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19.7.09

Tom de Festa 2009 - reportagem dia 4


Depois do especial do passado sábado (que referenciou também o LX Factory), a equipa do Artesanato Sonoro esteve representada num dos dias da edição deste ano do Tom de Festa. Com o habitual ambiente acolhedor e familiar, com abrangência para todas as idades e diferentes tipos de público, este dia 4 (6ª feira, 17 de Julho) contou em termos musicais com um nome incontornável da música portuguesa, Júlio Pereira (que ao final da tarde tinha estado na apresentação de um curioso mapa etno-musical português), e dois projectos africanos bastante diferentes, Bassekou Kouyaté & Ngoni Ba e Kasai Masai. Seguem-se as críticas a estes 3 concertos:

Júlio Pereira


Nunca é demais dizer que Júlio Pereira é um brilhante multi-instrumentista. É daqueles músicos para quem o bandolim (e o cavaquinho e a braguesa e...) parecem verdadeiras extensões do seu corpo, tal a cumplicidade existente entre homem e instrumento. Essa é a premissa essencial de cada concerto do músico (juntamente com o humor sarcástico e a interacção com o público, sempre presentes) e comprova-se na apresentação ao vivo dos temas do último disco, Geografias de 2007, um passo em frente rumo à universalidade da música de Júlio Pereira, com passagens por África e pelo Oriente. Pelo caminho, as versões de temas do Zeca Afonso ("Nefretite não tinha papeira", "Senhor Arcanjo" e "O Meu Primo Convexo", com Rolling Stones pelo meio) soam um pouco a passo em falso. Isto porque os arranjos em toadas quase jazzísticas são um pouco discutíveis e porque nesses temas a voz de Sofia Vitória é afinada e melodiosa, mas falta-lhe um rasgo de alma que leve as músicas para outros patamares de excelência. Ao invés, a interpretação do lindíssimo tradicional transmontano "Molinera" surge com uma importante força rítmica, mas preserva todo o seu sentido emocional e desarmante, antecipando um encore celebratório com "Celtibera", a encerrar a portugalidade deste dia do festival.

Bassekou Kouyate & Ngoni Ba


Todos aqueles que têm acompanhado nos últimos tempos as músicas do Mundo, se têm apercebido minimamente da diversidade, qualidade e riqueza musicais que nos tem chegado do Mali. Bassekou Kouyate é mais um óptimo exemplo dessa realidade e, depois de colaborar com nomes fortíssimos como Ali Farka Toure, Toumani Diabate e Youssou n'Dour, lançou em 2007 o aclamado e premiado disco "Segu Blue". Foi este disco que serviu de base ao concerto, um verdadeiro misto de espiritualidade e festa africanas, na proporção perfeita. Com os seus companheiros Ngnoni Ba (um quarteto de ngoni) e com a ajuda da sua esposa Amy Sacko, Bassekou mostrou todo o poder que o ngoni (um maravilhoso instrumento de cordas africano) e a percussão africana podem ter quando transpostos para o palco. Para além disso, o músico maliano sabe interagir com o público, incentivando-o a acompanhar corporalmente a parte sonora ou dedicando um tema infantil a uma criança que foi dançar para o palco, tudo em doses certas, sem prejudicar o essencial: a qualidade arrebatadora da música. Para o final, um encore irresistível, que pôs muitos, mas muitos, a dançar à frente do palco de modo frenético, rendidos à magia da música africana. Em suma, um dos grandes concertos em solo luso dos últimos tempos.

Kasai Masai

Depois da força e da magia do ngoni, foi a vez da guitarra, do baixo e do saxofone acompanharem a percussão africana no concerto dos congoleses, radicados em Londres, Kasai Masai. Desde logo se pode dizer que Nickens Nkoso, o frontman da banda, é um entertainer, mas isso, no caso, não é uma virtude. A sua constante interacção com o público e o seu excesso de protagonismo assentes em incentivos do tipo"Say yeah" e outros do género, os seus ensinamentos de coreografias e as suas danças, fazem crer que a componente musical do projecto é monocórdica e pouco válida. Algo que não será de todo verdade, destacando-se alguns momentos rítmicos contagiantes (saídos também do djembé de Nickens) e uma presença interessante de travos de saxofone, a dar um toque afro-cubano que poderia ser mais explorado. No fundo, será possivelmente uma segunda linha da música africana, mas ainda assim bem melhor em disco (Congo de 2008) do que nos mostraram nesta sua pobre performance ao vivo.

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