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28.7.07

mundo saxofone quarteto

Mário Pires - CMS

Depois da semana de concertos entre Porto Covo e o Castelo. A cidade de Sines chegou ao limite, inevitável de todos os anos. As ruas só por generosidade deixam passar mais um corpo. Os percursos entre os palcos do festival, e o parque de campismo ou a praia fazem-se no passo lento das multidões. Mas não encontrarão muito quem se queixe desta enchente todos percebemos porque vieram os outros, todos temos mais um ou vinte amigos a quem contámos e repetimos as histórias de Sines.

Dá vontade de partilhar estes dias em que a praia e a música se fundem com naturalidade nos concertos de fim de tarde e daí para mais uma noite. Desejamos às vezes ter mais um par de ouvidos.
No fim da noite comentava: estes gajos são muito bons, mas eu já não consigo, é o quinto de hoje - talvez o discurso fosse mais compassado mas era este o conteúdo.

A etnia dos contratempos foi talvez a mais bem representada no mundo FMM ontem. Parece ser uma das marcas fortes que este festival vai construindo, a inclusão de músicos de jazz e dos seus colectivos. Talvez, pela facilidade que têm em trazer consigo as viagens rítmicas que fizeram e alguns dos companheiros dessas viagens. Na noite de quinta feira vi o Carlos Bica dizer a um jornalista local que a sua música pode ser do mundo "é a minha música". O raciocínio é simples e de uma eficácia provada nas edições do FMM; sou músico vivo no mundo, a minha música não pode ser outra coisa. Essa marca das notas blues e das dissonâncias esteve ontem com o colectivo do hemisfério sul Aronas, concerto de fim de tarde guiado pelo piano de Aron Ottignon. E com o violento último concerto proporcionado pela La Etruria Criminale Banda, curiosos, no mínimo ficámos curiosos com a música desta big banda.

Mas, um dos concertos de ontem reunia os desejos de quase todos incluindo muitos dos músicos no festival. Não se hão-de importar, pelo menos estes, com o destaque a Oliver Lake, David Murray, Bluiett, Tony Kofi; Os World Saxofone Quartet. O concerto deles foi muito bom. Energia, energia. Quando os músicos se apresentam com um currículo tão enorme há o risco de que a admiração e reverência se sobreponha ao encontro. Não aconteceu. Antes, tivemos momentos de contacto bem humano entre o quarteto, muito bem auxiliado por mais três músicos, e o público. Foi bom de ver as gentes no castelo dançar as improvisações, poucos dedos no queixo e olhares demorados muitas cabeças frenéticas que sem prestar reverência aos senhores dos metais, e eles até a merecem, dançaram-nos como se fosse o techno de uma sexta-feira de inverno.
Murray é já intimo de Sines, presença habitual entre público do festival. Os amigos que Murray trouxe forma recebidos segundo máxima "Amigos dos meus amigos...". Mas não só os dele.
Todos têm por cá um amigo e esse amigo outro amigo, essa aliança vai fazendo inesperadamente global esta localidade.

Por fim, referência mais do que justa aos bons concertos do Quinteto de Hamilton de Holanda, o melhor tocador de bandolim do mundo, diz Hermeto Pascoal. E, a Rashid Tata que fez muitos amigos por aqui, um castelo deles. Ficará para memória futura em especial o seu encore, momento de delírio colectivo com o Argelino e a sua poderosa banda.

Não há mesmo ouvidos que cheguem para tantos (bons) concertos.

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