu entrosamento com Bela Fleck. Considerado o melhor banjoísta da actualidade, integrou-se perfeitamente nas melodias da banda de Sangaré, arrancando também alguns solos brilhantes de um instrumento que não estamos habituados a ouvir por estas paragens mas que, curiosamente, é oriundo de África. No final da quase hora e meia imparável de concerto, pediu-se um encore e os músicos regressaram ao palco enchendo definitivamente as medidas. Cada um teve direito ao seu solo de despedida, inclusivé a cantora suporte de Sangaré - que aí decidiu mostrar a todos os presentes o que é a dança africana em todo o seu esplendor. Brilhante!

Marc Ribot y los cubanos postizos

Se nos dissessem que, em Sines e na mesma noite, podíamos ver Marc Ribot tocar duas vezes -  ainda por cima em contextos completamente diferentes -, responderíamos que só podia ser uma brincadeira. Como a realidade ultrapassa (quase) sempre a ficção, tivémos de nos render à evidência do acontecimento. A dupla aparição deu-se num sábado mítico, numa das melhores noites de sempre da história do FMM. Marc Ribot, o homem das colaborações e dos projectos quase infinitos, o guitarrista genial  (“o Ronaldo das guitarras”, nas palavras de Tó Trips), pisou novamente o palco do Castelo, depois de por cá ter andado com outro dos seus outros projectos: The Young Philadelphians. Agora com os Cubanos Postizos, sete anos depois, voltou para arrasar! É sufocante ver a maneira como Marc Ribot toca. São tanto os pormenores de magia (é mesmo possível fazer magia com uma guitarra!), que nem há tempo suficiente para os absorver: são os tempos perfeitos das entradas, é a facilidade com que muda de ritmo, a forma como improvisa e volta ao concerto, a técnica com que toca ou as notas que nunca falha. A diáspora Cubana para os Estados Unidos, tão bem transposta para pauta por Ribot e pelos seus músicos (trabalhadores incansáveis, tocadores incríveis com formação de jazz e muitas vivência nova iorquinas), tem por base os estudos que Ribot fez sobre Arsenio Rodriguez “El Ciego Maravilloso”, o maior herói da composição cubana juntamente com Benny Moré - um daqueles seres humanos que merece um biopic épica, tal a vida intricadamente interessante que viveu (deixamos a sugestão para quem o queira fazer...). O que se ouviu no castelo foi uma coisa séria. Foi música da mais fina, curada nos melhores fumeiros “postizos” de Nova Iorque.  É música que não se esquece...

Imperial Tiger Orchestra e Hamelmal Abate

Foi por culpa da Série Ethiopiques, uma das mais míticas colecções de sempre da música africana (que incorpora vários singles e álbuns que a Amha Records, a Kaifa Records e a Philips-Etiópia editaram durante os anos sessenta e setenta na Etiópia e que destaca cantores e músicos como Alemayehu Eshete, Mahmoud Ahmed, Mulatu Astatke ou Tilahun Gessesse), que um grupo de músicos Suíços (!!!) começou a interpretar música Etíope. Para a tocar ao vivo, precisavam de alguém que desse a cara e um cunho de autenticidade à sua música. Foi assim que Hamelmal Abate, que não tem o nome dos grandes músicos dos anos setenta mas que vimos como uma excelente presença em palco, foi chamada para incorporar esse papel. É bizarro ouvir (e ver) uma cultura tão própria ser recriada por quem, à partida, parece estar nos antípodas culturais da fonte de que bebe. Conseguir deixar de lado as marcas culturais definidoras da identidade é uma tarefa difícil. Ser suíço pode efectivamente atrapalhar quando se tenta fazer música Etíope. É um facto.  É também um facto que tocar a seguir ao concerto de Marc Ribot y los Cubanos Postizos é muito ingrato. Apesar de tudo, os Suíços conseguiram dar um bom concerto, melhor sempre que foram recriadas versões de clássicos da colecção Ethiopiques. O groove, por vezes excessivo, ajudou a conquistar o público, mas prejudicou a qualidade musical. Fez-se a mudança de planos necessária para o que viria a fechar a noite: a eletrónica bizarra das 180 batidas por minutos de Shangaan Electro.   José Bernardo Monteiro e José Manuel Amorim

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