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28.7.09

Reportagem Sines 2009

Sines 2009, 11ª edição


17 de Julho, dia 1 do FMM Sines 2009


Começou-se em Português...



Tudo começou em português, como há uma década e uns pozinhos, quando ainda se estava muito longe de imaginar que o FMM iria trepar as muralhas do castelo em direcção a Porto Covo e que se iria estender a tão generoso número de dias e a um cardápio tão vasto.


O’Questrada

A décima primeira edição do Festival de Sines começou, escrevia-se, em português com os O’Questrada. Melhor ainda, começou com um grupo que nasceu em Portugal - e que por acaso também canta em português - mas que absorve imensas influências de outras paragens. Toda a noite de estreia do festival foi um verdadeiro melting pot de culturas e géneros dispersos de diversas partes do globo, reunidas num só palco.

O público pareceu gostar da caldeirada sónica e apareceu em massa, naquela que foi a noite mais concorrida de sempre do palco de Porto Covo (terão acorrido ao recinto perto de quatro mil almas). Ouve-se guitarra portuguesa, dedilhar de violão, uma contra-bacia (instrumento peculiar aparentemente único e de fabrico próprio), um acordeão. Canta-se em crioulo, francês ou português. Esboçam-se gestos teatrais num palco transformado em algo próximo duma mistura de festa popular dentro de uma tasquinha perdida na montanha. Trocam-se instrumentos, esgrimam-se mímicas em diálogos ensaiados entre músicos que vestem, por momentos, a pele de caricaturas de povo. Brinca-se com originais alheios improváveis em ambientes fadistas. Tudo é estupidamente engraçado e apelativo para o veraneante que, por seu lado, se tenta libertar do pequeno resfriado da Costa Vicentina com suaves movimentos de anca. As pessoas olham-se em volta e parecem felizes. A banda olha para as pessoas e não esconde o deslumbramento.

Estávamos ali para ouvir música e bailar. Acaba-se a apresentação de “TascaBeat: O Sonho Português” com um sorriso nos lábios. Nós e eles.


Rupa & The April Fishes

Seguiram-se os Rupa & The April Fishes da californiana Rupa Marya, filha de pais indianos com adolescência passada em França e que concilia a carreira artística com a de médica. Muito competentes na construção da mescla de referências à canção francesa, tango, música cigana ou folk americana, vieram a Porto Covo para apresentar “Extraordinary Rendition”, o disco de estreia do ano passado onde cantam em inglês, francês, espanhol e hindi. Música bem disposta, que a dada altura carece de um rasgo de génio para que não soe demasiado óbvia e idêntica.


Circo Abusivo

A encerrar a noite o desvario festivo dos italianos Circo Abusivo, que se orgulham de ter a sua sede espiritual em Valtelatija, destino de antigas migrações ciganas entre os lagos e montanhas dos Alpes italianos. Apresentaram o recentemente lançado “Valtellazija Revolucija”, onde participa Eugene Hütz, líder dos Gogol Bordello, que serviu de mote para a mistura de música cigana dos balcãs, klezmer, polka, samba, tarantella, surf-rock, mazurka, jingles publicitários ou genéricos televisivos de entre outras improbabilidades sonoras. Ritmo e loucura pouco contidas em descargas de música nómada para turista apreciar.

Começou, em clima de festa, uma das maratonas festivaleiras mais importantes no que diz respeito às músicas provenientes dos sítios mais recônditos do globo musical.

Texto de Rui Caniço.

18 de Julho, dia 2 do FMM Sines 2009



Victor Démé

Músico da Costa do Marfim, griot e - consequentemente! - portador e divulgador de parte da identidade cultural africana. Não esteve à altura de tantos outros músicos griots que tão bem honram as tradições musicais africanas. Victor não faz música sua... constrói sonoridades que o circuito espera ouvir de um músico africano que se diz griot. Deu um concerto sem chama e mostrou-nos música igual à que já ouvimos tantas e tantas vezes e que nada acrescenta à feita por muitos músicos africanos.

The Ukranians

Banda de culto, das que melhor cruza sonoridades tradicionais com pop dançável. Têm muitos fãs entre os locutores da RU( - há anos atrás, aquando da edição de “Kultura”, tinham um enorme airplay na rádio. Deram um bom espectáculo em Porto Covo, sobretudo a partir de metade do concerto, quando fizeram o público mexer-se mais, depois de terem tocado alguns dos hits mais reconhecíveis. Pena que não tenham chamado ao concerto “Ukrain America”, tema pop quase perfeito, com cheiro a leste e sabor explosivo. Teria incendiado o palco do porto de pesca. Com toda a certeza!

Dele Sosimi Afrobeat Orchestra

Teclista dos Egypt 80 de Fela Kuti e director musical da banda quando o pai do Afrobeat foi preso em 1985, assumiu, anos mais tarde, a liderança musical da banda de Femi Kuti e iniciou a sua carreira como frontman em 1995. Apesar de surpreender em disco, Dele Sosimi não conseguiu mostrar toda a força que o Afrobeat pode ter. Fez demasiadas versões de Fela Kuti - não conseguiu fazer lembrar o mestre, nem conseguiu distanciar-se dele ao ponto de se tornar original. Ao vivo, notou-se, pelos arranjos com metais a menos e teclas a mais, que não se consegue desligar do papel de teclista e encarnar o de líder e vocalista. É estranho ver um teclista a assumir o protagonismo de um concerto de Afrobeat. A verdade é que aconteceu. Em Porto Covo.

Texto de José Bernardo.

22 de Julho, dia 6 do FMM Sines 2009

O dia da Ibéria



O problema de vistos, questão recorrente quando se trata de trazer músicos de outras paragens à Europa - e que já por diversas vezes havia atingido o FMM no passado-, voltou este ano a prejudicar o festival, com a ausência do chinês Mamer. Em virtude da nossa chegada tardia a Sines, também não vimos o projecto Trilhos - Novos Caminhos da Guitarra Portuguesa, curioso trabalho em que o mítico instrumento nacional se cruza com o piano, com o contrabaixo e percussões. Vimos os quatro concertos restantes, dos quais fica aqui a reportagem:

Janita Salomé

Janita é um dos grandes intérpretes portugueses e isso sente-se em palco. A forma mística e cheia de alma como canta é impressionante e torna-o capaz de dar um bom concerto, mesmo quando as condições metereológicas não ajudam (chovia consideravelmente) e o público também não (demasiado barulho e isso sente-se particularmente nos momentos mais intimistas, como no lindíssimo "Ciganos"). Pelo meio da passagem pelo seu último trabalho, O Vinho dos Amantes de 2007, e pela habitual presença do imaginário árabe que o músico tanto aprecia (embora aqui de forma relativamente subtil), houve direito a versões sentidas de Zeca Afonso (Janita é daqueles que muito honra o seu legado quando o reinterpreta) e exuberantes de Jacques Brel, num concerto inquestionavelmente interessante.

Uxía

Contando com uma formação multi-cultural (músicos da Galiza, Portugal, Cabo Verde ou Guiné), a galega Uxía prometia neste FMM um espectáculo de comunhão entre povos, em que coincidissem sons tão diversos como o fado e outro património tradicional português, a música popular galega ou as mornas. Os primeiros temas, em formato jazz ambiental e easy-listening, que tudo uniformiza e corroi, prometiam algo tenebroso. Felizmente, o o prenúncio inicial não se concretizou. Com o incremento de ritmo e genuinidade tradicional, com o aproveitamento correcto da magnífica voz de Uxía e com a presença de convidados importantes, como o guitarrista guineense Manecas Costa ou o português Zeca Medeiros (gigante o dueto com Uxia no tradicional açoreano "Lira"), o concerto acabou por enveredar por caminhos bem recomendáveis. Destaque também para a presença de versões de Zeca Afonso (felizmente, a memória do grande cantor e compositor português permanece bem viva, até do outro lado da Ibéria). Apesar de algum excesso interpretativo em "Senhora do Almortão" (tradicional da Beira Baixa celebrizado pelo músico), o balanço dessas versões é bom, em particular com "Cantigas do Maio" que, mesmo sem o brilhantismo da versão da Brigada Vítor Jara, tomou contornos bastante interessantes. Um concerto marcado por um crescendo de intensidade e/ou emotividade impressionantes, desmentindo de forma clara a sensação de incómodo inicial.

Acetre

Com alguma semelhança com os objectivos de Uxía, o projecto Acetre, da Extremadura, propunha vir ao FMM Sines apresentar um demonstração do profundo contacto e confluência entre as sonoridades tradicionais de Portugal e Espanha. Na prática, foram bem mais longe do que isso, quer em termos de referências geográficas, com passagens instrumentais pela folk britânica (violinos em dose reforçadíssima) e também por elementos do leste europeu, quer em termos do conceito do espectáculo, contribuindo para uma certa perda de identidade. Num concerto pautado por um jogo de harmonias vocais positivamente envolvente e prejudicado por alguns problemas técnicos e por certos momentos rodeados por um ambientalismo futurista de gosto bastante duvidoso, os Acetre deram um espectáculo que, estando longe de ser sensacional, foi pelo menos simples e honesto, o que não deixa de causar alguma simpatia.

L'Enfance Rouge

O título da reportagem deste dia - "O dia da Ibéria" - apenas diz respeito à parte do castelo. Isto porque o concerto que na praia fechou este sexto dia do FMM Sines 2009 dificilmente poderia contrastar mais com o que se havia ouvido anteriormente. Depois do intimismo e da festividade pueril, com contornos ibéricos, eis que nos surge a explosão e a rudeza do rock, puro e duro. Isto porque se no disco deste projecto multinacional (França, Tunísia e Itália) os elementos étnicos (sons de natureza árabe) serão ainda perceptiveis, ao vivo estes aparecem completamente esmagados pela linguagem mais rock. Com o estatuto de frontman a ser dividido entre o vocalista e guitarrista François Cambuzat (com uma voz rouca agressiva, quase gutural) e a vocalista e baixista Chiara Locardi (nos momentos mais agradáveis do concerto), a suposta fusão aparenta ser nesta performance dos L'Enfance Rouge um profundo acto falhado, o que acentua o facto de este ser um concerto algo desfocado da lógica programática de um festival de músicas do mundo, por muito abrangente que este tente ser.

Texto de João Torgal.

23 de Julho, dia 7 do FMM Sines 2009

Sines, 24 de Julho de 2009

Queridos Pais:

Nós por cá tudo bem, como se diria há uns tempos atrás. Por aí ficaríamos não fora ser o nosso mundo já outro. Como já é mesmo outro, nada me impede de vos pôr ao corrente de que como foi o dia de ontem em Sines.

Como já era quinta-feira de Sines havia um sortido interessante de propostas para enriquecer as tardes de vadiagem pela cidade: ele era cinema no Centro de Artes de Sines ou conversa com Chucho Valdés na Escola de Artes de Sines mas...que querem vocês, o Ricardo, a Joana, o José e o Torgal estavam mesmo interessados em fazer uma praia decente e o apelo do mar foi mesmo mais forte. Lá pegamos no carro e procurámos um pedaço de areia dourada entre Sines e Porto Covo. E encontrámos ... mas foi areia de pouca dura. Lá subiu a maré e perdemos o nosso pedaço de areia, só não perdemos mais porque encontramos um senhor muito palavroso, mas mesmo muito palavroso, de seu nome Aleixo dos Santos "O Poeta Destemido", um auto-didacta que assim fintou o analfabetismo. Trocámos a areia pelo dourado de uns chocos fritos e neles nos perdemos por forma a que já não retornamos a Sines a tempo de assistir ao concerto dos Assobio - aquele projecto do César Prata dos Chuchurumel de que vocês me haviam falado. Não assobiámos nem assistimos ao concerto vespertino da Avenida da Praia: "Alô Irmão!" que juntava em palco o Manecas Costa (continua um gingão de primeira, este Guineense!) e o galego Narf. Eu sei Mãe, eu sei que valeria a pena mas, que queres, este ano Sines era só lazer ... e entre a Praia e a Avenida da dita vai pelo menos um banho quente de distância!

Afinal não havia - tal como disseste, querido José - razão nenhuma para temer o primeiro concerto do dia no Castelo. Eu sei que o concerto do pai do rock chinês, no ano anterior, foi uma experiência musical macabra e de má memória, mas este ano olhem que foi bem melhor! Os Hanggai, sexteto liderado por Ilchi, um outrora Punk (ainda um dia me hão de explicar isso do punk-chinês!) deram o concerto da noite! Vestidos com indumentárias tradicionais das estepes chinesas, tocando "morin khuur" (espécie de violino) e "tobshuur" (espécie de alaúde de 2 cordas) e pintalgando as músicas com cantos tuvanos, estes senhores fizeram-me sentir estruturas blues e pradarias imensas. Incrível, mesmo. Por certas músicas apostava que estaria no Castelo de Sines a assistir a um Western de pessoas asseadas e bem educadas. Quem me dera que do Ribatejo brotassem músicas tão honestas na sua vibração e contenção. O José e Torgalito também gostaram muito e até encontramos um sujeito que deveria ser mecânico de cordas vocais, tal foi o empenho técnico com que nos quis explicar o canto de Tuva (não Pai, ele não percebia assim tanto do assunto como o Tio Costa mas era de uma cabotinice apreciável!).

Subiu depois ao palco do Castelo a Big Band de Chucho Valdés, mas confesso-te que não fui arrebatado pela mestria técnica quer de Chucho quer dos músicos que o acompanhavam. Eu sei que o homem trazia 5 grammys na lapela e um passado de muito respeito no chão que pisa, mas eu não ando com muita paciência para jazz virtuoso.Queria mais Cuba. E não a tive até que cantou a mana anafada do Chuchu, a Mayra. Mas aí também tinha optado por me sentar nas bancadas do Castelo, sim, na secção que o pai diz ser da "Segurança Social"...e aí pareceu-me que o concerto fazia finalmente sentido. Foi o concerto ideal para a inteligentcia do Partido Comunista Português. E no fim pareceu-me que nessa perspetiva foi até muito bom.

O que eu queria mesmo era ver Kasaï Allstars, pois dos projectos mirabolantes que vão sendo extraídos ao Congo (agora é República Democrática, não é?) pelo Vincent Kenis da crammed este era o que eu mais queria ver! Tive azar, primeiro fiquei demasiado perto do palco com prejuízo do que ouvia e, recuando uns metros, lá deu para me ir sacudindo e tentar levitar com as guitarras eléctrica, likembés electrificados, balafons, percussão e coreografias que iam sendo trazidas ao palco. Talvez levassse comigo excesso de expectativa pois no fim do concerto fiquei com aquele travo de desencanto que também me ficou em 2005 após o concerto dos Konono n.º 1 pese embora o público tenha apreciado ao ponto de forçar um encore que não estava previsto por constrangimentos de agenda de não percebi bem eu quem. Acho que o melhor não é trazer os Kasaï Allstars à Europa mas sim irmos nós ao Congo vê-los, o que era uma excelente ideia para umas férias em família, não vos parece?

E o triste que fiquei quando o Mário Dias anunciou a banda que ia fechar a noite de quinta-feira no palco da Avenida da Praia! Afinal já não iamos ouvir o Ramiro Musotto & Orchestra Sudaka mas sim o Damily. Pois, também eu não fazia a mínima ideia de quem seria mas lá fui percebendo que era malgaxe, guitarrista e figura de proa do Tsapiky (género musical típico de Madagáscar). Em palco eram 5 pessoas entre tocadores e cantandoras/bailarinas e foi um concerto que não me trespassou, devo confessar.Pareceu-me um concerto muito competente e longo (não queria ser antipático com os senhores...que queres Mãe?! Que diga que me parecia que em palco estava um tipo vestido pela "Cenoura"?), com vários momentos cuja função social era facilmente reconhecida ao ponto de pairar no ar "Sines - Serviço público de auxílio à procriação"....mas não consta que ainda assim, com tal slogan, permitam ao Torgalito candidatar-se à Câmara Municipal! Mas havia muitos sorrisos no ar, lá isso havia, a multidão estava entretida com os seus afazeres e houve mesmo quem se tivesse apaixonado, fosse pelo Tsapiky, fosse pelas bailadeiras, fosse pela barraca de cerveja, fosse pela fêmea adiante ou pelo ar Kumpania Algazarra do chápeu de tantos moços. "A Festa foi bonita pá" como diria o Barroso. Ah, ainda ouvi o DJ Set do Rui Miguel Abreu (agora assina RMA) e do Mr_Mute...gostei muito, tinham razão, o Rui Miguel Abreu tem muito boa música com ele.

Do nascer do sol já nada vos digo, pois como bem sabeis, corre em Sines o rumor de que ele, afinal, não é organizado pelo Festival de Musícas do Mundo de Sines.

Texto de Daniel Marques Pinto.

24 de Julho, dia 8 do FMM Sines 2009

A certeza da imprevisibilidade...



O dia mais imprevisível do festival, não fosse este o dia em que Cyro Baptista subiu ao palco do castelo. Da mais pura das meditações à explosão mediática, passando por revisitações sonoras. Houve de tudo!

Warsaw Village Band

Os Warsaw Village Band regressaram a Sines. Atravessam uma nova fase da sua carreira, durante a qual decidiram compor originais - muito provavelmente vislumbrando a possibilidade de, mais tarde, os darem a ouvir à filha dos principais elementos da banda, Maja e Wojtek. A anterior fase da carreira da banda polaca, que lhes valeu o epíteto de banda de folk de culto, tinha mais força ... uma força especial, vinda das marzukas e polkas que, rearranjadas, tornavam a música dos Warsaw Village Band única. Apesar de ter servido o propósito de concerto de abertura, não deu a conhecer a real valia do trabalho de um grupo que podia ter aproveitado o FMM 2009 para conquistar novos fãs. O concerto de 2004, mais adaptado ao palco do castelo, teve chama, alegria, crescendos e intensos momentos de folk ... o de 2009, nem por isso.

Debashish Battacharya

Um dos grandes nomes do circuito e um dos grandes mestre da slide guitar indiana, único na forma como reescreve composições clássicas indianas para o instrumento, era um dos nomes mais aguardados da edição deste ano. Apresentou-se em palco juntamente com o seu irmão Subhashish, na tabla e com as únicas mulheres indianas a tocar percussões tradicionais “pakhawaj” e “mridangam”, Chitrangana Agle Reshwal e Charu Hariharan. Apresentou um espectáculo baseado nos últimos dois discos que editou - “Calcutta Chronicles” (nomeação para um Grammy em 2009) e “O Shakuntala”.

Aguardavámos, impacientes, para saber como é que um músico medidativo, contemplativo e tecnicamente inquestionável - habituado ao rigor de palcos mais tradicionais - iria adaptar o espectáculo a um palco aberto e grande como o do castelo. Debashish soube fazê-lo da melhor forma, usando diálogos interactivos com o público que explicavam a sua forma de tocar. Destaque-se o à vontade com que reagiu a um imprevisto, quando uma corda da sua slide guitar se partiu, o que fez com que o músico indiano usasse a voz para começar um diálogo com o seu irmão - o que, aliás, fez ao longo de todo o concerto, mas com a guitarra. Destaque ainda para os exclentes planos da realização que focavam, frequentemente, as mãos do indiano e a sua técnica única. O concerto terminou com uma versão de uma música portuguesa cuja melodia reconhecemos, mas não conseguimos identificar. Foi pena!

Cyro Baptista

Cyro Baptista & Beat the Donkey é muito mais do que música. É um grupo de entrenimento multicultural, polifónico, altamente criativo e cujas fronteiras têm tanto de inexistente quanto de falso têm as que foram criadas pelos europeus em África. O concerto, duas horas de humor do mais fino recorte, deliciosamente amplificado pela forma como os músicos, tecnicamente exemplares, o interpretaram, deixou o público em êxtase. De música francesa a heavy metal, de sapateado a ritmos africanos - condensados em músicas contínuas -, ouviu-se de tudo. Um dos melhores concertos do festival, orquestrado por um percussionista genial em todos os sentidos ... até no facto de se levar pouco a sério.

Texto de José Bernardo.

25 de Julho, dia 9 do FMM Sines 2009

O dia do ecletismo e/ou dos caminhos menos navegados.



Dia em que perdemos o blues de James Blood Ulmer (ainda bem que temos a possibilidade de ver o concerto mais tarde, no canal Mezzo) e em que houve a folk metálica de Alamaailman Vasarat, o reggae de Lee “Scratch” Perry e o baile franco-argelino dos Speed Caravan.

Alamaailman Vasarat

A primeira sensação que temos quando estes Martelos finlandeses se nos afiguram em palco é a de que se vai passar ali qualquer coisa maior do que nós, que nos escapará ao controlo. O aspecto da banda é a de uma qualquer banda de goth metal, daquelas que – perdoem-nos os fãs – não conhecemos nem estamos com ganas de conhecer: roupas negras, luzes como trevas, fumos e neblina e primeiros acordes a combinar com este cenário: aproximando-se bem mais do concerto que tivemos o prazer de assistir em 2006, na Avenida da Praia, do que aquilo que viríamos a assistir, atacaram os violoncelos com a violência (a aliteração é proprositada) e o fulgor com que outros atacam guitarras, já que eles as dispensam. Pensámos “para mais do mesmo, não, obrigada” para logo engolirmos as palavras. O som dos Alamaailman Vasarat não está mais brando, nem manso, mas, se antes era primo afastado e emigrante do género, é agora primo directo e orgulhoso da música klezmer e da folk de Leste. Está melhor, dizemos nós, que começámos aterrados, entrámos em transe algures a meio e acabámos encantados e com curiosidade para ouvir o disco deste ano.

Lee “Scratch” Perry


É o pai incontornável do dub e o produtor-estrela de tantos e tantos nomes do género e do reggae. Conhecemo-lo melhor atrás da mesa de mistura do que em nome próprio e sabemos também que tem 73 anos (apesar de Repentance, de 2008, se ter revelado uma bela surpresa, sobretudo na colaboração com Chippendale, baterista noise dos Lightning Bolt). Entra em palco vestido de dourado, bolsa a tiracolo – levará ali a ganza?, tem apontamentos das cores da bandeira da Jamaica e grita por Jah. Sim, este é o Lee Scratch Perry que imaginámos. Até que canta. É nesta interpretação que reside a maior desilusão: Perry é uma sombra daquilo que já foi. É ternurento saber que tem idade para ser nosso avô e que o podemos ainda ver assim com vitalidade; mas é ternurento e chega. O resto parte-nos o coração, mesmo quando regressa a War in a Babylon, canção que nos fez ouvir reggae há muitos, muitos anos. Podemos dançar ainda (a banda que o acompanha é boa), mas olhamos em volta: num Castelo totalmente esgotado, asfixiante e sem espaço para dançar ou circular, toda a gente grita por Jah, toda a gente se diverte. Ficamos a achar que o defeito é nosso. Entretanto rebentou o fogo de artifício, mais pequeno que noutras edições, mas sempre marcante. Lembra-nos sempre que Sines está a acabar, outra vez. Já só faltam 357 dias.

Speed Caravan

Bailámos muito e bebemos uma, duas, três, ..., cervejas, em conversa afiada e circular com amigos e desconhecidos. Sines também é isto, afinal. Para o ano há mais!

Texto de Joana Baptista.

1 Comentários:

Às 16/9/09 4:55 da tarde , Blogger worldwide disse...

então e o dia 20 e 21??

 

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