l

30.6.10

Emissão de 26 de Junho de 2010

http://www.matadorrecords.com/matablog/wp-content/uploads/2008/12/polyrythmo.jpg

Orchèstre Poly Rythmo de Cotonou

Dez músicos: dois saxofonistas, um teclista, um baterista, um percussionista, dois (às vezes três) vocalistas, um guitarrista, um baixista e um trompetista...Grande azáfama em palco. Um final de tarde perfeito! Eis a Orquestra Poly Rythmo de Cotonou ... palmas para a banda que se formou em finais de 60, no Benim, e que tocou pela primeira vez em Portugal. Amigos e amigas, bem vindos a África!

Fundação Calouste Gulbenkian, 27.06.2010

Espectadores frios, de coração quente, deram uma resposta tardia à chamada de ritmos que se esperavam mais funk. A influência da música cubana, transversal a grande parte do concerto e bem visível na base musical de rumba e salsa, confirmam a força que os ritmos da grande ilha tiveram na música da África Ocidental de então. Bandas como Bembeya Jazz National, Orchestra Baobab, Franco & OK Jazz, Le Rail Band (e outras), faziam música deliciosamente moderna, que o ocidente insiste em catalogar como produto de tradições por vezes fabricadas. Que maior mistura de ritmos? Que maior originalidade e modernidade? Desta vez, neste contexto, chamaram "Voodoo Funk" à fusão e à loucura criativa da orquestra.

Para além de ter criado o Voodoo, o pequeno Benim, país ensanduichado entre dois gigantes dos ritmos Africanos - o Gana e a Nigéria - inventou uma das orquestras que mais música deu a África e ao mundo: A Orchèstre Poly Rythmo de Cotonou gravou mais de 500 canções, distribuídas por dezenas de discos e centenas de 45". Foram dados a conhecer em 2009, pela mão da Analog Africa. O surgimento tardio de uma banda tão marcante, criada nos anos 60, só pode ter que ver com a sua proveniência geográfica. Que outra razão para ter passado tanto tempo afastada das rádios, lojas de discos e palcos ocidentais?

Os músicos que estão actualmente em digressão já não são os mesmos que fizeram as delícias de muitos ouvidos Africanos. É natural que um conjunto tão antigo se veja forçado a renovar os seus músicos. Há que lamentar a morte de grandes nomes como o guitarrista Bernard "Papillon" Zoundegnon ou o vocalista Yehoussi Leopold, que, neste concerto, não teve substituto à altura. Um dos vocalistas ainda tentou, numa fase mais repetitiva e monótona do concerto, acompanhar mais dinamicamente as contagiantes sonoridades que a secção rítmica ia construíndo. Veio para a frente do palco, dançou, tomou as rédeas do concerto e "obrigou" parte do público a colaborar. Este momento marcou o concerto que, em crescendo, viu chegar grandes momentos. Os últimos temas e o encore, entre os quais se incluía o super hit "Gbeti Madjro", trouxeram ritmos mais funk e elevaram a dinâmica da música, aproximando a actuação aos transcendentes temas do álbum que popularizou a banda: "African Scream Contest". A tarde acabou em grande...

Etiquetas:

28.6.10

Festival Med: dia 4 (26 de Junho) - o dia da fusão

Início de último dia de festival com a maior enchente, o que se nota desde logo no concerto dos Diabo na Cruz no Castelo, com o espaço de tal forma preenchido que havia pessoas a serem barradas à entrada. Só foi possível ver um pouco do concerto (interesses musicais mais elevados assim o implicaram), mas a apropriação jocosa e subversiva da música tradicional portuguesa (ou apenas uns pozinhos dela) estava a levar ao delírio o público. Fica só uma pergunta no ar: os Diabo na Cruz podem ter imensa piada e fazerem música freakmente divertida e particularmente eficaz ao vivo, mas justificarão todo o hype que se gerou em seu redor?

Passagem sem demoras para o palco da Matriz, onde se iniciava a actuação do compositor francês René Aubry. Numa linhagem musical mais clássica e erudita, mas com elementos tradicionais à mistura (essencialmente europeus, com destaque para o maravilhoso tema "Salento"), capaz de agradar (e muito) a fãs de Yann Tiersen ou da Penguin Cafe Orchestra, ficava a curiosidade de saber como iria funcionar a sua música num festival como este. Ora, grande parte do que foi dito sobre os 3 pianos, poderá adequar-se a René Aubry (embora aqui com a observação quase integral do concerto). A música que se ouve é excelente (uma combinação instrumental maravilhosa de sons do violino, do contrabaixo, do banjo, das guitarras acústicas, da percussão suave, do clarinete, do saxofone tenor, do piano ou do acordeão) e eximiamente executada, mas, mesmo estando à frente (numa zona onde houve maioritariamente respeito pelo tom mais pausado e melancólico da música de Aubry), há demasiado barulho para que se consiga absorver tudo o que vem do palco. Saúda-se a escolha, em nome da diversidade, mas se calhar bastaria que o palco fosse o da cerca (como no ano passado sucedeu com o projecto mais orquestral de Kimmo Pohjonnen - Uniko), para que o impacto fosse outro. Ou seja, podia ter sido um soberbo concerto, tivesse sido no sítio e no momento certos.

Depois de uma passagem breve pela Cerca, onde actuavam os alentejanos Virgem Suta (não sou, nem de perto, nem de longe, fã desta visão mais descontraída e ligeira da música portuguesa, nem vi grande parte do concerto, pelo que não vou fazer grandes comentários), regresso à Matriz para o concerto de encerramento do palco. Num dia profundamente marcado pela fusão da tradição, seja com o classicismo ou com a modernidade, um exemplo paradigmático dessa realidade é a actuação de Mercan Dede & Secret Tribe. Fundindo música originária do Médio Oriente (no caso, com destaque para a corrente islâmica do sufi) com o poder da electrónica, podem-se encontrar aqui algumas semelhanças estéticas de base com os Watcha Clan, que actuaram no Med no dia anterior, mas a sua concretização é bem diferente. Há aqui uma realidade muito mais orgânica, muito mais respeito pelo legado tradicional e muito mais peso na componente instrumental (em particular, o oud e as percussões e flautas orientais), interpretada pelo turco Mercan Dede e pela banda que o acompanha, os Secret Tribe, constituída por músicos muito jovens, talvez na casa dos 20 anos. Não havendo um lado visual tão forte, ao nível da projecção de imagens, como julgo existir em outros concertos do músico, ganha evidência na fase final do espectáculo a entrada em palco de um casal de bailarinos, para um fantástico momento de complementaridade entre música e dança orientais. Desta forma, ao contrário de outros momentos do festival, Mercan Dede mostrou que é possível dar um excelente espectáculo performativo, sem descurar um lado musical verdadeiramente válido e interessante.

Para encerrar as propostas musicais do certame, o aguardado regresso a Portugal dos Boom Pam, dois anos depois de terem fechado apoteoticamente o Festival de Músicas do Mundo de Sines. Na altura, a ainda relativamente desconhecida banda israelita surpreendeu pela fusão entre o surf-rock (a base predominante) e a música do leste europeu e do médio oriente, nomeadamente o klezmer e a música dos balcãs (ou a música mediterrânica em geral, como realçaram os músicos). Agora em formato trio (com menos um guitarrista, com tuba, guitarra, bateria e voz) e com um novo álbum (não conhecia), os Boom Pam causaram alguma decepção. Exceptuando alguns momentos particularmente interessantes, como a interpretação de "Hashish", em que a banda abandonou o palco como se tivesse terminado o concerto, para depois regressar e prosseguir o tema no ponto onde o interrompeu, o concerto revelou-se muito mais monocórdico e noisy do que em disco e do que sucedeu há dois anos em Sines, notando-se agora muito menos a sua vertente tradicional. Esse facto, talvez encontre justificação no facto da tuba ouvir-se demasiado baixo ou de terem faltado no alinhamento alguns temas óptimos e mais versáteis de Puerto Rican Nights, como "Marilyn Jones" ou "Ay Karmela". Ou isso, ou o cansaço de 4 dias de um festival bastante intenso, tirou alguma clarividência à minha percepção da realidade...

Para finalizar a análise ao festival, resta-me fazer um breve balanço do mesmo. Em termos da concepção genérica e extra-musical do Med, pude confirmar alguns dos seus aspectos mais positivos, nomeadamente a peculiaridade do espaço (que, por outro lado, talvez seja responsável pela concentração de propostas musicais num número de horas por dia relativamente reduzido), a envolvência da cidade no mesmo e a diversidade artística, referindo como principal ponto negativo a questão das banquinhas de discos, já aflorada na análise ao dia 2. Em termos de programação de World Music, realço o ecletismo das escolhas, quer em termos de proveniências, quer em termos de estilos sonoros, e a qualidade genérica das propostas apresentadas, em que destaco Orchestra Babobab e Vieux Farka Touré num primeiro patamar, bem secundados por Goran Bregovic, Galandum Galundaina e Mercan Dede & The Secret Tribe. Talvez tenha estado, contudo, do ponto de vista pessoal, um pouco abaixo da edição do ano passado. Do Med de 2009 (em que estive apenas 3 dias), recordo sem pensar muito 4 óptimos espectáculos: Siba, Justin Adams & Juldeh Camara, Rokia Traoré e Kimmo Pohjonnen. Veremos, daqui a um ano, quais serão as minhas memórias musicais desta edição de 2010...

27.6.10

Festival Med 2010: dia 3 (25 de Junho) - entre Miranda do Douro e Dakar



Início do primeiro dia do fim-de-semana Med com a música tradicional portuguesa, a cargo dos Galandum Galundaina. Há mais de uma década a divulgar a música, as harmonias vocais e os instrumentos das Terras de Miranda (as gaitas, as flautas, os pandeiros, as sanfonas,...) o grupo é um dos maiores porta-estandartes da música da região e um dos maiores responsáveis pela sua crescente importância nos últimos anos. Depois de dois discos unanimemente aclamados, os Galandum regressaram recentemente com um magnífico novo trabalho, Senhor Galandum, em que alteram um pouco a fórmula, acrescentando novos elementos numa lógica de inovação (mas sem perder um pouco que seja de todo o seu carácter genuíno) e contando com convidados de luxo (Uxía, Sérgio Godinho ou Luís Peixoto). Em palco, há um som imponente à espera do público (que reagiu com entusiasmo e em bom número), o cuidado em explicar ao a origem de alguns temas e um sentido de espectáculo e até de humor deliciosos (delirante quando eles referem que não vai haver encore, porque o tempo que perderiam a sair e a voltar seria musicalmente desperdiçado). Um óptimo concerto, de uma das grandes bandas portuguesas do momento (e grandes divulgadores culturais), algo que só não é mediaticamente reconhecido porque este é um país onde abunda a pobreza de espírito, capaz de renegar o seu espólio cultural e os seus principais transmissores.


Depois do fim do concerto dos Galandum, passagem breve pelo Palco da Matriz, para a parte final do espectáculo dos 3 Pianos, projecto que reúne 3 grandes pianistas portugueses, Pedro Burmester, Mário Laginha e Bernardo Sassetti. Viu-se muito pouco ("Bolero" de Ravel e um improviso final, apenas com um piano), mas talvez o suficiente para se perceber que, independentemente do valor do projecto, dificilmente o concerto poderia adequar-se a este palco do Med. O espaço é muito aberto, há uma grande dispersão de som de não existe o intimismo para que a música seja apreciada de forma devida.


Passagem fugaz pelo palco da cerca, onde já havia começado o concerto de Anaquim, grupo cuja portugalidade assenta ainda mais nas letras (também daí algumas comparações que têm surgido com Sérgio Godinho) do que no lado musical propriamente dito, com um lado fortemente pop. Ouve-se ao longe os seus temas mais conhecidos, "A Vida dos Outros" e "Na Minha Rua", uma versão curiosa de "A Morte Saiu à Rua" de Zeca Afonso ou a nostalgia infantil com a recriação do tema da série Tom Sawyer, mas o trânsito entre concertos, a entrevista com os Galandum Galundaina e a vontade inequívoca de ver a Orchestra Baobab, não permitiram uma opinião mais concreta.


Foi surpreendentemente uma plateia apenas razoavelmente preenchida que recebeu a Orchestra Baobab (consta que, por esta hora, o espaço do Castelo estava cheio a ver Legendary Tiger Man). Dizia a equipa do "Artesanato Sonoro" há 2 anos atrás, quando o grupo senegalês esteve em Sines, que, ao contrário do que sucede com grande parte dos projectos ocidentais, as bandas africanas sabem envelhecer. Acrescento mais: sabem aproveitar bem as suas 2ª vidas musicais para enriquecerem o seu currículo e não apenas... a conta bancária. É o que sucede com a Orchestra Baobab, mítico projecto africano dos anos 70 e 80 que voltou verdadeiramente à ribalta no século XXI, com pelo menos dois discos magníficos: Specialists in all styles e o mais recente Made in Dakar. Ao vivo, os músicos não se limitam a aproveitar a magia irresistível dos sons afro-cubanos. Fazem versões ampliadas (de temas como "On Verra Ça", "Nijaay" ou, em crioulo português, "Ami Kita Bay") e muito dadas ao improviso, com prodigiosos solos de guitarra, o poder da percussão (em particular das congas) e os cirúrgicos elementos de saxofone, revelam um carisma incrível (mesmo que, por vezes, de forma excêntrica, como ia sucedendo com um dos saxofonistas) e comunicam com o público em boa medida, sem grandes truques tentadoramente simplistas. Destaque também para a forma como iniciam o encore, com os instrumentos a entrarem pouco a pouco: primeiro o saxofone, depois a percussão e só por fim as guitarras, criando um efeito de crescendo notável. Sem mais palavras, um dos grandes concertos do festival...


Para o final de noite, os sons transe dos Step Line Project (com o impacto do didgeridoo) e, no palco da cerca, os Watcha Clan, responsáveis pela fusão de alguns elementos tradicionais (africanos, judaicos ou principalmente do Médio Oriente) com o evidente predomínio das gravações electrónicas. Levaram ao delírio algum público, mas, para mim, limitaram-se a assassinar a música étnica que lhes serviu de base.

26.6.10

Festival Med 2010: dia 2 (24 de Junho) - a loucura sérvia



Foi com um recinto relativamente cheio (mas longe do que julgo ser esperado no fim-de-semana) que decorreu o 2º dia do festival.


Em termos de propostas musicais, a noite iniciou-se com um dos primeiros projectos nacionais dedicados ao Afrobeat, os Cacique'97. Com um alinhamento repartido entre originais, incluindo o óptimo "Come From Nigeria" ou o panfletário "Eu quero tudo para toda a gente", uma versão agradavelmente transfigurada de "Jorge da Capadócia" de Jorge Ben e outra bastante fiel (o que, no caso, só pode ser motivo de elogio) de "Lady" do incontornável Fela Kuti, a banda mostra ser possível, com humildade e profundo respeito pela obra dos grandes mestres, fazer boa música do género em Portugal. Mesmo sendo provenientes de um habitat bem afastado das origens nigerianas do Afrobeat e mesmo faltando-lhe alguma experiência e carisma para que possam justificar uma opinião ainda mais positiva. Pena foi que tivessem tocado tão cedo, numa altura em que muita gente entrava ainda no recinto e outra se deslocava até à Matriz, para o concerto mais aguardado da noite...


Pouco falta para as 23h quando se iniciou o concerto de Goran Bregovic and His Wedding & Funeral Band. O músico sérvio começou por se celebrizar nos anos 90 pelas composições para os filmes de Kusturica, antes de assumir individualmente o protagonismo, tendo-lhe valido o seu último disco, Alcohol de 2009, o prémio para o melhor artista do ano, segundo a revista britânica de World Music, Songlines (prémio este que foi entregue ao músico na parte final do concerto). No concerto do Med, houve lugar a um início com alguns músicos a tocarem na plateia, à presença em palco de (muitos) sopros, acordeão, percussão e duas cantoras búlgaras, a uma interpretação vocal de "Ausência" de Cesária Évora (do filme Underground) por um homem (?!), a um tema supostamente cantado por uma mulher, quando parece que quem o fez foi o próprio Bregovic (?!), à loucura com a readaptação de um tema tradicional, celebrizado pela Fanfare Ciocarlia enquanto "Sandala" (que consta de Alcohol), seguido de um tema mais próximo do imagiário de Leonard Cohen (?!) do que da fanfarra balcânica (bem, não exageremos), a um espectáculo previsivelmente imprevisível... Confuso? É como a caótica realidade sérvia apresentada por Kusturica nos seus filmes.


Abandonando o concerto de Bregovic na sua fase derradeira, ainda se foi a tempo de assistir a um pouquinho da performance dos portugueses Anderson Molière no Palco do Castelo. Com um verdadeiro cocktail que passa pelo classicismo, pelo klezmer, pelo cabaret ou pela música pop, os músicos revelam ao vivo uma postura tremendamente teatral (daí parte do nome da banda) e jocosamente surrealista. Curioso, mas a exigir um conhecimento mais alargado, para que se perceba se é apenas um divertimento relativamente inconsequente (como alguns projectos do género) ou se é efectivamente um consistente e interessante projecto subversivo da lógica tradicional.


Para o fim da noite no Palco Cerca, King Khan & The Shrines, projecto bastante mais próximo do garage rock e do rock'n'roll do que de grande parte das propostas étnicas do festival e que cairia provavelmente bem num DJ set das The Ruquettes. Uma aposta estranha, um tipo de som que não costumo acompanhar, mas que levou à euforia uma franja de público que não se importou nada com este desvio programático.


À saída, depois de um kebab regenerador (que o jantar do chefe Chakall pode ter sido uma iguaria exótica, mas foi de conteúdo escasso), passagem pelas banquinhas dos discos, onde no ano passado se podia encontrar a Mega Músic, com um espólio relativamente grande e diversificado de CD's de World e com preços bastante convidativos (ainda para mais atendendo a este mercado, tendencialmente mais caro). Qual não é o espanto quando nos apercebemos que, ao invés de o fazer à Mega Music, a organização decidiu concessionar o espaço à generalista Fnac (?!), com um número muito reduzido de propostas e a preços normais. Espero que o público lhe faça a devida justiça e ignore convenientemente este espaço, de forma a que este erro não se repita.

24.6.10

Festival MED 2010: dia 1 (23 de Junho) - a diversidade da música africana



Primeiro dia de festival, dia de sentir o seu pulsar, de recordar o seu espaço peculiar, situado em pleno centro histórico de Loulé, envolvendo as suas lojas, os seus restaurantes ou as suas gentes, e de recuperar a localização dos palcos e dos respectivos caminhos entre eles (ou talvez não). É também o primeiro de quatro dias de grande riqueza musical, num festival com a sua programação repartida em vários palcos e condensada num algo curto espaço de tempo por noite, o que nos obriga inevitavelmente a fazer escolhas e a abdicar ou a dar pouca atenção a alguns nomes importantes, como aconteceu neste primeiro dia com Zeca Medeiros.
Em particular, por opção da organização ou por mera coincidência na agenda dos músicos, este dia reunia desde logo dois dos mais aguardados concertos do festival (ambos de música africana), em que um confirmou bastante mais as expectativas do que o outro, como se veria mais tarde...

Enquanto observador, a noite começou para mim com Amparo Sanchez. Depois dos Amparanoia, a cantora espanhola revela-se agora a solo mais madura, o que, no caso, não implica maior comodismo, mas sim uma toada sonora mais apurada. Tal como acontece com os Ojos de Brujo, também não sou fã da fusão da música latina com outras sonoridades protagonizada pelos Amparanoia, pelo que saúdo esta inversão musical, traduzida com grande relevo pela mudança nos horizontes geográficos, agora centrados no México, no Oeste Americano, e em Cuba, rodeando-se no disco Tucson Havana de ilustres convidados, como os Calexico ou Omara Portuondo. Em palco, com um alinhamento essencialmente dedicado a este disco, a intérprete dá um concerto relativamente morno, mas interessante, em que deixa bem vincado o seu timbre quente e grave e em que os melhores momentos são marcados pela presença do trompete, independentemente das vertentes sonoras envolvidas. Para o fim, deixa uma mensagem de um tema cubano para afastar a má-sorte e atrair as boas vibrações, rendamo-nos a ela.


De seguida, passagem para o palco da Matriz, onde se inciava o concerto de Femi Kuti & The Positive Force. Filho da grande lenda do Afrobeat, Fela Kuti, e já com mais de 20 anos de carreira, Femi mantém na sua música grande parte dos condimentos da sonoridade do pai, incluindo o intevencionismo social, mas incrementa-lhe alguns aspectos de natureza ainda mais urbana. O concerto de ontem foi marcado por alguns problemas de natureza técnica, nomeadamente a ausência quase total do som do baixo (notava-se principalmente no arranque dos temas, antes dos sopros e da percussão tomarem o protagonismo) e das vozes das cantoras / dançarinas de apoio ou alguns feedbacks, pela ausência de grandes fogachos, por demasiado show-off peformativo do nigeriano e até pelo palpite de que, em termos musicais, há ali "muita parra e pouca uva". Mas ao vivo isso conta muito e afrobeat é afrobeat, pelo que é suficiente para que o concerto seja, durante um longo período, um processo rítmico irresistível. Até ao momento em que nos saturamos e sentimos saudades da maior consistência musical do seu irmão Seun Kuti, que deu no ano passado um fabuloso concerto no CCB.

Depois de espreitar a fadista Isa Brito e o hip-hop explosivo e transmutado dos Macacos do Chinês, de provar um folhado de Loulé e um licor de alfarroba e de me perder algumas vezes no caminho, final de noite no palco da cerca com Vieux Farka Touré. Da Nigéria para o Mali, da África Anglófona para a Francófona, do Afrobeat para o blues, a mudança nos ritmos africanos é significativa... até em termos qualitativos. O músico maliano, filho da grande lenda do blues africano Ali Farka Touré (uma noite de filhos de gente ilustre, não haja dúvida), editou em 2009 um dos mais aclamados discos de World Music do ano, intitulado Fondo (não o ouvi com a devida atenção) e a sua transposição para palco é arrebatadora. Com o virtuosismo das guitarras africanas e com as brilhantes acelerações rítmicas, a cargo das percussões tradicionais e de um fabuloso baterista ocidental, Vieux Farka Touré deu o primeiro grande concerto da edição 2010 do Med (pelo menos, considerando o que assisti). Depois da explosão, que pôs toda a gente a dançar freneticamente, veio um final com percussão minimal, marcado por uma profunda espiritualidade (Vieux Farka tentou dedicar esta música a alguém, mas as limitações do seu inglês são evidentes e a sua mensagem foi incompreensível) e pela comunhão com o público. Um final que termina com todas as dúvidas, bendito sejas Vieux Farka por não teres seguido os desejos de teu pai (Ali Farka não queria que o seu filho fosse músico). Assim, o legado de Ali Farka Touré está seguramente bem entregue.

22.6.10

Fausto, CCB, 19 de Junho: reportagem

Quero começar este meu texto por assumir os meus pecados: até há bem pouco tempo (dois, três anos) não era particularmente apreciador da música de Fausto Bordalo Dias. Heresia não desculpável, claro está. Pois bem, ao contrário do que sucedeu com Zeca Afonso, Sérgio Godinho ou José Mário Branco, em que fiquei convertido de imediato aos seus méritos, tive bastante mais dificuldade em apreciar devidamente a música deste grande vulto da música nacional. Ouvindo apenas alguns temas soltos (algo que facilmente subverte a opinião que se tem da carreira de um músico), sentia que estava muito aquém da profundidade e intensidade da obra dos grandes senhores anteriormente referidos. O momento da viragem deu-se com a audição integral (imperdoavelmente tardia) de Por este rio acima, disco baseado na Peregrinação de Fernão Mendes Pinto. É certo que nele a conjugação da música popular portuguesa, da urgência lírica de Fausto, dos fabulosos coros ou da toada mais lenta e introspectiva é brilhante. Mas o que mais impressiona no disco e que mais contribui para o seu estatuto de obra-prima é a consistência deste álbum conceptual, a incrível produção e o arrojo sonoro, que o tornam, no contexto da música portuguesa da época, numa pérola verdadeiramente vanguardista, completamente à frente do seu tempo. Depois disto, fui ouvir melhor a obra do músico e, embora o tenha feito com uma aceitação muito mais positiva, não tenho dúvidas em considerar que Por este rio acima está muitos furos acima da globalidade do trabalho de Fausto, incluindo o recomendável Crónicas da Terra Ardente, segundo volume da trilogia dedicada à diáspora lusitana. Foi esta trilogia, cujo terceiro volume sairá este ano, que Fausto Bordalo Dias veio apresentar ao CCB, no ciclo “Carta Branca”, que já contou com nomes como Jorge Palma ou Camané. Um concerto dividido em três partes, correspondentes a cada um dos episódios deste tríptico épico.

I – (Futuro Album)

Foi em jeito de analepse que decorreu o espectáculo, começando pelo epílogo desta epopeia, ainda sem título designado. “E fomos pela água do rio” foi o primeiro tema interpretado e foi um magnífico começo, com os teclados em inequívoco destaque e com uma soberba toada melancólica e algo erudita, a fazer lembrar, a espaços, algumas das brilhantes composições de Rodrigo Leão. Depois de dois temas menos interessantes, o primeiro com uns toques jazzísticos dispensáveis (compensados pelos sempre incríveis e acelerados jogos de palavras e truques líricos de Fausto, capazes de imprimir uma dinâmica incrível às músicas) e o segundo com uma vertente popular mais easy-listening, veio um tema mais forte do ponto de vista da percussão, intitulado “Nos Palmares das Baías”. Depois de duas bonitas baladas, a sequência inicial do novo registo discográfico, cuja ordem foi integralmente respeitada, terminaria com o novamente mais ritmado “À sombra das ciladas”. Depois desta sequência, foi ainda interpretado um outro tema do novo disco, mas antes teve lugar um dos raros momentos de comunicação com o público. Nela, o músico falou do novo disco, da sua abordagem aos episódios terrestres dos descobrimentos (em contraste com a vertente marítima dois tomos anteriores), avisou, de forma veemente, para o público não vislumbrar na construção rítmica quaisquer elementos africanos, mas apenas aspectos tradicionais portugueses (é certo que é verdade, mas foi descabido o tom – haveria algum mal se isso acontecesse?) e saudou a direcção musical do grandioso José Mário Branco. Foi com ele em palco, de adufe em punho, que se fechou esta primeira parte com “Por altas e serras de montanhas”. Não tendo deslumbrado, fica uma impressão positiva desta primeira apresentação do novo disco. Haverá, contudo, ainda muito por explorar, não só nos temas que ficaram por tocar, mas também por estes que passaram pelo CCB. É que um dos problemas do concerto foi a estrutura demasiado convencional da banda de apoio de Fausto, faltando diversos instrumentos como sopros de qualquer tipo ou de cordas (violinos, guitarra portuguesa, bandolim, etc), sendo os seus sons assegurados pelos teclados, com um resultado demasiado artificial.

II – Crónicas da Terra Ardente

Sem pausas, iniciou-se a segunda parte do espectáculo, dedicada a Crónicas da Terra Ardente (disco intermédio da trilogia, lançado em 1996), com o muito aplaudido “Ao som do mar e do vento”. Depois de mais dois temas deste disco, um dos quais com aproximação a terrenos mais rock, pela influência da guitarra eléctrica, veio talvez o período alto do concerto. Começando com uma simultaneamente crua e poderosa interpretação de “Na ponta do cabo”, apenas com voz e percussão (tal como em disco) e plena de alma e de garra, e terminando com o mais tradicional “Os Náufragos”, com o acordeão e os jogos vocais a criarem uma ambiência festiva, a metade final desta segunda parte foi talvez o melhor período do espectáculo. Pelo meio, houve ainda o incrível “O Mar”, apenas com voz e guitarra acústica, e a cadência notável de “A Chusma salva-se assim”, que, pela sua maior simplicidade estética e menor exigência instrumental em palco (pelo menos do ponto de vista tradicional), funcionaram particularmente bem.

III – Por Este Rio Acima

Depois de um interessante interlúdio, apenas com percussão, foi com o tom lento do tema título da obra aclamada que se iniciou a terceira e última parte do espectáculo. Num disco tão incrível e que vale essencialmente pela sua globalidade, é difícil e até inconveniente destacar um ou outro momento. Todavia, não resisto a valorizar acima de qualquer outro ”Como um sonho acordado”, pela conjugação complexa de instrumentos, pelo impacto das palavras, pelas suas variações sonoras e rítmicas, por aquele arrebatador crescendo final, por tudo o que lhe garante, para mim, um lugar numa virtual lista dos melhores temas portugueses de sempre. Foi o segundo tema desta parte e, contudo, uma das grandes desilusões da noite: o final não teve a força e a alma do disco e foi das músicas em que mais se sentiu o défice instrumental da banda. Para compensar, veio de seguida uma interessante versão de “Olha o Fado” (apesar da ausência da guitarra portuguesa), nomeadamente na parte final em coro, e a emotiva e sublime interpretação do lindíssimo “Lembra-me um sonho lindo”. Para o fim, o aplauso efusivo e a previsível celebração com “A Guerra é a Guerra”, “O Barco Vai de Saída” e, num encore e de forma surpreendente (no alinhamento figurava “Porque não me vês” como 7º tema de Por Este Rio Acima), “Navegar Navegar”, talvez o tema mais conhecido de toda a carreira de Fausto.

E assim terminou o concerto de uma das grandes lendas vivas da música portuguesa, um dos resistentes da música de intervenção (e que falta ela faz num mundo onde abunda a tecnocracia e a carência de fortes valores ideológicos), embora, como se repara nesta trilogia, com um âmbito lírico alargado para outras áreas. Não terá sido um concerto brilhante, nem provavelmente muito bom – tal como na música de Sérgio Godinho, os arranjos demasiado uniformizados, estilizados e acomodados, faltando arrojo e um pouco de chama, prejudicam um pouco a transposição para palco do seu fantástico universo musical. No entanto, foi suficientemente genuíno para que tivesse valido a pena, para que continue a ser um motivo de grande satisfação e um momento indubitavelmente especial assistir a um concerto de Fausto Bordalo Dias.

(texto escrito originalmente para o site musical “O Ponto Alternativo”)

21.6.10

Festival MED - emissão especial



De 23 a 27 de Junho, Loulé recebe a 7ª edição do Festival MED. Para além da sua oferta em diferentes áreas, como a gastronomia, o artesanato ou o teatro, o festival conta este ano com grandes nomes da World Music, como Femi Kuti, Vieux Farka Touré, Goran Bregovic, Orchestra Baobab, René Aubry ou Boom Pam.
Assim sendo, neste Domingo, 20 de Junho, o "Artesanato Sonoro" dedicou uma emissão especial a este certame que, se não houver nenhum problema de natureza profissional, terá o nosso acompanhamento.

Nota: Como, por problemas técnicos, apenas foi transmitido metade deste especial (gravado previamente), este será reposto na íntegra nesta 2ª feira, 21 de Junho, no horário do programa "Culturama", entre as 16h e as 17h.

13.6.10

13 Junho 2010

Brazilian Groove Band - Safari - Anatomy of Groove
João Gilberto - Você Vai Ver - Voz e Violão
João Gilberto - Chega de Saudade - Voz e Violão


African Pearls: Congo - Pont Sur le Congo:
Kiam - Kamiki
Empire Bakuba - Kanu
Franco - Regina
Bavon Marie Marie - Ya Limbisa Bijou
Trio Madjesi - Photo Ya Majesi

Toots & The Maytals - Do The Reggae - Do The Reggae
Alton Ellis - La La Means I Love You - Cry Tough
La Rue Ketanou - On S´Emmène - Ouvert à Double Tour

Etiquetas:

11.6.10

Deolinda, CCB, 8 de Junho: reportagem


Corria o ano de 2007 quando os Deolinda deram nas vistas na compilação Novos Talentos FNAC. Apostando na desconstrução do fado, quer no conteúdo musical (na ausência de guitarra portuguesa ou no lado satírico das letras), quer na forma (vivacidade e cor como condimentos essenciais), o grupo lançou no ano seguinte o seu disco de estreia, Canção ao Lado. Com autênticos hinos do imaginário colectivo, como "Fado Toninho" ou "Movimento Perpétuo Associativo", rapidamente o álbum conquistou simultaneamente o aplauso da crítica e a veneração do público. Depois de muitos concertos, passagem por importantes festivais e edição internacional de Canção ao Lado, o projecto regressou em 2010 com um novo trabalho, intitulado Dois Selos e um Carimbo.


Perante o retumbante êxito do registo de estreia, era elevada (tal como sucede habitualmente nestes casos) a expectativa e a responsabilidade da banda para este disco. Ao ouvi-lo pelas primeiras vezes, facilmente nos apercebemos tratar-se de uma obra mais melancólica e intimista (destaque para o lindíssimo "Passou por Mim e Sorriu"), apostando numa vertente mais poética, e só a espaços (como no single "Um Contra o Outro") com o ritmo irresistível da maioria dos temas do álbum de estreia. Para além disso, fica a ideia inicial de que grande parte da ironia lírica, do sentido satírico, se desvaneceu neste disco, ideia essa que, após uma atenção mais pormenorizada, se percebe ser apenas aparente. O apelo à irreverência do single, a referência ao mediatismo saloio de "Ignaras Vedetas" (uma versão simplificada do óptimo "O Rei do Zum Zum" de Sérgio Godinho) ou a denúncia da mania bacoca das grandezas e da mesquinhez de empurrar as culpas próprias para o vizinho, no fabuloso "A Problemática Colocação do Mastro", mostram que os Deolinda mantiveram a essência da sua identidade criativa. Pode haver alguns passos em falso, como o inconsequente "Sem noção", "Patinho de Borracha" (aquele refrão remete perigosamente para recriações easy-listening duvidosas do universo popular, como acontece com grupos como as Xaile) ou a aproximação bem perigosa à fase decadente dos Madredeus em "Uma Ilha", e a evolução do som da banda pode não ser um gigante passo em frente, mas a generalidade dos temas, nomeadamente os seus pontos mais altos, tornam este sempre difícil segundo disco dos Deolinda num óptimo trabalho.


Foi na tournée de apresentação deste Dois Selos e um Carimbo que se inseriu este concerto (aliás o disco foi tocado na íntegra e, pela forma calorosa como foi recebido, os seus temas já sao francamente conhecidos), decorrido num CCB cheio de público. Foi com "Se uma onda invertesse a marcha", tema de abertura do disco, que se iniciou, de forma relativamente morna, o espectáculo. Poderia ser o indício de um concerto algo insípido e pouco dinâmico (até pela natureza mais calma da maioria do repertório do último disco), mas rapidamente se desmentiu essa percepção inicial. Não só pela cadência rítmica da interpretação do tema seguinte, "Não Tenho Mais Razões", mas porque cedo se percebeu que apesar do profundo profissionalismo dos músicos, os Deolinda não perderam toda a genuinidade dos primórdios. Depois da primeira passagem por Canção ao Lado, com "Contado Ninguém Acredita", surgiram dois dos temas maiores do último disco: o muito celebrado single "Um Contra o Outro" e "Passou por Mim e Sorriu", que começou intermitente, com uma despropositada intervenção do público, num tema que se deseja sentido em silêncio, mas que depois teve toda a magia da versão original, nomeadamente no brilhantismo da urgência vocal no refrão.


Mais tarde, surgiu uma das surpresas do espectáculo, quando entrou em palco um quarteto de cordas para dar corpo à interpretação de "Ignaras Vedetas", com um sentido classicista muito bonito, e para uma participação pouco significativa num "face lift" (assim designado pelos Deolinda) de "Mal por Mal". Entretanto, o desenrolar do concerto foi comprovando, de forma clara, o enorme talento de Ana Bacalhau. Não só na forma brilhante como aborda registos vocais muito distintos (entre a melancolia e a garra, entre a beleza e a intensidade), mas também pela sua extraordinária presença, revelando uma boa disposição e uma expressividade invejáveis e um sentido de comunicação e de empatia com o público impressionantes. Neste âmbito, destaca-se o momento em que a intérprete sobe para o estrado onde se encontram os seus companheiros "deolindos" para, segundo ela, cantar "Canção da tal Guitarra","Fado Notário" (o amor e a burocracia, lado a lado???) e "O Fado Não é Mau" entre os dois guitarristas, lado a lado ou ligeiramente atrás, como manda a tradição do fado. Estas palavras justificam uma gargalhada da plateia, pois, como sabemos, se é coisa que os Deolinda não fazem (e ainda bem) é respeitar religiosamente os cânones instituídos do género. Já na fase final, merecem destaque o epílogo de "Entre Alvalade e as Portas de Benfica", com a confluência entre o trinado da guitarra dos irmãos Martins e a suavidade vocal de Ana (sentada numa cadeira), e os arrebatadores e viciantes "Fon Fon", "Quando Janto em restaurantes" (óptimos, o crescendo final e o diálogo entre Ana Bacalhau e Pedro da Silva Martins) e, claro, "A Problemática Colocação de Mastro" (com mais uma deliciosa introdução, como aconteceu com variadíssimos temas).


Já depois de um logo rol de agradecimentos e da despedida de palco, veio o 1º encore, com "Uma Ilha" (felizmente, menos colado aos Madredeus) e o hino popular "Movimento Perpétuo Associativo". Teria sido um final apropriado, tal como se tivessem terminado com "Clandestino" (já no 2º encore), em jeito de anti-climax surpreendente e perfeito. No entanto, houve ainda lugar a uma despropositada repetição de "Um Contra o Outro", a que se seguiu, num 3º encore e ainda com menos sentido, "Mal por Mal", também pela 2ª vez e novamente com o mesmo quarteto de cordas (compreendia-se a repetição de "Fon Fon Fon" na digressão anterior pois o repertório era curto, mas agora, já com dois discos editados, este tipo de trunfos é perfeitamente escusado). Contudo, isso não foi suficiente para diminuir consideravelmente a impressão altamente positiva que os Deolinda voltaram a deixar nesta sua actuação ao vivo, restando agora saber como irão adaptar o alinhamento quanto tocarem em espaços maiores. Este foi aliás um dia em cheio para os Deolinda, pois para além da óptima recepção que tiveram neste espectáculo do CCB, receberam ao final da tarde o prémio de revelação World Music, atribuído pela revista britânica Songlines. Se juntarmos a isto o nº1 de vendas de Dois Selos e um Carimbo, verificamos que o projecto cimentou ainda mais o estatuto comercial criado anteriormente, algo que, num mercado musical marcado pela aposta na mediocridade, quer em termos editoriais, quer em termos radiofónicos (os próprios Deolinda continuam a não rodar na maior parte das rádios generalistas), nos deve satisfazer. Com uma identidade muito própria e já extremamente vincada, com um sentido de espectáculo notável e liderados por uma performer de excelência, os Deolinda são das poucas bandas que, na actualidade, merecem francamente o sucesso que alcançaram. Celebremos, pois...

6.6.10

6 Junho 2010

Zeca Medeiros - Cançoneta do Forte Fraquinho - Torna-Viagem
Lhasa de Sela - El Desierto - La Lhorona
Kepa Junkera - Bok Espok - Bilbao 0h
Louise Attaque - Je t`emmène au vent - Louise Attaque
Pascal Comelade - The Blank Invasion of Schizofonics Bikinis - Psicotic Music Hall
The Bad Plus - Smells Like Teen Spirit - These Are The Vistas



El Rego Et Ses Commandos - Feeling You Got - Legends Of Benin
Gnonnas Pedro & Ses Dadjes - La Musica En Vérité - Legends of Benin
Gnonnas Pedro & Ses Panchos - Okpo Videa Bassouo - Legends of Benin
Group Bombino - Imuhar - Guitars From Agadez Vol.2
Gnawa Njoum Experience - Kami Ni Mantara - Boum Ba Clash
Gnawa Njoum Experience - Sassadi Manayo - Boum Ba Clash
Vis A Vis - Obi Agye Me Dofo - Ghana Special: Modern Highlife, Afro-Sounds & Ghanaian Blues 68-81

Etiquetas:

Emissão de 5 de Junho de 2010


Emissão dedicada à música tradicional europeia (a uma muito restrita parte, naturalmente), tendo contado com o seguinte alinhamento:

1. Kumpania Algazarra – Gipsey Reggae (Kumpania Algazarra, 2008);
2. Mahala Rai Banda – Mahalageasca (Mahala Rai Banda, 2004);
3. Emir Kusturica & The No Somoking Orchestra – Unza Unza Time (Unza Unza Time, 1999);
4. Goran Bregovic – Kalasnjikov (Undergound OST, 1995);
5. Eleni Vitali – To Tsantiraki (The Rough Guide to Balkan Gypsies, 2005);
6. Circo Abusivo – Sandella Style (Valtellazija Revolucija, 2009);
7. La Notte Della Taranta – Nu Baciu 'Ncanna (La Notte della Taranta 2006, 2006);
8. Liquid Clarinets – Salita al Monte Vergine / Traditional Tarantella (Liquid Clarinets, 2009);
9. The Chieftains & Ry Cooder – March to the Battle (across the Rio Grande) (San Patricio, 2010);
10. Unthanks – Here's The Tender Coming (Here's the Tender Coming, 2008);
11. Unthanks – Sad February (Here's the Tender Coming, 2009);
12. Deolinda – Ignaras Vedetas (Dois Selos e um Carimbo, 2010);

4.6.10

23 Maio 2010

Frankie Paul - Call The Brigade - The Rise of Jamaican Dancehall Culture
Triston Palma - Entertainment - The Rise of Jamaican Dancehall Culture
Cornell Campbell - Mash You Down - The Rise of Jamaican Dancehall Culture
Tenor Saw - Pumpkin Belly - The Rise of Jamaican Dancehall Culture
Derrick Laro & Trinity - Don´t Stop Till You Get Enough - Hustle! Reggae Disco
Carol Cool - Upside Down - Hustle! Reggae Disco



Kuusumun Profeeta - Kovin Lentäen Kotiin Kaipaan - Jazzflora: Scandinavian Aspects of Jazz
Augustus Pablo - Baby I Love You So - Dub, Reggae & Roots from the Melodica King
Fela Kuti - Ariya - The Underground Spiritual Game
Ouinsou Corneille & Black Santiagos - Vinou So Minsou - African Scream Contest: Raw & Psychedelic Sounds from Benin & Togo 70s
Vincent Ahehehinnou - Ou C`est Lui Ou C`est Moi - African Scream Contest: Raw & Psychedelic Sounds from Benin & Togo 70s

Etiquetas:

16 Maio 2010

Joi - Everybody Say Yeah - One and One is One
Jolly Mukkerjee & Madras Cinematic Orchestra - Bhatiyali - Fusebox
Groupe El Azhar - Mazal Nesker Mazal - 1970´s Algerian Proto-Rai Underground
Fanfare Ciocarlia - Caravn - Gili Garabdi
Kočani Orkestar - Iki Iki Baba - Alone at My Wedding



Yann Tiersen - Sur Le Fil - Black Session
Yann Tiersen - La Crise - Black Session
Yann Tiersen & Dominique A. - Monochrome - Black Session
Erik Truffaz - Siegfried - The Dawn
Moreno Veloso +2 - Rio Longe - Music Typewriter
Einstürzende Neubauten - Perpetuum Mobile - Perpetuum Mobile

Etiquetas:

<