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26.7.08

24 de Julho, 8º dia FMM Sines 08.

A idade é um posto.





Mandrágora

Foi ao som do fortíssimo tema "Candelária" (um pouco prejudicado pela deficiente qualidade do som, algo que viria a melhorar ao longo do concerto) que os portuenses Mandrágora deram, na Avenida Vasco da Gama, o pontapé de saída para o 8º dia do Festival de Músicas do Mundo, contando com uma plateia bem composta para os ver. A primeira fase do concerto incidiu essencialmente sobre o seu 2º e último álbum "Escarpa", com a particularidade dos dois temas com voz que aparecem no disco, "Abaixo Esta Serra" com Francisco Silva e "Turbilhão" com Helena Madeira, terem contado aqui com a voz grave da luso-francesa Simone Alves. Destaque para o segundo tema, com uma versão completamente diferente do original, mantendo, contudo, uma dinâmica profundamente espiritual, quase tribal. Depois de um peculiar intervalo, motivado pelo desfalecimento momentâneo do percussionista do projecto, altura para a entrada em cena dos 3 convidados dos Mandrágora para este espectáculo: para além de Simone Alves, o violinista Jacky Molard e o clarinetista Guillaume Guern, músicos com que a banda teve o prazer de conviver e tocar na sua viagem pela Bretanha. Foi com eles que se encerrou este concerto, através da desconstrução absoluta de dois temas do primeiro disco: "O Aranganho" e "E Pia o Mocho".
Apesar dos contratempos já referidos, foi uma boa forma de abrir as hostilidades deste dia do festival, fazendo jus à fama que os Mandrágora já possuem de ser uma banda constituída por óptimos músicos.

Marful
Foi um castelo ainda a meio gás que recebeu, de início, os galegos Marful. É no som dos bailes galegos da primeira metade do século XX e na sua confluência de estilos musicais, que vão desde a música tradicional galega até às sonoridades resgatadas à América Latina e aos Estados Unidos, como o tango, o jazz ou o twist, que assenta a música deste projecto. Como tal, não admira que se tenha instalado a festa no recinto, num concerto onde, dado o conceito, tem importância fulcral a parte da dança, a parte performativa e a parte cénica. A liderar este projecto está Ugía Pedreira, com a sua voz quente e extraordinariamente intensa (algures entre a voz de Lhasa, de Omara Portuondo e de Dani Klein dos Vaya com Dios? … talvez sim, talvez não) e com uma postura verdadeiramente contagiante, gerando-se uma forte interacção com o público, apelidado pela cantora de "público do paraíso". Pelo meio, há lugar à interpretação de um tema anti-fascista cantado durante a guerra civil espanhola e a uma reflexão sobre a revolução da comunicação e dos transportes, mostrando que, embora em ritmo de festa, a palavra e a mensagem não são deixadas para segundo plano na música dos Marful. No encore, já com o recinto muitíssimo mais cheio, surpreendem ao interpretar um tema brasileiro. Marful, Galiza…a lusofonia e o Mundo ali tão perto. Em todo o caso, o melhor concerto da noite ainda estava para vir…

Toto Bono Lokua

Há público e público em Sines, dizia-se há dias, e programação a condizer. Toto Bono Lokua apresentou algo como uma música world de elevador que provavelmente não agradaria no Auditório do Centro de Artes, mas funcionou no espaço do Castelo. O ritmo competente manteve os corpos em movimento, o jogo de vozes entreteve, e mesmo teclados lembrando um cocktail na embaixada tiveram a adesão do público. Uma actuação nas fronteiras entre a world music e o easy listening.

Orchestra Baobab

É difícil falar de algo, ou de alguém, de quem se gosta muito. Quando os sentimentos toldam a razão, tudo se torna mais complicado. O carinho que todos os elementos do Artesanato Sonoro sentem pela mais mítica orquestra africana, torna difícil uma apreciação despida de sentimentos. O virtuosismo, a experiência e a improvisação tornaram o espectáculo único, que conteve temas míticos como "On verra ça", "Bul Ma Min", "Amikita Bai" ou "Cabral". É que os músicos africanos, ao contrário de algumas estrelas do pop ocidental, sabem envelhecer ...

Toubab Krewe, a equipa de estrangeiros
O que é que leva cinco adolescentes norte americanos a incorporar, de forma tão vincada, a cultura musical africana na sua identidade? A pergunta retórica é útil para introduzir o conceito no qual a banda, encarregue de fechar o 7º dia de festival (no segundo concerto da noite na Avenida da Praia), se baseia. Os ritmos festivos que emanaram da parafernália de instrumentos da banda africana (perdão, americana!), foram a prova de que tudo se consegue à custa de muita dedicação e trabalho. A lição estudada em África, com os melhores mestres, foi retida de forma exemplar. Aprender compensa … e de que forma!

Texto de João Torgal, José Bernardo e José Reis.

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