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29.7.07

FMM Sines - o último de oito dias

Chegado o último de oito dias de festival em Sines, os hábitos estão
já bem moldados pela cadência dos concertos. Por isso o final da tarde
voltou a fazer com que muitos rumassem quase religiosamente até à
Avenida da Praia. Ali o pôr-do-sol de sábado celebrou-se com músicas
dos lados da Bretanha, com os Norkst. O trunfo destes bretães está na
recuperação das características modais que a música tradicionalmente
europeia abandonou no decorrer do século passado, sendo fácil
identificar semelhanças com a música oriental, com uma secção de
sopros a destacar-se por entre os 16 músicos em palco e a comunicação
com o público a ser facilitada pelo único elemento de origem lusa (uma
de três vocalistas).

Acompanhada pelos Roots of Communication, Erika Stucky surpreendeu
sobretudo pelo diálogo espirituoso que muitos sorrisos arrancou dos
muitos que iam ocupando o espaço então diminuto do Castelo. Qualquer
tentativa de catalogação da actuação seria gorada, como a própria
cantora apelou ao público curioso, pelo que restou apenas presenciar
uma actuação irresistível pela espontaneidade e imprevisibilidade das
opções musicais (espelhada, por exemplo, pela versão de These Boots
Are Made For Walking de N. Sinatra).

Logo depois, o somali K'naan sobe ao palco do FMM pelo segundo ano
consecutivo, começando mesmo por agradecer o acolhimento fervoroso que
teve na última edição do festival. A mistura de rap com vocalizações
tribais e letras interventivas (quase sempre em inglês, já que o
músico cedo trocou o país de origem por Nova Iorque e reside
actualmente no Canadá) não foi, portanto, surpresa para muitos de
entre os milhares que encaravam o palco e não hesitavam em acompanhar
as rimas do quarteto.

Depois de Rachid Taha na noite de sexta-feira, no sábado foram
novamente laivos de rock que incendiaram o Castelo. Num espectáculo
cenicamente estonteante, o imparável Gogol Bordello mereceu bem o
efusivo fogo de artifício que sempre acompanha o último concerto no
Castelo do FMM. Mais de duas horas de um frenético rock cigano vieram
elevar a fasquia do festival, no que toca tanto à escolha do concerto
de encerramento, como à reacção eufórica de um público já
habitualmente civilizado, apesar da maior enchente experimentada por
aquelas muralhas.

[crónica de Ana Val-do-Rio]

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