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23.7.08

22 de Julho, 6º dia FMM Sines 08.

O dia em que a música e o teatro se encontram ...




Dead Combo

A abrir a noite, os Dead Combo apresentaram, em velocidade de cruzeiro, o seu jogo de guitarras, pradarias e becos de esquina - que se vai tornando familiar, como atesta o numeroso público jovem presente, que trauteia e dança o que de trauteável e dançável há na música dos Dead Combo. O visual wasted rocker ajuda ... e de que maneira! O som dos Dead Combo sofre também uma transmutação ao vivo num sentido mais acelerado e barulhento, que deixa a perder, numa série de temas cujo forte era a simplicidade e contenção – compare-se, por exemplo, as versões em álbum e ao vivo de temas como “Eléctrica Cadente”. Uma actuação competente, na qual mais contenção e lentidão talvez servisse melhor o som do duo.


Iva Bittová

A checa Iva Bittová mostrou no Auditório do Centro de Artes quão pessoal era a sua “muito pessoal música folk”. Sozinha em palco, um simples vestido no corpo e violino ao ombro como únicos adornos de uma corporalidade intensa e sugestiva, Bittová espantou espíritos e convocou fantasmas da tradição musical da Morávia (região da República Checa) para, entre dissonâncias musicais, os alinhar em sons da mais pura vanguarda nova-ioquina. Com um domínio impressionante da técnica vocal, alternava, como num zapping alucinado, ladaínhas tradicionais com onomatopeias vocais (lembrando Meredith Monk), ao mesmo tempo que encarnava feiticeiras, bruxas e outras mulheres-com-o-diabo-no-corpo aos saltos e rodopios em palco, num jogo constante com o posicionamento do som - excelentemente servido pelo equipamento técnico, em especial pelo microfone de captura. Visceral, convulsivo e esquizofrénico, foi original ao ponto de conter extensões à já muito própria linguagem de Iva, baseadas em pequenos gestos que marcavam, geralmente, o final das músicas. Um dos momentos altos deste festival.

Moriarty

O grupo, enorme mescla de nacionalidades e de influências sonoras, conseguiu (apesar de conter referências temporais e musicais muito díspares), construir uma linguagem de uma coerência supreendente, que nos leva, por vezes, até uma América profunda, na qual (ainda) se vivem histórias de amor tão simples quanto os quotidianos que as contêm. Ao ouvirmos a poderosa voz de Rose Mary, quase nem reparamos que a comunicação entre os músicos, perfeita, ajuda a construir um espectáculo cénico exemplar, durante o qual se muda de instrumentos tão depressa quanto de roupa. Os dois momentos mais altos do concerto, "Chocolate Jesus", versão magnífica para o original de Tom Waits e "Whiteman's ballad", música criada após uma viagem de dois elementos da banda por países da África Ocidental (que traduz a história de um continente e das sucessivas pilhagens feitas por gerações de alguns homens brancos) empolgaram o público, pela força das palavras e pelos crescendos instrumentais. Sobretudo do lado de fora da barricada.

Texto de José Bernardo e de José Reis

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