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15.11.09

Oumou Sangare, CCB, 14 de Novembro de 2009


Oumou Sangaré é uma das divas e rainhas do wassoulou, estilo musical, cultura e região geográfica da África Ocidental, que engloba parcialmente alguns pedaços do Mali, da Guiné e da Costa do Marfim. Em 1989, com pouco mais de vinte anos, a jovem surpreendeu meio mundo com o seu disco de estreia Moussolou. Duas décadas depois, continua a mostrar atributos de compositora e intérprete de excelência, com o novo Seya, mais um dos grandes álbuns deste ano de 2009.
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Foi este último, 5º de originais (se contabilizarmos a compilação Oumou de 2004, mas que incluía 8 temas nunca anteriormente gravados em disco), que serviu de pretexto para este concerto no CCB, uma produção da Uguru. Numa noite com jogo da selecção e concerto dos Depeche Mode em Lisboa e com preços algo elevados (entre os 18 e os 35 euros), foi um auditório a meio gás que recebeu a grande cantora do Mali. Sem surpresas, grande parte do alinhamento incidiu sobre o novo disco, com óptimas interpretações de temas como "Kounadya", "Sounsoumba" ou "Wele Wele Wintou" (com pedido de acompanhamento vocal do público no refrão, mas de forma sóbria e breve, sem recorrer a técnicas artificiais e de gosto no mínimo duvidoso), num misto de ritmo e espiritualidade. Torna-se impressionante para o espectador a simplicidade e a forma apaixonada com que Oumou se apresenta em palco, quer seja na alma interpretativa com que se dedica aos temas, quer na naturalidade com que encara a postura de duas ou três mulheres da plateia que, conseguindo contornar a segurança do CCB, sobem para palco para dançar e para abraçar a maliana, quer na expressividade com que se dirige ao público. Neste contexto, apesar de eu não dominar a lingua francesa, a forma incisiva e pausada com que Oumou fez passar a sua mensagem, foi suficiente para perceber grande parte do conteúdo do seu discurso, com referências à riqueza cultural do seu Mali natal, à importância do amor e da comunhão entre culturas e raças como contraponto à intolerância, ao facto de África ser muito mais do que a fome e a guerra expostas na comunicação social, ao elogio da beleza, do charme e da energia da mulher africana ou, naturalmente, dado ser Oumou uma reconhecida defensora intransigente dos direitos das mulheres, à importância da igualdade e da complementaridade entre sexos.
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A fechar da melhor forma possível a componente principal deste concerto, tivemos direito a uma versão extensíssima de "Yala", com o público a levantar-se das cadeiras, e a acompanhar com o movimento do corpo e com as palmas o profundo ritmo da música e com direito a apresentação personalizada e prolongada dos elementos que se encontram em palco. Assim sendo, a acompanhar Oumou Sangare temos duas bailarinas e uma banda muito coesa, com um guitarrista, um baixista, um baterista e, em termos de instrumentos tradicionais, um djembé, um kamalen n'goni (tal como a kora, uma harpa com toques tipicamente africanos) ou uma flauta africana com importância significativa na sua música. Pena foi que, ao contrário do que aconteceu com Seun Kuti há cerca de três meses atrás, a acústica e a qualidade de som estivessem longe da perfeição, nomeadamente com uma equalização muito alta dos instrumentos e da própria voz de Oumou, provocando mesmo momentos de alguma estridência, completamente desajustados às naturais simplicidade e espritualidade referidas anteriormente.
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Depois de um muito pedido encore, eis que Oumou e a sua banda voltaram para palco, para nos mostrar o lado mais introspectivo da sua música, através da recuperação de "Djorolen" do disco Worotan de 1996, numa espécie de curioso anti-climax, culminado com a devoção do público através de um caloroso e rendido aplauso de pé, próprio de quem está consciente de ter assistido a um óptimo concerto.

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