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8.11.09

Africa.cont


O Africa.cont é o recentemente criado centro de promoção da cultura contemporânea africana. Foi neste contexto que, no agradável espaço ao ar livre das Tercenas do Marquês, se realizou em Lisboa, no passado dia 26 de Setembro, esta iniciativa musical, com concertos de três projectos africanos bem distintos

Kora Jazz Trio



Foi ao final da tarde que, já depois do warm-up pelo DJ Rycardo, subiram a placo os Kora Jazz Trio. Constituídos por dois senegaleses e um guineense, este trio junta a sonoridade tradicional imposta pela kora e pelas percussões africanas à linguagem mais clássica, com construção jazzistica, do piano. Mais interessantes nos momentos em que os sons tradicionais se impuseram de modo mais intenso, nomeadamente através da voz e da kora de Djeli Moussa Diawara, do que naqueles em que reinou um certo ambientalismo jazz mais inofensivo, os músicos deram um concerto que, não tendo sido brilhante, foi perfeitamente adequado ao local e à hora em que decorreu.

Mulatu Hastatke & The Heliocentrics



Multau Hastatke é um dos grandes mestres do jazz etíope, cujo trabalho se celebrizou no seu país de origem nos anos 60 e 70, mas em que a aclamação ainternacional só chegou na nesta década, quando Jim Jarmusch recuperou a sua música para o filme Broken Flowers de 2005. Este ano, Mulatu voltou aos lançamentos originais, em parceria com os Heliocentrics, a banda de apoio do mítico DJ Shadow. Trata-se de um álbum de fusão reforçada, isto porque se a música de Mulatu já é uma combinação entre o jazz e pormenores tradicionais africanos, a isto acrescenta-se agora o experimentalismo funk da banda britânica.

Confesso que das primeiras vezes que ouvi a música de Mulatu Astatke, quer a solo, quer com os Heliocentrics, não fiquei desde logo fã. A música que temos aqui está longe de ser simples e imediata e, no meu caso pessoal, a situação agrava-se por eu estar longe de ser fã de jazz. No entanto, é daquele tipo de música que se vai entranhando pouco a pouco, em que a paciência e a audição consistente são fundamentais para se perceber a magia subliminar e a perfeição estética que por aqui se encontra e que resulta em pedaços de verdadeira obra-prima musical.

Ao vivo, quem, como eu, esperava uma transposição para o formato ao vivo mais meditativa e ambiental, enganou-se profundamente. É certo que não temos aqui propriamente música festiva, que se adeque prioritariamente a uma lógica mais dançável, mas a verdade é que o ritmo e a cadência apelam a algum movimento do espectador. É um dos sinais do crescimento da música em palco, onde estão Mulatu e os cerca de dez elementos que compõem os Heliocentrics (percussões, sopros, teclados, baixo, guitarra ou violoncelo), que quer colectivamente, quer através de alguns pormenores individuais, como o profundo virtuosismo saído do vibrafone e das percussões de Mulatu, o psicadelismo dos teclados ou os devaneios experimentais do brutal violoncelista, tornam ainda mais grandiosos temas incríveis como "Cha Cha", "Esketa Dance" ou "Yekermo Sew", rebatizado como "Broken Flowers Suit" para o tal filme de Jarmnusch. Uma palavra para as condições de som: não sendo perfeitas e relevando alguns problemas, merecem ainda assim nota positiva, num espaço tão aberto e dada a necessidade de conjugar tantos instrumentos e sons tão distintos.

Concluindo, se Inspiration Information é aclamadamente um dos discos maiores de 2009, o concerto de Setembro foi também, um mês depois de Seun Kuti, mais um dos grandes concertos do ano em Portugal

Ferro Gaita


Depois da perfeição musical, a explosão festiva da música dos Ferro Gaita tomou definitivamente conta das Tercenas do Marquês. O grupo cabo-verdiano, cujo nome remete para dois instrumentos tradicionais, o ferro, uma estrutura de metal tocada com uma faca, e a gaita, uma espécie de acordeão, pratica uma sonoridade assente no Funaná, estilo tradicional deste país africano, com características muito enérgicas e dançáveis. Como tal, foi sem surpresas que o público aderiu sem limites à música dos Ferro Gaita, apesar de, em termos musicais, faltar algum ecletismo e diversidade e de alguns problemas técnicos que prejudicaram um pouco a qualidade do concerto.

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