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26.7.08

25 de Julho,9º dia FMM 2008.

Os chineses que gostariam de saber tocar acordeão ...




Rachel Unthank and The Winterset

Num final de tarde em que corpos já cansados e outros recém chegados ajudavam a construir um cenário melancólico e tranquilo, o tempo passava sem se dar por ele ... ao longe, eis que surgia uma voz doce, sublime, ingénua, pacífica. Foi desta forma que arrancou mais um concerto na Avenida da Praia. Rachel Unthank e The Winterset fizeram balançar o público presente no final de tarde de Sines. Para além disso seduziram, por completo, Tod A., mentor dos FireWater.

Faiz Ali Faiz

Faiz Ali Faiz iniciou a noite com as rezas qawalli familiares aos ouvidos ocidentais desde Nusrat Fateh Ali Khan. Nusrat aliás parece pairar como uma sombra sobre este género musical desde a sua morte, e o artista no género que se apresente no ocidente acaba por ver o seu nome emaranhado no do gigantesco mestre. Assim, Asif Ali Khan, artista originalmente programado mas impedido de entrar na Europa por uma política de vistos surreal – a organização colocou muito correctamente uma faixa de protesto na entrada do recinto – era o "discípulo dilecto de Nusrat", enquanto Faiz Ali Faiz era o "artista que de forma mais constante tem carregado a tocha do mestre Nusrat". Os aspectos técnicos do qawalli estão para além dos conhecimentos deste vosso cronista, pelo que nos ficamos por dizer que a actuação reproduziu sem mácula o som hipnótico característico do género, dentro dos condicionalismos do formato festival. Para um género musical cujas actuações chegam a durar horas, um encore de 5 minutos parece como interromper um rocker prestes a entrar no solo. De rock aliás trataria o resto da noite no castelo. O jovem alternativo aprecia a música étnica para dar toque de exotismo às suas aventuras de início de noite, mas a força dos instrumentos tradicionais não lhe chega para conquistar a noite e algo mais.

KTU

Quando está em Sines, Kimmo sente-se em casa. A forma como se exprime em palco é disso reveladora (e só possível quando a relação com o público e com a organização é intíma). Os KTU, agora com nova formação, sem Samuli Kosminen, mas ainda com Kimmo Pohjonen, Pat Mastelotto e Trey Gunn, tocaram com uma energia contagiante. Exploram agora novos sons, mais afastados das melodias folk que o acordeão de Kimmo se encarregava de introduzir em quase todos os temas de 8 armed monkey, o primeiro disco da banda (e que serviu de base ao concerto de 2005). As sonoridades são agora especificamente construídas para os diálogos que os músicos mantêm em palco, o que torna o espectáculo mais cénico e visualmente mais estimulante. O público, que se entusiasmou sempre que os músicos improvisaram em palco (especial destaque para as demonstrações de raiva do acordeão de Kimmo), ouviu um concerto tecnicamente melhor, mas menos mágico do que o de 2005. O fascínio que os músicos de Ciu Jian demonstraram, durante o soundcheck, pelo som vindo do acordeão de Kimmo, fez-nos pensar numa colaboração surrealmente espontânea entre o finlandês e a banda de rock chinesa.

Cui Jian

Depois do concerto demolidor de Kimmo Pohjonen e do seu projecto KTU, a noite no castelo prosseguiu em alta voltagem. Foi com o recinto praticamente lotado que entrou em palco Cui Jian, o pai do rock chinês (como é conhecido), embora não se reveja nessa designação. Para além do rock, houve momentos rap, blues e funk, que se aproximaram, em alguns momentos, de uns Red Hot Chili Pepper. Só muito esporadicamente surgiram elementos orientais, trazidos apenas por alguns instrumentos de sopro característicos, o que torna este projecto muito próximo do rock de fusão de cariz anglo-saxónico, perdendo-se a oportunidade de ter aqui algo mais característico e original.

FireWater

“Expect the unexpectable”! Foi esta a sugestiva frase proferida por Todd A., mentor do projecto Firewater, a propósito das expectativas para o seu concerto no Festival de Músicas do Mundo de Sines. Responsável por fundir as linguagens do punk e do rock com a música cigana, o concerto primou pelo ecletismo e pela abrangência sonora. Embora referido como próximo do que fazem actualmente nomes como Gogol Bordello ou Beirut, as semelhanças passarão mais pelo conceito e pela ideia base, do que propriamente pelo produto musical final. Não vemos aqui música cigana de forma tão vincada, ou com mudanças de ritmo tão bizarras e irresistíveis, como acontece com os Gogol Bordello, nem a presença forte da sonoridade folk, como sucede no projecto de Zach Condon. Em contrapartida, trata-se de um colectivo musical com uma sonoridade muito própria, que muito empolgou o público presente na Avenida Vasco da Gama.

Texto de João Torgal, José Bernardo, José Reis e Rui Veiga.

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