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30.6.09

Festival MED Loulé 2009

Festival MED Loulé 2009

A sexta edição do festival MED de Loulé decorreu entre 24 e 28 de Junho. O Artesanato Sonoro cobriu o evento nos dias 26,27 e 28. Num festival que tem crescido de ano para ano, os cabeças-de-cartaz actuaram nos palcos da Cerca e da Matriz, os dois principais - num total de seis. Destaque para a presença de nomes como Orquestra Buena Vista Social Club , Kimmo Pohjonen, Justin Adams&Juldeh Camara, La Notte Della Taranta feat. Stewart Copeland e Rokia Traoré.
Realce para o facto dos dias do festival terminarem relativamente cedo (as últimas actuações terminaram cerca das 2 da manhã na Sexta e no Domingo, um pouco mais tarde no Sábado) e para a ausência de grandes momentos mortos, existindo mesmo vários concertos a decorrerem em simultâneo. Se por um lado garante um leque forte de alternativas diversas ao espectador, por outro obriga-nos a fazer algumas escolhas discutíveis, abdicando de alguns concertos (casos de DJ Click, Mutenrohi ou Filipa Pais) e/ou a não desfrutar convenientemente de outros (Hristov, Pitingo, Camané ou Lura). São as vicissitudes de uma vasta oferta, mas, em todo o caso, é algo que poderia eventualmente ser melhor articulado no futuro.
Por outro lado, para quem pela primeira vez se desloca ao festival, é uma grande surpresa o tipo de local em que se realiza o certame: em vez de um recinto destinado a concertos ou preparado propositadamente para o festival, o espectador depara-se com um espaço situado no coração da cidade de Loulé, enquadrado em pleno centro histórico e contendo as suas ruas típicas, com uma dimensão grande e rústica, onde cabem 6 palcos musicais, bares e restauração diversa, com condimentos de diferentes paragens geográficas, espaços para os mais novos ou comércio de cariz tradicional. Concluíndo, um espaço acolhedor e ideal para receber um festival deste tipo e que contou nas noites que presenciámos com milhares de espectadores (6 ou 7 mil, pelos números que se foram ouvindo), o que mostra bem o crescente entusiasmo que as músicas do Mundo têm gerado em Portugal, algo que naturalmente nos deixa bastante satisfeitos.

Sexta-feira,26


Hristov

Este trio, com secção instrumental a cargo de clarinete, acordeão e bateria, foi seguramente uma das boas surpresas deste MED. Com uma sonoridade bastante dançável, assente na paixão pela música klezmer e do leste europeu, os Hristov contagiaram o pouco público presente. Pena foi que, em função da proximidade do concerto da Orquestra Buena Vista Social Club, não tivéssemos assistido ao concerto na íntegra. Em todo o caso, fica a curiosidade em conhecer melhor este projecto búlgaro.

Orquestra do Buena Vista Social Club

Era seguramente um dos concertos mais aguardados da noite e de todo o festival e, para quem não está muito familiarizado com os ritmos cubanos, terá saído porventura maravilhado com o poder mágico de estilos como a rumba ou a salsa. Para nós, que conhecemos o trabalho notável que Ry Cooder impulsionou com os Buena Vista e alguma obra de elementos como Ibrahim Ferrer, Compay Segundo ou Ruben Gonzales , soube a pouco. Com uma formação naturalmente desfalcada (grande parte dos membros já faleceram), com uns arranjos demasiado extravagantes e com um jovem vocalista com um protagonismo excessivo, na forma de um questionável enternainer, só não foi uma grande decepção, porque a nossa expectativa, em função da realidade actual do projecto, já era relativamente reduzida. Valeu o facto de ver ao vivo Guajiro Mirabal e, essencialmente, o grande Barbarito Torres, que deu brilho a uma morna actuação.

Pitingo

Pitingo é um jovem espanhol, nascido em Huelva e que decidiu misturar a linguagem tradicional do flamengo, com o soul ou o r'n'b. Com contornos claramente pop, a sua fusão enquadra-se na lógica mais easy listening do panorama world music, resultando num som de qualidade pouco consensual. Num concerto com alguns problemas técnicos, a proliferação de propostas musicais e de sabores gastronómicos diversos no recinto, im pediu-nos de ver grande parte do concerto e de ter uma opinião mais fundamentada.

Sábado,27


Siba e a Fuloresta

Foi, para nós, o concerto revelação do festival. Não tínhamos visto Siba a actuar na última edição do FMM de Sines. Desta vez, chegámos a tempo de ver o concerto e de perceber que Siba é único no panorama musical brasileiro. Sérgio Veloso, ex elemento de Mestre Ambrósio, foi um dos principais dinamizadores da noite. As suas letras, sempre críticas e cheias de humor, foram magnificamente acompanhadas, por detrás da "fuloresta", pelo espectáculo sonoro e visual dos ritmos dos sopros e das percussões. A modernização do repertório nordestino passa por homens como Siba. Ainda bem...

Camané

Camané é uma das melhores vozes do fado. Acompanhado por músicos virtuosos (o próprio Camané fez questão de o dizer durante o concerto), Camané atraiu muito público ao palco da Matriz e cantou alguns clássicos do imaginário colectivo. Merece toda a projecção que tem.

Lura

Na mesma linhagem de cantoras como Sara Tavares ou Mayra Andrade, Lura é mais uma das novas vozes da música de Ca bo Verde, confluindo na sua música os ritmos tradicionais das suas origens africanas e uma perspectiva profundamente ocidental. No MED, Lura mostrou o lado pop da música cabo-verdiana, num concerto aparentemente interessante e com muito ritmo, mas sem deslumbrar.

Justin Adams&Juldeh Camara

Não é preciso grande sensibilidade musical para perceber que a colaboração entre Justin Adams e Juldeh Camara resulta de uma forma quase perfeita (a aproximação ao blues da guitarra de Justin ajusta-se, na medida exacta, ao som do riti de Juldeh, um instrumento de uma corda feito a partir de uma cabaça). Em concerto - um ano depois de em Sines terem incendiado o palco do Castelo - a colaboração ganhou ainda mais força, provavelmente porque "Tell No Lies" , álbum saído em Maio deste ano, lhes tenha dado ainda mais confiança, tal a quantidade de boas críticas que recebeu. A percussão de Salah Dawson Miller marcou o concerto pela elegância que acrescentou aos ritmos dos principais protagonistas. Salah é uma figura mítica, um misto de um druida e de um sultão casamenteiro. O palco da matriz conheceu o seu momento de glória no momento em que os três músicos o pisaram.

Domingo,28


Eduardo Ramos

Mais do que um músico, Eduardo Ramos é um musicólogo, um investigador que explora caminhos da música medieval, das influências árabes e judias. E é um místico e isso nota-se na forma espiritual que interpreta os temas, na alma que emprega ao alaúde árabe, seguramente um dos poucos portugueses a tocá-lo. Foi, contudo, um cenário pouco apropriado à sua música, o espaço Bica do MED, com as pessoas a jantar perto do palco, música que se adequa claramente melhor a um contexto mais introspectivo e silencioso.

Rokia Traore

Depois de ter dado um dos grandiosos concertos do FMM 2008, a maliana Rokia Traore regressou a um festival português, já depois de ter estado em Lisboa e no Porto em Maio passado. Ainda na calha, trouxe o sue último disco, "Tchamantché" de 2008, servindo de base para mais um excelente concerto. Rokia encheu o palco com a sua grande presença, contou com a colaboração de óptimos músicos e alternou momentos mais intimistas com outros mais explosivos. Destaque para o discurso activista antes de "Tounka", tema que alerta para os perigos da emigração africana, e, claro, para o fabuloso medley final, em que, de um modo irresistivelmente dançável, deu, por exemplo, para apresentar os músicos ou homenagear Fela Kuti ou Mirian Makeba. Brilhante.

Stewart Copeland & La Notte della Taranta

O soundcheck prometia um grande concerto. A combinação entre os sons tradicionais italianos e gregos com o poder da percussão, com Stewart Copeland, ex-baterista dos Police e mentor deste projecto, à cabeça, antevia algo de avassalador. O concerto apenas em parte cumpriu as expectativas do ensaio da tarde. Alternando momentos muito interessantes e cheios de ritmo (destaque, já na parte final, para um tema brutal, só com percussão e harmonias vocais), com arranjos de gosto duvidoso, o colectivo teve uma performance prejudicada por questões técnicas que ignoraram alguns instrumentos (o acordeão, por exemplo, era praticamente inaudível) e também, em alguns momentos, pelo excesso de elementos e de sons em palco, criando alguma sensação de caos.

Kimmo Pohjonen

Este grande senhor finlandês é capaz de combinar as tonalidades tão próprias do seu acordeão com sons muito distintos. No currículo de Kimmo estão já presentes as fusões com as programações electrónicas de Samuli Kosminen, com o som mais explosivo e mais rock de Pat Mastelotto e Trey Gunn dos King Crimson (KTU) ou com o som mais harmonioso das cordas dos Kronos Quartet ("Uniko"). Embora sem a presença deste colectivo norte-americano, foi este último espectáculo que Kimmo apresentou em Loulé, igualmente com um quarteto de cordas constituído por três violinos e um violoncelo. Com um som mais hipnótico do que propriamente doce ou cândido, o carácter mais melódico das cordas juntou-se ao habitual imaginário visceral que o finlandês consegue retirar do seu acordeão, às suas breves vocalizações quase tribais e à presença frequente da electrónica, num resultado final verdadeiramente arrebatador. Concerto perfeito para fechar da melhor maneira o MED, com o público totalmente rendido à magia musical vinda do palco.

Textos de João Torgal e José Bernardo

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27.6.09

emissão de 27 de Junho de 2009

Início em epitáfio à passagem da editora Sublime Frequencies por Portugal, seguido de destaque ao Festival Med Loulé 2009, com direito a reportagem telefónica. Final nos sempiternos anos 70 africanos.

Haba Haba Group - Sitogol #1 - Folk and Pop Sounds of Syria
Omar Souleyman - Lansob sherek - Dabke 2020
Group Doueh - Tazit kalifa - Treeg Salam
Justin Adams & Juldeh Camarah - Naafigi - Soul Science
Danae - Tchuba

--- Reportagem Festival Med Loulé ---

KTU - Bloody clown
Ofege - Adieu - Nigeria Rock Special
Ify Jerry Krusade - Everybody likes something new - Nigeria 70 Lagos Jump
Dr. Nico - Tu m'as deçu chouchou - Congo 70 Rumba Rock
Picoby Band d'Abomey - Mi Ma Kpe Dji - African Scream Contest
Maitre Gazonga - Kelina - Les Jaloux Sabouteurs

Podcast

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20.6.09

Festival MED Loulé


Neste Domingo, realiza-se mais uma emissão especial de Artesanato Sonoro, desta feita dedicada ao MED, festival do Mediterrâneo. A partir das 17h e durante as duas horas seguintes, a emissão será quase exclusivamente dedicada à antevisão da VI edição deste festival de música étnica, que se realiza, como habitualmente, em Loulé.

Sublime Frequencies na Gulbenkian

É já este Domingo, 21 de Junho, que a Tour da editora americana Sublime Frequencies passa por Lisboa. A partir das 19h, entram em cena os DJ's Mark Gergis e Alan Bishop, seguidos da projecção do filme Palace of the Winds de Hisham Mayet.

Depois, temos o primeiro concerto do dia, com os sons tuaregues do Sahara Ocidental, da Mauritânia, a cargo do Group Doueh.

A finalizar a noite, temos a presença do nome mais forte da editora, o sírio Omar Souleyman, com a fusão de diversos sons do Médio Oriente e da cultura árabe com ritmos electrónicos verdadeiramente explosivos.



Assim sendo, o Artesaanto Sonoro não deixou passar em claro esta ocasião e dedicou neste Sábado, 19 de Junho, uma emissão especial dedicada a este espectáculo, com banda sonora exclusivamente da autoria do Group Dueh e de Omar Souleyman

7.6.09

emissão de 7 de Junho de 2009

Entre África, Europa e médio Oriente. Pelo meio, estreia de crónica sobre Cabo Verde, a prosseguir nas próximas emissões.

Justin Adams & Juldeh Camarah
- Sanakubay - Soul Science
Group Bombino - Kamoutalia - Guitars from Agadez Vol. 2
Group Inerane - Nodan al kazawnin - Guitars from Agadez Vol. 1
Issa Bagayogo - Filaw - Mali Koura
Rokia Traoré - Tounka - Tchamanché
KAL - Krasnokalipsa - Radio Romanista
La Cherga - Fake no more - Fake no More
Oana Cătălina Chiţu - Sub balcon eu ţi-am cântat o serenadă - Bucharest Tango

Crónica sobre música de Cabo Verde de Emília Salta

Melech Mechaya - Dança do desprazer - Budja Ba
Omar Souleyman - Lansob Sherek - Dabke 2020 (Folk and Pop Sounds of Syria)
Group Doueh - Tirara - Guitar Music from the Western Sahara

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2.6.09

BalhaRUCo - 1º Baile RUC

BalhaRUCo – 1º Baile RUC
Local: Centro Norton de Matos;
Data: Sábado, 6 de Junho, 22h
Preço: 5 euros (inclui o workshop de dança), com desconto de 1 euro para sócios e estagiários da RUC



A procura de convívios, concertos, workshops e bailes de danças de tradição musical europeia, um conceito com raiz no muito bem sucedido festival “Andanças”, tem registado um crescimento exponencial a nível nacional, começando Coimbra a despertar sensibilidades para esta nova tendência.

Assim, numa co-produção Rádio Universidade de Coimbra, Colectivo Rodobalho e Centro Norton de Matos, o BalhaRUCo será um evento com uma dinâmica peculiar, aliando ao concerto tradicional o ensino da dança, transformando os espectáculos previstos numa experiência inovadora, na qual a interactividade entre o público e os músicos estará bem presente.

Marcado para as 22h de Sábado, dia 6 de Junho, o Centro Norton de Matos abre as suas portas para este BalhaRUCo, que contará com a presença de dois grupos reconhecidos, meritoriamente, com o primeiro lugar na eliminatória Portuguesa do Eurofolk - Concurso Europeu de bandas Folk.

Sobem então a este palco Coimbrão os Diabo a Sete e os Pé na Terra, precedidos por um workshop de iniciação às danças europeias. Ambos os grupos pertencem a uma nova geração de músicos que percorreram já um longo e activo caminho no trabalho de reinvenção de invulgares harmonizações, e instrumentações de reportórios cuja génese está ligada à rica e diversificada tradição oral europeia.

Os Conimbricenses Diabo a Sete, com espectáculos por vezes míticos e carismáticos, com destaque para as comemorações do 25 de Abril na cidade, têm-se afirmado como uma das propostas mais interessantes do tradicional /folk português. “Parainfernália”, o seu disco de estreia, foi um dos grandes discos da música nacional de 2007, estando actualmente a banda a preparar o seu sucessor. Alternando originais com versões de temas tradicionais e cruzando de modo requintado instrumentos como a sanfona, a concertina, o cavaquinho ou as gaitas de foles, a que se junta a voz muito peculiar de Julieta Silva, os Diabos criaram um som muito próprio, que tanto pode ser ouvido e apreciado em casa, como servir de pretexto para a dança, como é o caso.

Vindos do Porto, os Pé na Terra surpreenderam os críticos mais exigentes com o seu disco homónimo de 2008, essencialmente constituído por originais, mas a que se acrescentam também reciclagens de dois temas emblemáticos de Zeca Afonso ("Maria Faia" “ e “Balada do Sino”). Com uma forte valorização do seu lado poético, o disco alterna entre uma linhagem tradicional mais simples e uma subversão e modernização muito particular deste estilo e dos instrumentos que o compõem. No entanto, apesar do muito ritmo que preenche o disco, é ao vivo que a sonoridade do grupo aparece mais vincada, com uma força dançável contagiante.

Depois dos concertos, a prolongar o baile pela noite dentro, os Dj’s RUC do colectivo Golpe de Estado prometem surpreender-nos com as suas sonoridades étnicas.

Da aliança de todos estes factores espera-se este Sábado um inesquecível baile folk!

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