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22.7.08

21 de Julho, 5º dia FMM Sines 08

Gentes ocitanas saídas de velhos baús ...




Danae

Danae foi a um velho baú de recordações buscar discos da ECM. É o que parece quando ouvimos a música que faz actualmente. Depois de ter começado a carreira, de forma informal, pelas repúblicas de Coimbra, decidiu deixar para trás a sua faceta de menina canta-autora e abraçar mundos mais orquestrados e profundos. Alterou radicalmente a forma de actuar, rodeando-se de músicos que a protegem em palco e que dão consistência à sua actuação.

Moscow Art Trio

Há público e público em Sines. Em Porto Covo multiplica-se a juventude em negação e busca de identidade. No Auditório do Centro de Artes, de capacidade limitada, assiste-se a música ao mesmo tempo que se reitera um sentido de distinção: aqui os cabelos são mais curtos e grisalhos, as roupas mais compostas, a língua menos dada a “yas” metralhados rapidamente.O alinhamento dos concertos parece à medida, ao concentrar música mais exigente para o ouvido e imprópria para o meneio da anca, com uma notória excepção.
Moscow Art Trio apresentou um espectáculo de música contemporânea temperado por vozes e sopros tradicionais russos. Misha Alperin, ao piano com o rigor e virtuosismo da escola russa, guiou vários temas com o apoio competente de Arkady Shilkloper na trompa. Do outro lado, o especialista em folclore Sergey Starostin transportava o som para o território étnico cantando como um avó da Geórgia embalando crianças no berço, ou extraindo sons cómicos de instrumentos de sopro tradicionais, estabelecendo um saudável contraponto lúdico no som. Destaque também para o bem trabalhado jogo de vozes a capella entre os três, explorado em vários temas. Concerto sóbrio, sem euforias, para apreciadores de ouvido bem treinado.

Lo Còr de la plana

O Centro de Artes de Sines confirmou a sua capacidade centralizadora das energias do público que nestes dias vai acorrendo a Sines. É à volta do edifício dos arquitectos Aires Mateus que tudo se vai passando. Na segunda-feira, os Lo Còr de la Plana, levaram ao êxtase aqueles que tiveram a sorte de presenciar o concerto, quer dentro do auditório, quer lá fora, através da grande janela e dos muitos televisores com emissão em directo do que se passava no palco. Não houve desculpa para perder este espectáculo.
Os seis franceses vêm da zona de Marselha, dizem-se pertencentes a uma nacionalidade mais vasta – a Occitânia, cultura perdida que se estende desde o Norte de Espanha ao Norte de Itália e cuja língua – o Occitan – nos vai fazendo lembrar ora Catalão, ora Italiano, ora Francês com sotaque beirão. Fazendo apenas uso das vozes e da percussão tirada das palmas, pés e dos tamborins com que se apresentaram ao serviço, os Lo Còr de la Plana inserem-se com alguma dificuldade na categoria de grupo coral, pois ficamos com a sensação de vermos e ouvirmos algo mais. A mistura de referências estilísticas – desde o canto gregoriano ao cântico árabe, desde o uso da onomatopeia às intros com trechos musicais consagrados da cultura urbana – solidifica-se numa musicalidade viril que lembra o canto alentejano pelo uso parco da polifonia em detrimento dos uníssonos, mas com ritmos dançáveis e em constante diálogo contrapontístico. Dentro do auditório, algum pudor cerimonioso impediu os presentes de se levantarem e acompanhar a música com o corpo; lá fora, porém, fazia-se a festa em pé. Às vezes sabe bem não ter bilhete.

Texto de José Bernardo e de José Reis, com a preciosa ajuda de Ricardo Trindade.

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