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11.9.08

Ainda o Andanças...emissões especiais de Artesanato Sonoro



Já com um considerável atraso, aqui fica o balanço da 13ª edição do festival Andanças e das duas emissões especiais dedicadas ao efeito.


Emissão de 23 de Agosto - Especial Andanças, parte I:

Esta emissão contou com a presença de dois convidados que estiveram na edição deste ano do festival, Alexandra Moreira e António Neto, que, com o seu testemunho e a sua visão pessoal sobre o Andanças e sobre algumas das suas actividades e concertos, muito enriqueceram este especial.

Ao longo do programa ouvimos excertos de entrevistas com João Gentil e Luís Formiga, No Mazurka Band e Uxukalhus.

Em termos musicais, ouvimos os seguintes temas:
. Olive Tree Dance - Bezouro
. João Gentil e Luís Formiga - Desfolhada
. No Mazurka Band - ELvira
. Galandum Galundaina - Fraile Cornudo
. Uxukalhus - Erva Cidreira


Emissão de 30 de Agosto - Especial Andanças, Parte II

A 2ª parte deste especial contou apenas com um convidado, António Neto, repetente da semana anterior. Em contrapartida, para aumentar a multiplicidade de perspectivas sobre o Andanças, rodou no programa um excerto de uma recolha de testemunhos sobre o mesmo, que realizei no próprio festival.

Para além disto, tivemos ainda alguns momentos das entrevistas com Alafum, Amanida Folk, Mu e Pé Na Terra

No que à música diz respeito, este foi o alinhamento:
. Alafum - Desgarrada Beirã;
. Amanida Folk - Hora;
. Mu - Oi Na Gori
. Mandrágora - Candelária;
. Pé na Terra - Sentir


Balanço do festival:

Dado que já muito foi dito acerca das especificidades deste festival, enquanto conceito e pelo seu ambiente muito particular, vou-me concentrar essencialmente na parte musical do festival, através de pequenas análises aos concertos que vi.
De qualquer das formas, não quero deixar de, tendo sido a minha estreia no Andanças, expressar a minha surpresa pelo ambiente de comunhão que se vive no festival; pela lógica profundamente ecológica do mesmo; pela extraordinária oferta de concertos e actividades de aprendizagem de instrumentos, dança, relaxamento, etc; pela ausência de barreiras entre músicos e particpantes... por todo um conjunto de coisas que tornam definitivamente o Andanças num festival muito peculiar e diferente dos demais. Em todo o caso, se pretenderem ter uma visão mais aprofundada sobre o estilo de festival que é o Andanças e sobre alguns pormenores desta edição de 2008, aconselho-vos vivamente a lerem a análise bastante completa e aprofundada do António Neto em http://amesadecafe.wordpress.com/2008/08/15/festivais-de-verao-andancas-2008/.

Dado que existiam muitas vezes 3, 4 ou mais concertos em simultâneo, as opções eram muitas das vezes difíceis. Em todo o caso, estes foram os 7 concertos a que assisti de modo mais consistente:

João Gentil e Luís Formiga - Uma surpresa. O cruzamento entre apenas bateria e acordeão poderia parecer estranho à partida, mas nas mãos destes dois músicos não o é, havendo uma combinação muito interessante dos dois instrumentos. Com um alinhamento bastante eclético (se calhar eclético de mais, talvez com um pouco menos de diversidade o concerto tivesse sido ainda mais consistente), que vai desde o tango à música tradicional portuguesa ou do clássico ao jazz, o duo deu um concerto em crescendo, acabando com a tenda completamente cheia e com o público ao rubro.

No Mazurka Band - Os No Mazurka Band são um colectivo cuja componente instrumental assenta essencialmente nos sopros. No entanto, se estão a pensar que pode haver alguma ligação com grupos como os Gaiteiros de Lisboa ou os Galandum Galaundaina, no mínimo ao nível das influências, estão enganados. Aqui privilegia-se essencialmente o baile português e menos a parte técnica, integrando-se o grupo no imaginário MRPP, que no caso quer dizer Movimento Radical Pastoril Português. Actuando como uma big-band (dada a presença em palco de elementos extra-banda) e com a particularidade de conterem na sua formação responsáveis pela coordenação da dança, o grupo contou com uma forte adesão do público, que de forma contagiante dançou temas do Algarve a Trás-os Montes, passando por originais dos No Mazurka Band.

Amanida Folk - Mais um grupo totalmente desconhecido para mim, mais uma absoluta surpresa. Vindos da Catalunha, os Amanida Folk misturam guitarra, violino, violoncelo, flauta, clarinete e acordeão e diversos estilos musicas como o klezmer, a folk irlandesa, o som dos balcãs ou a música tradicional catalã, numa mezcla que resultou particularmente bem neste formato ao vivo. Como tal, não admira o nome da banda, já que "amanida" quer dizer em catalão "salada".

Alafum - Já com um longo percurso musical (estão a comemorar agora 25 anos de carreira), este projecto do distrito de Viseu dedica-se essencialmente à recriação do cancioneiro de Lafões, pelo que estava em São Pedro do Sul a tocar autenticamente em casa. Tratando-se de uma proposta mais próxima da raiz do que os restantes concertos a que assisti, os Alafum são a prova de que ainda é possível fazer música tradicional mais pura e menos subversiva com qualidade e capaz de atrair um público diversificado. Até porque, mostrando adaptação aos novos tempos, o seu repertório já não se limita à tradição de Lafões, incluindo outras linguagens como as polkas ou a contradança.

Uxukalhus - Que dizer da música dos Uxukalhus... Que escutar o trad-folk-rock (como eles se auto-caracterizam) do seu album A Revolta dos Badalos e dos seus concertos ao vivo é uma experiência sensorial e quase revolucionária, pela fusão incrível da tradição com outros ritmos que passam pelo ska, pelo rock ou pelo hip-hop, isso já o sabia. Agora vê-los no palco principal do Andanças é outra história. Não só porque o público os acarinha e vibra com a sua música de modo muito próprio, mas também porque a alegria e a expontaneidade que vêm do palco são ainda mais irresistíveis. Misturando originais com adaptações explosivas de tradicionais como o "Regadinho", o "Erva Cidreira" ou a "Saia da Carolina, os Uxukalhus deram um concerto absolutamente incrível, ainda mais intenso por se tratar do formato Uxu Kalhus Transe, em que a componente da percussão tem um maior impacto.

Pé na Terra - Fabuloso. A magia e a garra do album homónimo de estreia deste projecto do Porto, lançado já este ano, ganha uma nova alma ao vivo. Não só na recriação dos momentos mais fortes e contagiantes do disco e na adaptação do tradicional "Macelada" (ausente do disco), mas também nos momentos mais calmos e intimistas como o início da "Balada do Sino" e do "Pedrinhas" ou o "Raio de Sol", em que a força dá lugar à melancolia e a minutos de profunda beleza, funcionando como um contraste muito interessante entre essas duas vertentes distintas da música dos Pé na Terra. Destaque ainda para a presença dos Mu num dos últimos temas, para o momento em que o grupo vem tocar para junto do público (o Andanças a marcar a sua diferença, enquanto festival sem barreiras), ou, para culminar em grande este concerto, a repetição do sublime e arrepiante "Sentir", sem dúvida um dos grandes temas de 2008.

Mu - Também do Porto, a música dos Mu é um verdadeiro caldeirão sonoro, que vai desde o som do didgeridoo australiano, até aos sons do Leste europeu, passando por alguns ritmos orientais e que está, em termos discográficos, retratada em 2 albuns: Mundanças de 2005 e Casa Nostra de 2008 (a caracterização ideal da música dos Mu é feita pelos próprios no booklet do primeiro disco). A actuação ao vivo dos Mu no Andanças não desiludiu estes pressupostos: a sua construção musical tão rica e apurada, numa grande fusão em que imperam os princípios do claro bom-gosto, resulta num concerto ao vivo muito diversificado e rechado de motivos de interesse. Para além da performance dos próprios Mu, por si só suficientemente aliciante, o concerto foi ainda mais valorizado pela presença em palco da ex-Dazkarieh Helena Madeira, que já colaborou, com a sua voz incrível, em 3 temas do album Casa Nostra, e, na parte final do espectáculo, de Renato dos Olive Tree Dance e de um conjunto de percussionistas dos Semente e dos Dyabara

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