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24.7.08

23 de Julho, 7º dia FMM Sines 08.

Um dia sem fronteiras.





Waldemar Bastos

O primeiro concerto no Castelo da edição 08 do festival, foi marcado pela presença de uma figura incontornável no circuito "world music", Waldemar Bastos. As lutas politicas do sul de África são vistas por olhares pacíficos e românticos de Waldemar, que durante a ditadura de Salazar foi preso pela PIDE e sofreu na pele a opressão do colonialismo.Um senhor em palco, que trouxe com ele notáveis instrumentistas, que deram ao público de Sines oportunidade de assistir a uma das melhores formações africanas da ultima década.

Músicos de diversos países africanos como Angola, Congo, Gana e Moçambique fizeram uma mescla entre os ritmos quentes africanos com os do sul e centro das Américas numa ponte que primava pelo bom gosto (sempre com Angola na mira). Seguramente, um dos pontos altos do festival, num concerto que fez lembrar outros gigantes líricos africanos como o etipoe Mahmoud Ahmed que esteve presente na edição passada do FMM de Sines.

Vinicio Capossela

A noite continuava, o cartaz prometia. É então que chega um concerto muito esperado pelo publico no geral (em particular pelo feminino). Vinicio Capossela, uma das maiores referencias da nova música italiana, nasceu na Alemanha mas vive em Milão há já muito tempo. É um cantautor que transpira o espirito da musica de Tom Waits e que absorve as influências do poeta John Fante e do filósofo Samuel Taylor Coleridge, para forjar uma experiencia e profunda abordagem literaria da música pop em algo bem diferente dos convencionalismos da musica popular europeia. Aliando sempre ao seu espectáculo os habituais efeitos visuais e exorcitando os demónios e figuras mitologicas gregas como o Minotauro, Vinicio tentou musicalmente recriar o labirinto do rei Minos, direccionando a sua música para estilos diferentes como o tango, o blues, o jazz, a rebetica, a morna, a bossa e o cabaret.Comprovou novamente ao publico português ser um show man, utilizando sempre muitos alicerces para manter a sua musica de pé, o que criou uma personalidade vincada, de paixões fortes entre o público. Os verdadeiros Minotuaros estavam para chegar...

Justin Adams&Juldeh Camara

Não é a primeira e nem será a ultima vez que culturas e estilos tão diferentes se encontram juntas no mesmo palco. Como este, já se viram outros projectos parecidos nomeadamente o álbum "Talking Timbuktu", resultado da parceria entre Ali Farka Toure e Ry Cooder, os albuns de Robert Plant "Dreamland" e "Sixty Six To Timbuktu" e o fantastico album de Damon Albarn "Mali Music". Assim sendo, não é de estranhar a parceria entre Justin Adams e Juldeh Camara, materializada com o album "Soul Science" (ainda mais quando sabemos que Justin Adams é o produtor da aclamada banda do deserto do Mali, os Tinariwen e que ja colaborou com Robert Plant no album "Mighty Rearranger" produzido em 2005 e que tocou também pelo mundo fora na banda de Plant, Strange Sensation). Estes ingredientes, quando adicionados ao facto de que Juldeh Camara é um excelente "griot" africano e especialista do "riti", antepassado africano do violino, fizeram com que acontecesse magia no Castelo de Sines, com uma explosiva fusão que levava até o mais rígido corpo do público a balançar, tudo por culta dos sons hipnóticos africanos produzidos pelo duo, ao qual se deve acrescentar a referência a um percussionista branco ... mas cheio de soul.


Anthony Joseph & The Spasm Band feat. Joe Bowie

A Avenida da Praia vestiu-se pela primeira vez nesta edição para acolher o melhor concerto de uma noite de qualidade musical extrema.
Anthony Joseph é um poeta, romancista, músico e professor. Nascido em Trinidade e residente no Reino Unido, a sua música é influenciada por grandes pérolas da musica soul/funk, como Gil Scott-Heron, Sly Stone, James Brown, George Clinton, assim como, o também poeta e musico contemporâneo Carl Hancock Rux. A magia negra foi espalhada pela praia com som muito groove e energético da banda The Spasm, constituída por um saxofonista tenor incrível ao estilo de Maceo Parker, aliada a um baixo sempre muito forte, guitarra, bateria, percussões e com o trombone de Joseph Bowie como convidado. Anthony Joseph mostrou o porque de ser considerado como uma das 10 estrelas da literatura inglesa para 2008 pelo The Times, a sua música cita as suas principais influências como o calypso, surrealismo,o Jazz, o espiritualismo da Igreja Batista a que assistiram os seus avós e os ritmos das Caraíbas.
O verdadeiro Funk eclodia assim no primeiro dia do festival na avenida da praia.


Texto de Rui Veiga.

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